Uma sátira à sociedade de consumo que vive de aparências.
Patrick Batman Bateman (Christian
Bale) é um jovem acima de qualquer suspeita. Bonito, rico, bem vestido e
educado, o executivo disfarça, até certo ponto, uma mente doentia que o
atormenta. Mas como alguém poderia imaginar que aquela figura
"engomadinha" seria um serial killer pronto para explodir,
se o que importa é a embalagem e não o conteúdo? Como uma sociedade alienada e
"viciada" identifica um comportamento estranho, mesmo
que ele seja óbvio e notório, se quem o pratica é uma
figura bem sucedida que frequenta as altas rodas da high society? Essas são as questões propostas pelo filme baseado no livro
homônimo de Bret Easton Ellis, clássico da
literatura estadunidense.
"Eu tenho todas as características de um ser humano. Mas nenhuma única emoção identificável, exceto ganância e aversão", revela Bateman em uma de suas autoconfissões. Até então, o nosso protagonista tenta segurar a máscara que está prestes a cair, travando diálogos internos recheados de humor negro. Aliás, esse tipo de humor, como elemento narrativo, acrescenta sobremaneira à história. "Eu assisti com minha mãe, ela estava chorando de tanto rir! Que alívio!", disse Christian Bale. Ufa!
Contudo, o filme não escapou da censura imposta
pela Motion Picture Association of America - órgão que
rege a classificação indicativa dos filmes por lá. A cena de ménage à
trois do “assassino” (pra lá de narcisista) com duas prostitutas foi
demais para eles. Interessante é que tal sequência é muito mais engraçada
do que picante. Violência pode, mas sexo é inconcebível!
Controvérsias à parte, não menos recorrente é a
obsessão doentia de Bateman em relação ao status de
quem o cerca. Perceba que ele passa mal, suando frio, de tamanha inveja que sente
dos cartões de visita (um mais bonito e luxuoso que o outro) de seus colegas de
trabalho.
Relevante perceber o capricho da direção de arte ao contrapor os objetos
propostos em cena. Se por um lado temos facões,
machados, revólveres, serra elétrica e até disparador de pregos; o outro lado
da mesma moeda traz cremes esfoliantes, bronzeamentos artificiais e ternos da
alta costura. A
direção de Mary Harron cumpriu bem a missão de capturar a essência do livro.
Diante desse cenário, não se sinta culpado se você começar a rir em cenas como a que o jovem e ocioso executivo, despido de remorso, faz um memorável discurso tentando justificar a carreira solo de Phil Collins, enquanto uma pobre mortal aguarda inocentemente no sofá para ser a próxima vítima.
A propósito, a trilha
sonora é um show à parte. Os hits dos anos 80 ambientam fielmente cada
cena, demonstrando a fase walkman. A partir de então, a
individualização do homem moderno foi inevitável, uma vez que poderia
ouvir o que queria, só pra ele, sem compartilhar com ninguém, vivendo e
interagindo em seu próprio mundo. Perceba que, desde então, tornou-se moda
personalizar tudo. As coisas passaram a ter a "cara" do seu dono. E
para os antissociais, essa “bolha” se tornou uma desculpa ideal para continuar
alheio e apático a tudo e a todos ao seu redor.
Enfim, Psicopata
Americano é um horror psicológico sarcástico que subverte o ideal do american dream ao dilacerar
esse conceito à base de muita ironia.
*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.