Uma agradável surpresa para o gênero.
Rafael Morais
25 de maio de 2012.
Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), do diretor estreante no cinema Josh Trank (que co-escreveu o roteiro com Max Landis), é um dos casos em que um filme do gênero, costumeiramente contrário a novidades, alcança um resultado surpreendente ao inovar suas regras, superando as expectativas.
A produção em estilo documental amador - câmera na mão - não serve para justificar o baixo orçamento. Aqui, a surpresa vem justamente do fato dessa estética ser uma opção, usada como linguagem narrativa, e não uma camuflagem que encobrirá os defeitos e carências. Perceba as criativas soluções encontradas pelo diretor para justificar todas as tomadas. Quando as imagens não saem das câmeras dos personagens, protagonistas ou coadjuvantes, com certeza de alguma outra câmera - do hospital, de transeuntes com seus celulares ou do posto de gasolina - elas vão ser captadas. O que dá uma incrível verossimilhança ao desenrolar da história.
Na trama, Andrew Detmer (Dane DeHaan), é o típico nerd problemático do colégio, que anda com o seu primo metido a filósofo, Matt (Alex Russell), e o atleta e candidato a presidente do grêmio estudantil, Steve Montgomery (Michael B. Jordan), figuras bem mais populares e boa-praça que ele.
A ação começa quando os três, durante uma rave, encontram um estranho buraco que leva a um artefato subterrâneo, algo meio alienígena. O que acontece lá dentro é um mistério, inclusive, mal desenvolvido pelo roteiro. A partir daí, eles começam a desenvolver poderes telecinéticos, dos quais saem os alívios cômicos do filme. As molecagens dos jovens treinando suas recém-descobertas, são uma boa sacada. Os caras aprontam pegadinhas, jogam e movem objetos e até levantam a saia das meninas... exatamente o que muitos adolescentes fariam se tivessem tal oportunidade. Nesse ínterim, nos perguntamos: Será que com grandes poderes, realmente, vêm grandes responsabilidades? No início, achamos que não, mas, com certeza, mais adiante veremos que sim, o avô do Peter Parker (Homem-Aranha) sempre vai ter razão.
Sem dúvida, uma das melhores sequências da película, é quando Andrew veste o uniforme de bombeiro de seu pai, aflorando o que o seu "velho" tinha de melhor e mais aprovável socialmente, contrapondo a figura do herói, comumente relacionada a essa profissão, e claro, tudo isso ao som de David Bowie - Ziggy Stardust. De raro bom gosto e audácia cada vez mais escassa, o cineasta faz a sua estreia com personalidade, ao tratar temas delicados como bullying, alcoolismo, problemas infanto-juvenis, psicologia adolescente, superego, entre outros. Enfim, está tudo organicamente montado com boas doses de ação e ótimos efeitos especiais.
Poder Sem Limites desafia os limites e as expectativas, ao passo que demonstra que as fórmulas batidas dos "falsos documentários" e das "origens do herói", podem também ser revistas, abrindo horizontes para o gênero.