Por Rafael Morais
29 de julho de 2017
Na Operação Dínamo,
mais conhecida como a Evacuação de Dunquerque, soldados aliados da Bélgica, do
Império Britânico e da França são rodeados pelo exército alemão e devem ser
resgatados durante uma feroz batalha no início da Segunda Guerra Mundial. Ancorada
nessa premissa, a história acompanha três momentos distintos do mesmo evento:
uma hora de confronto no céu, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa
destruir um avião inimigo; um dia inteiro em alto mar, onde o civil britânico
Dawson (Mark Rylance) leva seu barco de passeio para ajudar a resgatar o
exército de seu país; e uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn
Whitehead) busca escapar a qualquer preço.
Interessante notar como o
diretor Christopher Nolan, também roteirista, arquitetou o seu script já
pensando na espetacular montagem, uma vez que essas três histórias se fundem
organicamente no desfecho. Aliás, espetáculo é o que não falta em “Dunkirk”,
não por tratar a guerra como um, mas pelo show de efeitos práticos que o
cineasta prioriza em detrimento dos digitais. Estamos diante de um cinema puro,
capaz de imergir o espectador na linha de frente do front de batalha, ou no
cockpit de um caça. Tudo isso auxiliado pelo perfeito design e mixagem de som, bem como
pela utilização de específicas câmeras IMAX – e aquelas instaladas na fuselagem
externa dos aviões são geniais e imersivas - projetadas especificamente para
rodar o longa. Por este motivo, recomendo que o filme seja assistido,
prioritariamente, neste formato.
Assim, durante a projeção, roer as unhas e
sentar na ponta da cadeira são reações “normais” diante da tensão crescente que
toma a película de assalto. Observe a formidável trilha sonora do mestre/maestro
Hans Zimmer, parceiro habitual de Nolan: apostando em notas agudas para os
momentos que precedem um ataque, como o uso de violinos distorcidos, por
exemplo, Zimmer traz notas de horror, quase como àquelas encontradas na famosa
sequência do chuveiro em Psicose (Hitchcok), porém aqui a ideia é harmonizar a
crescente tensão do que estamos assistindo (visual), focando na iminência de um
confronto, com o que os nossos ouvidos captam (áudio). Desta
forma, temos mais uma parceria perfeita (senão a melhor) entre o diretor e o
compositor que entregam uma experiência sensorial e audiovisual incrível!
Quanto ao elenco,
todos cumprem o seu papel com exatidão entregando exatamente o que lhes foi
pedido. Aqui, propositalmente, não há um maior desenvolvimento de um ou outro
personagem, não há apenas um herói. A guerra é composta por figuras anônimas e
os heróis estão representados em cada tipo, como por exemplo, quando Dawson, um
senhor de idade que coloca o seu iate à disposição da Marinha, mas faz questão
dele mesmo velejar na tentativa de salvar o exército acuado. Sem contar no jovem e altruísta George, que também coloca a sua vida em risco para salvar os outros. Aliás, neste
sentido, vale ressaltar o fato de Nolan ter optado pelo inimigo sem rosto, onde
jamais nos deparamos, frente a frente, com o outro lado, aumentando mais ainda a angústia por não
sabermos de onde virá o ataque. O mal está onipresente, tal qual a trilha
sonora já citada. E por não optar pelo derramamento de sangue em profusão, ou
mutilação lógica de membros de soldados, o que 99% dos filmes de guerra assim o
fazem, Nolan entende que tais consequências são inerentes a um confronto armado,
se dando ao direito de uma licença poética, para abrir mão da violência gráfica
em detrimento de uma fotografia contemplativa (e estonteante) voltada à
narrativa proposta, onde o suspense e o drama pesam mais do que o terror/gore.
Na verdade, as escolhas do cineasta lembram às de Kubrick em “Glória Feita de Sangue”, quando foca na desilusão e desgraça de uma guerra pela perspectiva dos soldados enquadrados em constantes close-ups, reforçando a sensação de encarceramento. Alguns planos, inclusive, me lembrou o título "Enemy at the Gates/Círculo de Fogo" de Jean-Jacques Annaud, sobretudo na expectativa do embate e do bombardeio.
Sufocante durante os seus 120 minutos, Dunkirk ainda prepara uma montagem arrebatadora para o seu terceiro ato amarrando o desfecho de cada segmento apresentado no primeiro, encerrando com chave de ouro esta obra-prima do melhor filme do ano, até então... ou seria dos últimos anos?
Na verdade, as escolhas do cineasta lembram às de Kubrick em “Glória Feita de Sangue”, quando foca na desilusão e desgraça de uma guerra pela perspectiva dos soldados enquadrados em constantes close-ups, reforçando a sensação de encarceramento. Alguns planos, inclusive, me lembrou o título "Enemy at the Gates/Círculo de Fogo" de Jean-Jacques Annaud, sobretudo na expectativa do embate e do bombardeio.
Sufocante durante os seus 120 minutos, Dunkirk ainda prepara uma montagem arrebatadora para o seu terceiro ato amarrando o desfecho de cada segmento apresentado no primeiro, encerrando com chave de ouro esta obra-prima do melhor filme do ano, até então... ou seria dos últimos anos?
*Avaliação: 5,0
pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10,0.
Já me sinto lá!
ResponderExcluirValeu, Celio! Vc não vai se arrepender.
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