Por Rafael Morais
09 de setembro de 2017
Um grupo de jovens é atormentado por uma entidade maligna, representada
por diversas formas, guardando na figura do palhaço dançarino Pennywise a sua
principal representação. Ancorado nesta premissa, este remake de "Uma
obra-prima do medo", de 1990, se revela necessário tanto pelas questões
técnicas (efeitos visuais aperfeiçoados, maquiagem caprichada e direção de arte
impecável) quanto pelo valioso subtexto abordado, tão em voga atualmente: o
bullying sofrido pelos heróis e a representatividade das minorias, através das
diferentes raças, credos e culturas do clube dos "perdedores".
Na verdade, o roteiro escrito por Gary Dauberman, Chase Palmer e Cary Fukunaga
conseguiu captar o espírito do livro de Stephen King ao estabelecer uma
química entre os membros do grupo ao passo que expõe, gradualmente, as
limitações e problemáticas de cada um. Repleto de alegorias sobre a difícil
fase “mutante” que é a adolescência, o filme, de maneira proposital, desfoca a visão
do adulto como um ser implacável com as suas crianças, além de alienados ao que
está acontecendo à sua volta. E aqui, o cinema sob o ponto de vista freudiano
pesa a mão nas relações pais e filhos. O universo em "It - A Coisa" é
focado exclusivamente sob a perspectiva do universo infanto-juvenil, em que
pese a atmosfera de terror que toma a película.
Assim, o diretor Andy Muschietti captura cenas icônicas de uma juventude em constante transformação por
meio de tomadas que evocam a amizade, os desafios e a maturidade precoce.
Lembrando "Conta Comigo", também de King, neste aspecto - quando
caminham pela floresta, andam de bicicleta pelas ruas e tramam planos
mirabolantes - o cineasta tem ótimas e certeiras referências. E "A Hora do
Pesadelo" de Wes Craven também é uma delas. Perceba o tom onírico das
sequências de assombração que remetem àquelas situações em que Freddy Krueger
escolhia sua presa, sempre solitária e indefesa. Contudo, se lá soava orgânico
o fato da vítima estar dormindo, e, portanto, havia uma lógica para o pesadelo
ser um evento individual e descolado da realidade; aqui em "It" cada
sequência de terror parece um videoclipe à parte, o que não ajuda na construção
do todo, na misancene, podendo transparecer um viés episódico ao longa, coisa
que o cinema evita a todo custo.
Isso também acontece graças ao terror estilosamente gráfico. Esqueça o
medo psicológico ou intimista, aqui o gore rola solto e o monstro apresenta
suas garras, literalmente. O suspense não andou lado a lado com o terror,
aniquilando a preparação para o “sentir medo”. E por falar em medo, como a
entidade nefasta se alimenta dele, é curioso notarmos a inventividade da direção
de arte em criar lugares e figuras macabras para cada tipo de situação.
Esgotos, escolas, quartos e porões fazem parte do imaginário popular, dos
contos sombrios, fato não esquecido pelo script, muito menos pelo olhar apurado
do diretor. Neste sentido, adaptando-se individualmente a cada tipo de fobia,
variando de acordo com o personagem, chove criatividade em tela, como por
exemplo: o leproso que assombra uma criança hipocondríaca; os traumas de uma tragédia
do passado que voltam à tona no presente; o ciclo menstrual de uma garota
entrando na puberdade (e a cena do banheiro é uma das minhas favoritas)
que enfrenta o preconceito da sociedade dentro e fora de casa, apenas por ser
mulher; e claro, o medo de palhaço. E assim chegamos a Pennywise.
Interpretado com maestria por Bill Skargard, o palhaço é freaky na
medida, além de carregar nas expressões corporais e faciais um trunfo para a
composição perfeita de um ser macabro. Entregando doçura para atrair uma
criança e insanidade para fazê-la sentir medo, no mesmo quadro, como uma
entidade sempre prestes a explodir, Pennywise parece estar onipresente tanto
fisicamente, quanto em cada ato eivado de maldade. Note o balãozinho vermelho
(a cor do perigo) que passeia perto de um personagem que acabara de praticar o
mal ou omitir uma ajuda, como na sequência em que uma criança obesa é
gravemente agredida por seus perseguidores, fato presenciado por um casal de
senhores que passa de carro no momento e nada faz para ajudar a indefesa
vítima. Desta forma, o símbolo surge no banco de trás do carro indicando que a
figura de um clow é apenas uma das formas de malignidade.
O elenco mirim, por sua vez, é carismático e talentoso ao ponto de
Amblin nenhuma botar defeito. E quando me refiro à empresa responsável por um
dos melhores filmes de aventura dos anos 80 não é à toa. O filme nos mergulha
nesta época, flertando com o jeitão datado de um cine trash ou sessão da tarde
(“Os Goonies” estão ali), ocasião em que a nostalgia nos pega de jeito. Spielberg
que o diga...
Divertido mais do que aterrorizante, o longa deixa um gostinho de quero
mais, muito embora tenha duas horas e quinze minutos de duração. De tal modo,
até a fotografia solar explicita o tom aventuresco em detrimento do terror, uma
vez que a maioria das cenas se passa à luz do sol, durante o verão, sem se
preocupar com a mudança para uma possível paleta mais dark ou ambientes
escuros.
Enfim, preparando terreno para a vindoura parte II (e espero que não se
passe mais 27 anos, apesar desta data ser uma referência direta aos
acontecimentos do filme), o desfecho amarra as pontas soltas, se é que tinha
alguma, e cria expectativa para o que pode vir no futuro, uma vez que o medo
não é privilégio apenas de crianças, muito pelo contrário. E você, tem medo de
quê?
*Avaliação: 5,0 pipocas + 4,0 rapaduras = nota 9,0
Desde que eu vi o trailer eu fiquei animada para ver. A verdade superou as minhas expectativas. Eu sempre segui os trabalhos de Stephen King e acho que o livro da Coisa é um dos melhores dele. Penso que no ano passado houve boas adaptações cinematográficas de sua obra. Se vocês são amantes dos filmes dele, o filme A Torre Negra é outro dos filmes que não devem deixar de ver. Estrenou no ano passado também. É um dos melhores filmes de ação , tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver, mas é muito bom. Se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo.
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