segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Dica de Streaming [Star Plus e Prime Video] - AD ASTRA: RUMO ÀS ESTRELAS


Por Rafael Morais

Brad Pitt vive o astronauta Roy McBride, um sujeito compenetrado no que faz, mas que tem pela frente a missão mais difícil de sua vida: ir aos confins do universo em busca de respostas e do paradeiro de seu pai desaparecido, Clifford McBride (Tommy Lee Jones) - um cientista renegado que pode representar uma ameaça à humanidade.

Em que pese esta premissa soar pretensiosa demais, o roteiro de Ethan Groos, em parceria com o também diretor James Gray (do ótimo "Z: A Cidade Perdida"), trata logo de colocar os personagens e as situações devidamente com os "pés no chão". Dono de um visual arrebatador, estamos diante de um drama, em essência, envolto numa roupagem de ficção científica, não se engane. As respostas mais complicadas para questões envolvendo a viabilidade da viagem espacial, a física, não são respondidas, e nem é o foco aqui. O turismo espacial já é uma realidade, e ponto. Não importa o desgaste devido aos enormes deslocamentos, a alimentação, o preparo físico (a não ser o psicológico, que ganha importância na trama), tampouco o peso da idade. Nada disso tem vez em Ad Astra.

Existencialista, o filme faz inúmeros questionamentos inerentes ao ser humano, como a obsessão pelo conhecimento, pelo desbravamento, o preço que se paga pelas escolhas, o misto de frustração e orgulho por detrás de um projeto de vida que "não deu certo"; enfim, as consequências desaguarão num desfecho mais intimista do que se imaginava, mas não menos belo.

Assim, a divisão dos atos em “Ad Astra” é bem delineada. Enquanto o primeiro desenvolve o conflito e nos aproxima do protagonista, onde enxergamos tudo pela sua perspectiva; o segundo flerta com filmes como Gravidade (Alfonso Cuarón, 2013) e Interestelar (Christopher Nolan, 2014), chegando a surpreender o espectador ao entregar momentos de tensão e até ação.

Mas é no derradeiro ato que o longa referencia Solaris (Andrei Tarkovski, 1971) ao focar na solidão do "herói" frente à imensidão da galáxia. A poeira do universo é palpável, literalmente, rumo a uma jornada introspectiva. Neste sentido, a trilha sonora de Max Ritcher se harmoniza com a proposta da obra ao arranjar melodias com tons épicos, mesclando notas melancólicas. Um trabalho musical que se aproxima do mestre Hans Zimmer.

E é justamente por ser contemplativo que o filme vem sendo trucidado por muitos. "Barrigada", "chato", "entediante" são alguns dos adjetivos. Na verdade, o ritmo mais arrastado, no último terço, é proposital e condizente com a realidade. A decupagem menos dinâmica se coaduna com a digressão presenciada em tela. Perceba que o protagonista terá que percorrer, por exemplo, setenta e nove dias entre alguns trechos. Se isso passasse num estalar de dedos não sentiríamos o impacto. O público é testemunha da peregrinação do astronauta com um propósito muito mais pessoal do que altruísta.

Por fim, o fato é que não nutrir expectativa alguma por um filme, muito menos não assistir a um trailer sequer (que foi o meu caso) pode tornar a obra uma grata surpresa!

*Avaliação: 3,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 8,0.


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