quinta-feira, 16 de junho de 2016

NOS CINEMAS: Invocação do Mal 2

Por Rafael Morais
16 de junho de 2016

Seguindo à risca a estrutura do antecessor, sucesso de público e crítica, este “Invocação do Mal 2” chega como um suspiro às produções comerciais (leia-se: blockbuster) de horror norte americana. E o responsável direto por esta fórmula “mágica” é o jovem cineasta chamado James Wan. O atual “Midas de Hollywood”, já que tudo em que toca vira ouro, Wan tem em seu currículo filmes com orçamentos modestos que renderam bastante dinheiro, tais como: “Jogos Mortais” (o primeiro) e “Sobrenatural”, por exemplo. Além de franquias que ganharam mais força em suas mãos: lembre-se do que ele fez com a bilheteria de “Velozes e Furiosos 7”, que chegou à cifra do bilhão. 

O fato é que o diretor sabe lidar com os diversos tipos de gêneros - veremos o que ele irá aprontar com o filme do “Aquaman” da DC/Warner - demonstrando entender a linguagem certa para cada um. No terror, o idealizador brinca com as convenções do gênero, passeando com a sua inquieta, e, não menos, curiosa câmera por toda a extensão do set, através de evocativos planos sequência. Neste novo capítulo, com o retorno do casal Ed e Lorraine Warren, que continua na pele dos atores Patrick Wilson (e a sua canastrice habitual combina com o personagem) e Vera Farmiga, o argumento ganha adição de camadas, já que os conhecemos cada vez mais em sua intimidade. Mérito para a química do elenco, capaz de segurar a agora franquia “The Conjuring”. Ou você duvida que outros spin off’s (derivados) virão, tal qual “Annabelle”, para explicar a origem do “homem torto” ou da “freira macabra”, apresentados aqui? 

Contudo, a história deste episódio, baseada em fatos, se passa na Londres de 1977, quando o casal Warren é chamado para investigar a humilde família Hodgson, constituída por uma mãe - abandonada pelo marido – e seus quatro filhos. Neste contexto, Janet (Madison Wolfe), a filha do meio, é atormentada por fenômenos sobrenaturais do mesmo tipo daqueles vistos em diversos exemplares: camas sacodem, lençóis são puxados durante a noite, móveis se mexem sozinhos, entre outros eventos paranormais. Destaque aqui para a meticulosa direção de arte, juntamente com as escolhas das canções (“The Beatles” e “Elvis Presley” surgem apropriados), preocupados em ambientar o espectador à época sugerida. Repare o quarto das meninas com os pôsteres dos ídolos musicais; a composição do cenário, a casa assombrada, propriamente dita, revelando uma sujeira nos cômodos, condizente com o clima fantasmagórico que lhe arrodeia; até mesmo o figurino utilizado pelas crianças remete ao inocente, porém, perigoso: a cor vermelha logo ganha lugar no decorrer da trama. 

Até mesmo o fotorrealismo escolhido significa mais um acerto na linguagem narrativa proposta. Admirável a caracterização e personalidade empregada em cada cena. Uma poltrona pode significar peso para uma trama, sobretudo quando a parede em sua volta se desgasta paulatinamente, imergindo na sombra. Neste aspecto, o clima lembra os clássicos “O Exorcista”, “Poltergeist” e um quê de “A Hora do Pesadelo”, tanto na concepção do ambiente, quanto na construção do universo, quase onírico, provocado pelas atividades sobrenaturais vivenciadas por Janet. 

Mestre em assustar, o diretor prepara o “jump scare” magistralmente, seja no jogo de ângulos, com distorção e mudança de foco, seja na utilização do som diegético para compor a cena, ou até mesmo na falta deste sucedida do inevitável susto. A sombra, elemento visual essencial no terror, acertadamente, também faz parte da casa, como um personagem. Inovador ao inserir gag’s de humor de maneira orgânica, bem como na pontualidade do drama, sem cair no piegas, o longa brinca com os clichês, subvertendo-os em pelo menos dois momentos: quando Ed, comoventemente, canta na sala, tal qual um patriarca para aquela sofredora família, trazendo um alívio à tensão; e no instante em que policiais constatam uma atividade paranormal bem na sua frente, o que não é comum neste gênero, seguido por um corte seco na montagem, para em seguida demonstrar a reação hilária dos agentes. Não menos espetacular, por sua vez, é a sequência do interrogatório de Janet, ocasião em que o diretor transfigura a menina em um espectro, para depois retornar à sua forma original, tudo sem um corte aparente, apenas desfocando o segundo plano. 

Assim, esta continuação mantém o elevado nível do primeiro filme e promete novos episódios com o mesmo padrão de qualidade, alegrando os fãs do cinema de terror, agora já acostumados com este patamar.

*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,0 rapaduras = nota 8,5.

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