segunda-feira, 28 de março de 2016

NOS CINEMAS - Batman Vs Superman: A Origem da Justiça

Por Rafael Morais

Sinceramente não consigo entender o que os fãs estavam esperando desse “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça”. Vale lembrar que os trailers já deduravam quase tudo, inclusive o vilão “Apocalipse” e sua formação. Ou seria deformação? Se antes se ouvia que a DC/Warner precisava conectar os universos, urgentemente, e amarrar tudo, assim como a sua rival Marvel/Disney está fazendo com sucesso. Agora, a reclamação é no sentido de que esse crossover foi realizado de forma abrupta, arremessado ao espectador, em que pese os arrastados 153 minutos de projeção. A indústria pede, há procura por parte do público, logo, a demanda virá. Assim, a missão deste filme era árdua: dar continuidade ao mediano “Man of Steel”, apresentar a “Liga” (como o próprio subtítulo aponta), levantar uma grana absurda na bilheteria para viabilizar as sequências e ainda funcionar enquanto obra cinematográfica. Ufa! Em algum desses quesitos o longa iria falhar. 

Neste sentido, o diretor Zach Snyder (que também está a cargo de “A Liga da Justiça”) surge tão deslumbrado com a presença dos dois grandes heróis da DC – inclusive o cineasta já se declarou fã dos quadrinhos – que se entrega ao fan service, e ainda assim, consegue ser odiado pelos seus próprios pares, ou seja, os aficionados por HQ’s. Contudo, não tenho respaldo algum para entender o motivo dessa controvérsia, já que não consumo esta mídia. Enquanto cinema, “Batman Vs Superman” entrega o que prometia: ação, computação gráfica, crossover, mais CGI’s, porrada e bomba! Honesto com o seu público, a fita nunca deixa de homenagear àqueles que curtem e entendem do gênero.  E isso não é divertido? Claro que é! Ver os seus heróis de infância se engalfinhando e medindo forças é algo que sempre fez parte do nosso imaginário, desde a meninice, e de qualquer um que curte cultura pop de maneira geral. Então não sejamos hipócritas ou adultos demais para desmerecer este filme no que ele foi melhor: causar empolgação na pancadaria e ser fiel a um cânone já pré-estabelecido, que para mim pouco importava, repito. 

Quanto à premissa em si, o longa se passa após os eventos de O Homem de Aço(também dirigido por Snyder, o atual guru da DC/Warner nas telonas) quando o Superman divide a opinião da população mundial. Enquanto muitos contam com ele como herói e principal salvador, vários outros não concordam com sua permanência no planeta. Bruce Wayne é contrário aos ideias de Clark Kent e decide usar sua força de Batman para enfrentá-lo. Enquanto os dois brigam, porém, uma nova ameaça ganha força. E é no desenvolvimento deste argumento, através de um inchado roteiro de Chris Terrio e David S. Goyer, que somos submetidos a quase 3 horas de duração na tentativa de se cumprir o que a produção prometia. Acertando na química entre Kent/Superman e Bruce/Batman, desde o início, quando coloca o ponto de vista de cada um dos lados: “dia versus noite”, “esperança versus amargura”, “luz contra sombras”, “Coca versus Pepsi rsrs”, enfim, dualidades desse tipo. As atuações somam ao roteiro num primeiro ato bem pé no chão e elegante do ponto de vista técnico. Os usos de “slow motion”, marca registrada do cineasta, não incomodam aqui, pelo contrário, auxiliam a linguagem narrativa no momento em que evidenciam o sofrimento do pequeno Bruce na já famosa sequência do assassinato de seus pais, belamente representada pelas lentes “visionárias” (sim, estou sendo irônico rsrs) de Snyder. 

Pausa neste momento para quem curte “The Walking Dead”: reparou que o casal Wayne é formado pelos atores da série que encarnam o novo vilão “Negan” e a “Maggie”, esposa do Glenn?! Desculpe, nada a ver, mas não me contive em compartilhar essa percepção rsrs. 

No entanto, voltando, se por um lado houve acerto e harmonia com Cavill e Affleck, por outro, não posso dizer o mesmo do Alfred vivido pelo experiente Jeremy Irons, uma vez que não obteve destaque, lhe faltando tempo de tela suficiente para demonstrar sua interação com Bruce, encobrindo o talento do ator e o peso de sua escalação para o elenco. Não menos desacertado é o tom do longa. Tentando ser forçadamente engraçado em algumas ocasiões, em uma medida desesperada de se assemelhar com os filmes de heróis que fazem sucesso atualmente, “O Vigilante de Gotham contra o Salvador de Metrópolis” reserva cenas constrangedoras de Laurence Fishburne tentando fazer graça como editor chefe do Planeta Diário. Nenhuma piada funciona, o que nos faz ter saudades da atuação hilária de Jk Simmons, praticamente no mesmo papel, em Homem-Aranha, por exemplo. E antes que me julguem como “marvelete”, reforço o que já escrevi acima: não sou leitor de quadrinhos e o que levo em consideração é a qualidade do filme, não importando se baseado em literatura de cordel ou qualquer outra. 

E sobre o filme, tenho a dizer que diverte bastante ao abraçar a fantasia, o surreal, por meio de seus 2º e 3º atos, totalmente “despirocados”, o que é bom para o gênero, já que a fase racional de Christopher Nolan já passou, correto? Se bem que me lembrei do diretor na sequência da perseguição de carros, parecida com a que tem em “The Dark Knight”. Só parecida mesmo, pois Nolan capotou de verdade um caminhão para dar verossimilhança à cena, além de não picotar os frames, coisa que Snyder pesou a mão na computação gráfica, obtendo um resultado artificial, somado aos cortes alucinantes no estilo Michael Bay. Porém, já nas cenas de luta, é notório que Snyder se sai melhor e proporciona uma dinâmica de golpes envolventes, com coreografias bem elaboradas, o que lembra a ótima série de games “Batman Arkhan” e a franquia “The Raid”, no instante em que o morcegão quebra os ossos de seus adversários arremessando-os contra o chão ou em contato com algum móvel que guarnece o cenário. Animal! 

Contando com uma performance polêmica de Jesse Eisenberg como Lex Luthor, o ator não acha o tom de seu personagem, variando entre ameaçador chantagista, quase um Coringa para o Superman, através de uma atuação extremamente over, repleta de maneirismos e tiques, para pouco depois conferir um ar blasé, como se nada tivesse acontecendo. 

Visando não se delongar mais nessa resenha, assim como a edição que poderia ter cortado 30 minutos da película tranquilamente - passeando por cenas com Kevin Costner e o universo onírico particular de Bruce Wayne – “Batman Vs Superman” empolga na interação dos personagens, inclusive com a figura da Mulher Maravilha, na beleza de Gal Gadot, tudo orquestrado pela inspirada trilha sonora do mestre Hans Zimmer, que entende a diferença das nuances no clímax, tanto é que adota uma composição melódica peculiar com a aparição da amazona, remetendo ao cartunesco/aventuresco nos acordes escolhidos. 

Desta forma, apresento-lhes uma fórmula, inversamente proporcional, para não sair decepcionado desta, ou de qualquer outra sessão: expectativa no chão = satisfação nas alturas. Ah, e outra: não levemos tão a sério filmes de super-heróis que têm o simples e primordial propósito de entreter, ainda mais quando se consegue este objetivo, que é o caso.  

*Avaliação: 4,5 pipocas = 3,5 rapaduras = nota 8,0

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