Por Rafael Morais
12 de junho de 2016
Dirigido
e co-roteirizado pelo promissor cineasta Duncan Jones (diretor dos excelentes
"Lunar" e "Contra o Tempo"), "Warcraft - O Primeiro Encontro
de Dois Mundos" adapta o famoso game da Blizzard, expandindo a mitologia
através de um universo fantástico. A história se inicia com uma caprichada
apresentação do mundo dos Orcs, oportunidade em que conhecemos Durotan (Toby Kebbell) e o conflito que carrega sua
família. Por meio de um portal aberto pelo mago Gul’dan (Daniel Wu), a horda pretende invadir o mundo dos humanos, uma
vez que a sua terra, impróspera, não lhe fornece mais a subsistência.
Assim, a
técnica utilizada para humanizar estes seres horrendos é impressionante: repare
no olhar preocupado de Durotan enquanto conversa com a sua esposa grávida, para
pouco depois sorrirem juntos, deitados um ao lado do outro, demonstrando a
compassividade do casal, ao tempo em que aproxima o espectador dos Orcs. Pena
que a mesma química não acontece com os humanos. Ponto negativo para a escolha
do elenco: um Ben Foster ultra overacting como o Guardião Medivh, seguido de
seu pupilo a mago Khadgar (Bem Schnetzer), um jovem ator caricato; Paula Patton apática,
como de costume, interpretando a mestiça Garona; um rei nada carismático na
pele de Dominic Cooper, atuando no automático, sobrando o guerreiro Lothar,
fiel escudeiro do rei, vivido pelo ator da série “Vikings”, Travis Fimmel, que
não consegue se desvencilhar da frieza de um soldado, faltando expressão e
empatia mesmo nas horas dramáticas. Tanto é assim que o espectador tende a não
se importar com as relações humanas do filme, sendo muito mais interessante o
núcleo dos Orcs, o que nos faz torcer pela invasão, sem prejuízo das
atrocidades cometidas.
Tentando ser um épico de fantasia, tal qual "Senhor
dos Anéis", como analogia direta, “Warcraft” peca na ambientação
escolhida, errando a mão na fotografia super colorida, alegre, em contraponto
ao tom sombrio, dessaturado, mergulhado numa paleta acinzentada, apresentado na
memorável trilogia de Peter Jackson. Claro que as referências ao jogo estão bem
presentes na película, e quando a câmera passeia pelos campos, seja mostrando
os personagens em miniatura guerreando ou construindo, em evocativas tomadas
aéreas, a nostalgia do game, que, inclusive, joguei bastante na minha
adolescência, sobretudo o episódio II, nos toma de assalto e o sorriso no canto
da boca é inevitável.
O roteiro, por sua vez, não sai da superficialidade,
entregando mais diversão, o que não é ruim, do que propriamente um drama-épico.
O que nos faz lembrar, irremediavelmente, daquela fracassada adaptação de
Dungeons & Dragons (produção do ano 2000) para os cinemas, com Jeremy Irons
no elenco. Lembram?! Pois é, no entanto, os efeitos visuais aqui são
arrebatadores! A captura de movimento parece cada vez mais aprimorada, o que
nos faz perceber que há um ator por detrás daquele CGI. Os movimentos lentos e
pesados dos Orcs surgem apropriados dado o tamanho dos bichos. No IMAX, por
exemplo, durante uma cena em que Durotan tira a blusa/vestimenta para lutar
(uma das melhores do filme) a projeção, neste formato, nos entrega a dimensão do
sujeito, quando a largura de suas costas toma toda a extensão da tela, o que não é pouco.
Aliás, como já falei, na medida em que conhecemos mais o universo dos humanos,
menos nos importamos com estes. Por outro lado, o vilão, que detém o poder da
"vileza" (nome bastante sugestivo, por sinal rsrs), é aterrorizante!
O poder de absorver a alma de seus condenados deixa Gul’dan (ou seria Shang Tsung? rsrs)
sempre ameaçador, ao ponto de, em certo momento, enquanto conversa com um
subordinado, sugar lentamente o espectro de outro.
No geral, Warcraft pode
agradar os fãs da franquia sem esquecer o público leigo. E caso haja o segundo encontro
entre os dois mundos, que foquem mais no da turma verde, pois, apesar de sua
construção artificial, acabam soando mais reais e complexos do que os de carne
e osso.
*Avaliação:
3,5 pipocas + 3,5 rapaduras = nota 7,0.