quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Nos Cinemas - OS REJEITADOS

                                 

Por Rafael Morais

Nova “dramédia” de Alexander Payne é um filme de natal diferente das galhofas do gênero que você encontra facilmente ao remexer os streamings da vida.

A trama segue a desventura de um professor mal-humorado (vivido pelo excepcional Paul Giamatti) de uma prestigiada escola americana, forçado a permanecer no campus para cuidar do grupo de alunos que não tem para onde ir durante as festas de fim de ano. Assim, o mestre carrasco acaba criando um vínculo improvável com um deles – um encrenqueiro magoado e muito inteligente – e com a cozinheira-chefe da escola, que acaba de perder um filho no Vietnã.

Logo de início, é fácil constatar a semelhança, quase homenagem, de Payne à filmografia de John Hughes, sobretudo ‘Clube dos Cinco’. A familiarização fica notória quando vemos uma turma de adolescentes (e no início são justamente cinco) tendo que ficar mais tempo do que o esperado na escola, cada um com os seus motivos e personalidades diferentes.

Claro que essa aparência com as fitas de Hughes logo se dissipa quando o filme começa a deixar claro sobre o que quer falar. Inspirado em ‘Merlusse’, longa francês dirigido por Marcel Pagnol em 1935, ‘The Holdovers’ (traduzido aqui como ‘Os Rejeitados’) está mais preocupado no estudo dos seus personagens e entender o motivo pelo qual cada um está naquele estado de espírito, do que propriamente com a comédia casual ou situações inusitadas de jovens dentro de uma escola/internato. Aqui, a ironia vence a gag.

Emocionante, e com arcos narrativos bem delineados, o filme acerta na construção de amizades improváveis e na desconstrução das crenças dos seus personagens. Paul Giamatti brilha demais ao entregar a alma de sua persona ao espectador. Complexo, o professor, de cara, causa ranço, mas aos poucos baixa a guarda e traz humanidade. Tomado pelo tom de cinza, sem espaço para o maniqueísmo, o filme aborda uma “simbiose” entre mentor e aprendiz para falar sobre os relacionamentos entre pais e filhos: sejam aqueles negligenciados ou doloridos pela perda.

A empatia, elemento habitual dos filmes de Payne, aqui ganha um charme diferente ao abordar a relação de admiração e poder entre mestre e pupilo. E quanto um professor pode ser importante, de diversas maneiras, na vida de um aluno. O longa parece querer “colar” os relacionamentos quebrados e isso traz um aconchego ao público. Ao final, ‘Os Remanescentes’ (caso fosse traduzido literalmente) é sobre bondade (em tempos de cólera), amparo e maturidade. É um grupo que remanesce/sobrevive às intempéries da vida e entende que o fardo pode ser mais aliviado ao conhecer melhor quem está no “mesmo barco” que o seu.

A reunião de um professor “caxias”, quase amargurado (e ele tem lá seus motivos); um aluno dono de um olhar perdido, que pede ajuda de diversas maneiras, deixado de lado pela família (justo no natal) – e a cena em que ele remexe um globinho de neve simboliza bem a confusão mental de sua autoestima e dos seus sentimentos - e uma mãe que perdeu um filho recentemente, demonstra que todos eles têm mais em comum do que se imagina.

Avaliação: 3,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 8,0.


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