Por Rafael Morais
04 de agosto de 2017]
O reboot da franquia Planeta dos Macacos iniciado em 2011 com
"A Origem", passando por "O Confronto" em 2014, chegou ao
fim com esse "A Guerra" de forma épica. Não pela escala do embate
entre humanos e símios, como o subtítulo faz alusão, já que esta foi relegada geograficamente
a uma barragem e uma ponte, locais que acontecem os principais conflitos
armados, mas, sobretudo pelo contexto filosófico-existencial, e subtexto mais
ainda, bem como pela maneira com que os personagens continuam sendo
desenvolvidos para fora de sua zona de conforto. Ao final, todos terminam
diferentes de um modo ou de outro, em relação ao início da jornada.
Neste terceiro e derradeiro capítulo, humanos e macacos
cruzam os caminhos novamente. César (o fabuloso Andy Serkis) e seu grupo são
forçados a entrar em uma guerra contra um exército de soldados liderados por um
impiedoso coronel (Woody Harrelson). Depois que vários macacos perdem suas
vidas no conflito e outros são capturados, César luta contra seus instintos e
parte em busca de vingança. Diferente dos primeiros, César, líder pacifista,
até então, é tomado pela cegueira da vingança, devido aos acontecimentos
trágicos que acontecem logo no primeiro ato. Aliás, o encontro inicial entre
ele e o coronel é anticlimático, do ponto de vista de preparação, mas, belamente
fotografado.
Estamos diante de um filme preocupado com os bastidores de
uma guerra que se aproxima, onde humanos e bichos, (e há alguma diferença entre
eles?) não conseguem mais coexistir, tudo ressaltado pelos poderosos diálogos
que auxiliam na construção dessa atmosfera cinzenta, nublada e desesperançosa,
tal qual a paleta utilizada assim são também os personagens. Perceba que não há
preto no branco, o maniqueísmo anda longe da franquia, enfatizado neste último
capítulo. O vilão, que poderia ser uma caricatura ou imitação de Marlon Brando
em Apocalipse Now - revelado pelo próprio Harrelson
como uma homenagem a este ícone – acaba se tornando tridimensional ao ponto de
entendermos os seus dilemas e motivações.
Com
a mesma intensidade, Andy Serkis constrói um César, agora e cada vez mais
articulado, capaz de lidar com as difíceis decisões dignas de um líder nato,
carregando nas expressões faciais e corporais o seu trunfo. Não à toa o ator se
especializou na performance/motion capture com o passar dos anos (Gollum do
Senhor dos Anéis e Godzilla são alguns exemplos). Fantástico, o CGI evoluiu com
a saga preenchendo a telona com tamanha realidade que deixa o espectador boquiaberto,
ao tempo em que nos faz procurar onde está a computação gráfica por detrás
daquele encantamento. A interação entre os macacos e os humanos soa tão
orgânica ao ponto de não parecer efeito visual digital.
Não
menos magnífica, a trilha sonora de Michael Giacchino oscila, harmonicamente, entre o clássico nos momentos de tensão e drama,
ressaltando os tambores para os iminentes conflitos, e a diegese de acordes que
lembram fitas de faroeste; passeando pelo lúdico quando o alívio cômico entra
em ação. Sim, a presença do carismático e divertido macaquinho “Bad Ape”,
capturado por Steve Zahn, torna a sessão um pouco mais leve, acertadamente, uma
vez que a tensão e a carga dramática estão no talo.
E para
não dizer que o filme é perfeito, além do anticlímax já citado, temos um
terceiro ato forçado no que diz respeito à resolução do grande problema que o
protagonista tinha que resolver. Utilizando-se de uma muleta no roteiro, chamada
tecnicamente de “Deus Ex Machina” (situação resolvida por uma força natural ou
sobrenatural capaz de por fim a um conflito quase impossível de se resolver ou
que nem os roteiristas sabiam como), consegue-se uma solução das mais fáceis,
narrativamente, para os idealizadores do que propriamente para o público
engolir.
Contudo,
felizmente, o diretor Matt Reeves se sobressai na utilização de belíssimos
enquadramentos, deslumbrantes plongée’s nas batalhas, close-ups nos rostos dos
personagens, todos repletos de expressões marcadas pelo sofrimento, sem
esquecer o uso da profundidade de campo para explorar os cenários (ponto para a
caprichada direção de arte), demonstrando um repertório vasto para os seus
trabalhos vindouros. E que venha o seu filme solo do Batman!
*Avaliação:
4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0.