Por Rafael Morais
22 de janeiro de 2018
O cineasta brasileiro Carlos Saldanha repete a
fórmula de sucesso de sua franquia "A Era do Gelo", quando apresenta
personagens carismáticos (aqui o esquilo é trocado por uma abelhinha que volta
e meia dar o ar da graça) envoltos em situações extremas para debater, mesmo
que superficialmente, assuntos delicados como a aceitação da família/sociedade diante do
diferente, estigma social e estereótipo. Mas como afirmei: tudo não passa de
uma pitada, sem jamais adentrar nestas questões e abordar suas consequências,
diferente da Pixar, por exemplo.
No longa, o ainda bezerro Ferdinando, dono de um
temperamento pacífico e amoroso, reside com o seu pai na “Casa del Toro”,
rancho responsável pela criação de gado. Neste local, quando chegam à fase
adulta, restam duas opções para os animais: lutar nas tradicionais touradas de
Madri, ou ir direto para o abate. Isto é: alimentar a diversão dos espectadores
ou, literalmente, os seus pratos. E aí está o conflito do protagonista: ser ou
não ser o que se espera dele. No entanto, para contar essa história, o diretor
não inova na receita e peca no ritmo, não conseguindo uma melhor adequação na
divisão dos três atos, arrastando demasiadamente os dois primeiros com cenas
lentas, que parecem não avançar a jornada, diálogos deslocados e excesso de melancolia
um tanto quanto forçada. O ritmo é sofrível e pode relaxar o público até
demais, como aconteceu comigo (ZzZzZzZzZz).
Cochiladas à parte, a animação do estúdio Blue Sky dar
a impressão de não ter progredido tanto visualmente, o que pode ser percebido
na atenção voltada à construção do protagonista e antagonista, em contraponto
ao trivial com relação aos coadjuvantes. Enquanto o Touro Ferdinando recebeu
total cuidado dos animadores na expressão corporal e facial, com um grau de dificuldade
aumentado diretamente proporcional ao seu enorme tamanho, os outros não guardam
tanto apuro técnico e são menos expressivos. Com exceção do toureiro “El
Primeiro”. O sujeito, que chega mais perto de ser o vilão do filme, é
impecavelmente construído em detalhes que vão desde o seu corpo esguio,
passando pelos trejeitos característicos, até os movimentos que realiza lembram
sempre os de uma tourada.
Recheada por músicas animadas, que tentam empolgar os baixinhos e acordar os grandinhos, a película ganha força no seu terceiro ato quando a trupe
de amigos de Ferdinando, liderada por uma cabra hilária (Lupe), tenta o ajudar
a se livrar do seu destino cruel. Destaque também para o Frankenstein dos
touros: um bicho criado em laboratório, segundo Lupe, reservando as sequências
mais engraçadas.
Assim, "O Touro Ferdinando" é divertido, leve e
totalmente voltado ao público infantil, visto que não conseguiu mesclar bem um
roteiro com piadas, emoções e mensagens que poderiam alcançar também os adultos, sem
prejuízo da narrativa.
*Avaliação: 3,0 pipocas
+ 3,0 rapaduras = nota 6,0.