sexta-feira, 4 de agosto de 2017

NOS CINEMAS - Planeta dos Macacos: A Guerra


Por Rafael Morais
04 de agosto de 2017]

O reboot da franquia Planeta dos Macacos iniciado em 2011 com "A Origem", passando por "O Confronto" em 2014, chegou ao fim com esse "A Guerra" de forma épica. Não pela escala do embate entre humanos e símios, como o subtítulo faz alusão, já que esta foi relegada geograficamente a uma barragem e uma ponte, locais que acontecem os principais conflitos armados, mas, sobretudo pelo contexto filosófico-existencial, e subtexto mais ainda, bem como pela maneira com que os personagens continuam sendo desenvolvidos para fora de sua zona de conforto. Ao final, todos terminam diferentes de um modo ou de outro, em relação ao início da jornada.

Neste terceiro e derradeiro capítulo, humanos e macacos cruzam os caminhos novamente. César (o fabuloso Andy Serkis) e seu grupo são forçados a entrar em uma guerra contra um exército de soldados liderados por um impiedoso coronel (Woody Harrelson). Depois que vários macacos perdem suas vidas no conflito e outros são capturados, César luta contra seus instintos e parte em busca de vingança. Diferente dos primeiros, César, líder pacifista, até então, é tomado pela cegueira da vingança, devido aos acontecimentos trágicos que acontecem logo no primeiro ato. Aliás, o encontro inicial entre ele e o coronel é anticlimático, do ponto de vista de preparação, mas, belamente fotografado.

Estamos diante de um filme preocupado com os bastidores de uma guerra que se aproxima, onde humanos e bichos, (e há alguma diferença entre eles?) não conseguem mais coexistir, tudo ressaltado pelos poderosos diálogos que auxiliam na construção dessa atmosfera cinzenta, nublada e desesperançosa, tal qual a paleta utilizada assim são também os personagens. Perceba que não há preto no branco, o maniqueísmo anda longe da franquia, enfatizado neste último capítulo. O vilão, que poderia ser uma caricatura ou imitação de Marlon Brando em Apocalipse Now - revelado pelo próprio Harrelson como uma homenagem a este ícone – acaba se tornando tridimensional ao ponto de entendermos os seus dilemas e motivações.

Com a mesma intensidade, Andy Serkis constrói um César, agora e cada vez mais articulado, capaz de lidar com as difíceis decisões dignas de um líder nato, carregando nas expressões faciais e corporais o seu trunfo. Não à toa o ator se especializou na performance/motion capture com o passar dos anos (Gollum do Senhor dos Anéis e Godzilla são alguns exemplos). Fantástico, o CGI evoluiu com a saga preenchendo a telona com tamanha realidade que deixa o espectador boquiaberto, ao tempo em que nos faz procurar onde está a computação gráfica por detrás daquele encantamento. A interação entre os macacos e os humanos soa tão orgânica ao ponto de não parecer efeito visual digital.

Não menos magnífica, a trilha sonora de Michael Giacchino oscila, harmonicamente, entre o clássico nos momentos de tensão e drama, ressaltando os tambores para os iminentes conflitos, e a diegese de acordes que lembram fitas de faroeste; passeando pelo lúdico quando o alívio cômico entra em ação. Sim, a presença do carismático e divertido macaquinho “Bad Ape”, capturado por Steve Zahn, torna a sessão um pouco mais leve, acertadamente, uma vez que a tensão e a carga dramática estão no talo.

E para não dizer que o filme é perfeito, além do anticlímax já citado, temos um terceiro ato forçado no que diz respeito à resolução do grande problema que o protagonista tinha que resolver. Utilizando-se de uma muleta no roteiro, chamada tecnicamente de “Deus Ex Machina” (situação resolvida por uma força natural ou sobrenatural capaz de por fim a um conflito quase impossível de se resolver ou que nem os roteiristas sabiam como), consegue-se uma solução das mais fáceis, narrativamente, para os idealizadores do que propriamente para o público engolir.  

Contudo, felizmente, o diretor Matt Reeves se sobressai na utilização de belíssimos enquadramentos, deslumbrantes plongée’s nas batalhas, close-ups nos rostos dos personagens, todos repletos de expressões marcadas pelo sofrimento, sem esquecer o uso da profundidade de campo para explorar os cenários (ponto para a caprichada direção de arte), demonstrando um repertório vasto para os seus trabalhos vindouros. E que venha o seu filme solo do Batman!

*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0.

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