sábado, 12 de abril de 2025

NOS CINEMAS - Mickey 17


Por Isa Barretto

O que define um bom filme?

Pra muita gente, é a história que prende. Pra outros, são os personagens que parecem de verdade. E tem quem se encante com a direção afiada, a fotografia que emociona, ou até aquele final que fica dias na cabeça. Um bom filme é aquele que conecta — com o público, com a emoção, com a própria proposta. E é exatamente aí que 'Mickey 17', novo trabalho de Bong Joon-ho (adaptação do livro homônimo de Edward Ashton), derrapa feio.

Depois do sucesso estrondoso de Parasita, que levou o Oscar e arrebatou plateias no mundo todo, a expectativa era que Bong entregasse mais uma obra com identidade forte, e narrativa inteligente. Mas 'Mickey 17' parece tropeçar na própria ambição.

A premissa até chama atenção: Mickey é um “descartável”, um clone enviado para missões suicidas em um planeta inóspito, renascendo com todas as memórias da versão anterior. A ideia abre espaço para discussões filosóficas e sociais potentes: até onde vai o valor da vida quando podemos simplesmente “repor” alguém? O que define a identidade quando se é substituível? E mais — o que acontece quando um planeta já habitado precisa ser esvaziado para dar lugar à colonização humana? Quem decide quem fica e quem deve ser apagado?

O problema é que o filme levanta essas perguntas, mas não sustenta o debate. As duplicações se acumulam, os conflitos morais são apenas sugeridos, e o roteiro vai se perdendo entre idas e vindas desconexas. Falta amarração, falta ritmo, falta entrega.

Robert Pattinson se esforça para dar vida (ou vidas?) a Mickey, mas a atuação de Mark Ruffalo, por exemplo, parece fora de tom, quase deslocada — como se estivesse em outro filme. A sensação é de que o elenco, assim como o espectador, ficou esperando o momento em que tudo faria sentido. Mas esse momento nunca chega.

'Mickey 17' tem bons questionamentos, uma estética interessante e um diretor renomado por trás. Mas esquece de fazer o principal: contar uma história que envolva. No fim, fica a impressão de que vimos muitas versões de um personagem, mas nenhuma versão de um bom filme.

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