quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Nos Cinemas - TREM-BALA

Por Rafael Morais

Em “Trem-Bala”, Ladybug (Brad Pitt) é um criminoso “azarado”, determinado a fazer seu trabalho pacificamente depois de muitas missões saírem dos trilhos. Quase desistindo de sua carreira, ele é recrutado por Maria Beetle (Sandra Bullock) para coletar uma maleta em um trem-bala indo de Tóquio para Morioka. O destino, no entanto, pode ter outros planos, pois a última missão de Ladybug o coloca em rota de colisão com adversários letais de todo o mundo - todos com objetivos conectados, mas conflitantes. A bordo estão os companheiros assassinos Kimura (Andrew Koji), Príncipe (Joey King), Lobo (Bad Bunny), Vespa (Zazie Beetz), Tangerina (Aaron Jhonson) e Limão (Brian Tyree).  

A nova produção da Sony Pictures é um misto de “Velocidade Máxima”, “John Wick” e “Velozes e Furiosos”. Pegue tudo isso e bata num liquidificador de referências e estilos, sem esquecer a pegada de Pulp Fiction na dinâmica entre a dupla Tangerina e Limão (remetendo a John Travolta e Samuel L. Jackson); e, claro, muita inspiração nos longas de Guy Ritchie, sobretudo “Snatch - Porcos e Diamantes” e “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”. 

Exagerada, a película não poupa o espectador com um segundo de descanso. Corte pra cá, corte pra lá...pancadaria, revelações, violência gráfica e mais ação! O roteiro brinca em conectar cada personagem com a trama através de flashbacks mostrando o passado e o motivo pelo qual cada um foi parar naquele trem. Vingança, sorte e azar são temáticas recorrentes do script. Visualmente, parece que estamos assistindo a uma adaptação de anime em live action.

Para tanto, o cineasta David Leitch se vale de artifícios que envelheceram mal no Cinema, mas que caem como uma luva para filmes do tipo thriller ou de assalto, por exemplo. Os famigerados letreiros pausados para apresentar cada personagem e os seus respectivos codinomes. Tipo, imagine a cena onde um letreiro diz: RAFAEL MORAIS, MAIS UM CRÍTICO DE CINEMA DA INTERNET. Cena pausa - com esse letreiro estampado com cores berrantes em neon, se possível - e um take me mostra digitando esta resenha em um computador (rsrsrs). É assim o tempo todo. Não espere por originalidade aqui. Se desapegue das leis da física e conte com a diversão, isso tem de sobra. 

A trilha sonora, composta por músicas das mais diversas possíveis, é um destaque à parte ao se harmonizar com o impacto visual apresentado na telona. A versão japonesa de Stayin' Alive, do Bee Gees, contagia e nos faz balançar na poltrona. 

Mas o melhor mesmo fica por conta da utilização de todos os elementos da comédia na interação entre os personagens durante essa caótica viagem. O filme não se leva a sério e você também não deve levar. A maioria das piadas funciona demais, enquanto que outras vão se desgastando e surgem deslocadas com o decorrer da projeção.

Brad Pitt ativa o seu timing cômico e comanda o protagonismo com uma performance repleta de energia. O cara começa todo arrumadinho, concentrado e zen, mas lá paras tantas já está ensanguentado, roupa rasgada, cabelos assanhados e nervoso. Hilário e interessante ver o personagem se desconstruir numa entrega corporal tamanha, quase como um chamado para a aventura às avessas ou uma jornada do anti-herói. O gore, por sua vez, corre solto e o sangue jorra com gosto. Isso explica a classificação indicativa ser de 16 anos. 

Entretanto, infelizmente, o filme perde o fôlego (não no sentido de desacelerar, mas de se repetir) a partir da metade do segundo até o desfecho. Àquela altura, eu já queria "saltar daquele trem" a todo custo. É como se estivéssemos rodando no mesmo brinquedo de um parque de diversões e já quisesse parar por estar se sentindo enjoado (a gente é só passageiro prestes a partir). As reviravoltas se tornam previsíveis, as sequências de ação passam a cansar e o humor cai na galhofa. 

Por fim, "Trem-Bala" é um thriller de ação, com uma comédia desbalanceada, que quase não respira ao imprimir um ritmo alucinante à sua montagem. David Leitch (diretor de Deadpool 2) emula Tarantino aqui, Guy Ritchie acolá, entregando um filme divertido e escapista. 

*Avaliação: 4,5 Pipocas + 2,5 Rapaduras = 7,0.

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