Estivemos lá e deixamos a nossa ótima impressão sobre o festival.
Rafael Morais11 de maio de 2012.
Depois de assistir e participar, através do júri popular, do XVI FESFORT no Teatro da Praia, constatei algumas verdades inconvenientes: não existe patrocínio/incentivo, seja ele privado ou público, ao teatro cearense; os artistas (atores, comediantes, teatrólogos) da nossa terra não se desmotivam diante dessa realidade, pelo contrário, aquecem o circuito artístico com um sobrefôlego birrento, enfrentando aqueles que lhes sufocam, como a falta de incentivo financeiro e o descaso do poder público (por onde anda a lei de incentivo a cultura?). Enfim, o que pude presenciar foi um ambiente repleto de uma forte energia advinda de cada artista, buscada, rebuscada, não estimulada, teimosa, contra "tudo" e contra "todos".
A arte não pode sucumbir diante do efêmero, da banalidade, do patrocínio, apesar de precisar dele. Aqui vai a minha admiração pelo SESC, pois foi o único que ajudou de forma direta para realização do evento.
Sim, há vida naquele lugar. Existem outras formas de diversão, que não forró, baladas, tchu tchu tchus e tcha tcha tchas. Somos maiores do que isso. O nosso espírito se acalma e se alimenta quando estamos diante da arte; Quando achamos que não entendemos um quadro/obra, por exemplo, é porque a olho nu, o nosso lado físico, palpável, nem sempre capta tudo que está a nossa volta. O implícito é difícil de se enxergar. O cinema, a boa música, assim como o teatro, são formas de lazer indispensáveis à alma. Acredito que o nosso corpo, a nossa "carne", já se cansou de tanta asneira, de tanta superficialidade.
Indignações e desabafos à parte, segue abaixo uma síntese da noite de ontem:
AS COITADAS
O espetáculo retrata o universo feminino sob o prisma de duas palhaças desesperadas por encontrar a felicidade através do casamento.
As desventuras, decepções, invejas e angústias são compartilhadas entre as personagens, duas palhaças fisicamente antagônicas, diferença essa que rende a melhor sequência humorística do esquete, quando as duas disputam e apresentam o que mais lhes favorecem na hora da sedução/conquista. Uma delas esnoba os fartos seios, enquanto que a outra, para não ficar por baixo, realiza uma dança performática, nada sensual, exaltando a sua magreza. Hilário!
Realmente, sabemos que a maioria das mulheres não se arruma para os homens, e sim, para elas próprias, pois, fatalmente, serão julgadas sem direito a contraditório e ampla defesa, por aquilo que vestem ou usam.
Voltando aos palcos, o espetáculo lembra o cinema mudo, no que pese as interjeições verbalizadas, onde os atores representavam por meio de expressões e mímicas, com uma linguagem corporal expressiva, quase circense, e sem diálogos falados. Por fim, "As Coitadas", guarda na ingenuidade e no humor, o seu ponto forte, por meio de um texto simplório e universal.
Um "simples" objeto, um nariz de palhaço, aflora o que o ser tem de mais alegre e radiante no seu íntimo. Essa é a premissa desse esquete, no qual a felicidade desabrocha diante do poder de um objeto tão significativo, que é o nariz de um saltimbanco.
Com ações e expressões milimetricamente sincronizadas, chegando a ser, até certo ponto, caricatas nas suas marcações, a dramatização do ator ao construir um palhaço melancólico que encontra a "felicidade", mostra fielmente a dualidade existente na vida desse artista. Como alegrar o público se me sinto triste? Se o palhaço faz os outros rirem, quem vai lhe fazer rir?
GENI
Inspirada livremente na obra de Chico Buarque - letra e música Geni e o Zepelim - o esquete com o mesmo título "Geni", sem dúvida, foi a grande produção da noite. Com um vasto elenco, cerca de oito atores, todos bem dirigidos, ensaiados e com um figurino a altura do espetáculo, a adaptação teatral deu apenas uma palhinha - cerca de 20 minutos - de algo bem mais construído que é a sua peça completa.
A história narra a trajetória de Geni, uma prostituta, "mulher" da vida, transformista/travesti, que vive às voltas com a sociedade/comunidade. Alvo de zombaria, discriminação e preconceito, ela, ao passo que é "apedrejada" é também acalentada, pela mesma sociedade hipócrita. A mão que pune é a mesma que acaricia. Perceba que até a freira, representando a religião, de uma maneira geral, é tentada pela luxúria do prazer carnal, oferecida pela meretriz. Um retrato fiel e contemporâneo da nossa realidade.
ONDE ESTÁ O AMOR?
O único monólogo da noite, "Onde está o amor?" fala sobre uma utopia: Amar todos os dias. Desde o início, já percebemos, pelo texto, a angústia de seu personagem principal, um sujeito que quer amar sem sofrer, que pretende sentir o amor sem se entregar. Repleto de poemas, poesias, e belas trilhas sonoras, o esquete foi marcado pela boa atuação do ator solista, bem como por sua emoção ao final da apresentação. Um brinde ao talento e um "soco no estômago" à falta de apoio aos artistas cearenses.
PERFEITO!!!!!!!!!
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