Por Rafael Morais
Sinceramente não consigo entender o que os fãs estavam
esperando desse “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça”. Vale lembrar que os
trailers já deduravam quase tudo, inclusive o vilão “Apocalipse” e sua formação.
Ou seria deformação? Se antes se ouvia que a DC/Warner precisava conectar os
universos, urgentemente, e amarrar tudo, assim como a sua rival Marvel/Disney
está fazendo com sucesso. Agora, a reclamação é no sentido de que esse crossover
foi realizado de forma abrupta, arremessado ao espectador, em que pese os
arrastados 153 minutos de projeção. A indústria pede, há procura por parte do
público, logo, a demanda virá. Assim, a missão deste filme era árdua: dar
continuidade ao mediano “Man of Steel”, apresentar a “Liga” (como o próprio
subtítulo aponta), levantar uma grana absurda na bilheteria para viabilizar as
sequências e ainda funcionar enquanto obra cinematográfica. Ufa! Em algum
desses quesitos o longa iria falhar.
Neste sentido, o diretor Zach Snyder (que também
está a cargo de “A Liga da Justiça”) surge tão deslumbrado com a presença dos
dois grandes heróis da DC – inclusive o cineasta já se declarou fã dos
quadrinhos – que se entrega ao fan service, e ainda assim, consegue ser odiado
pelos seus próprios pares, ou seja, os aficionados por HQ’s. Contudo, não tenho
respaldo algum para entender o motivo dessa controvérsia, já que não consumo
esta mídia. Enquanto cinema, “Batman Vs Superman” entrega o que prometia: ação,
computação gráfica, crossover, mais CGI’s, porrada e bomba! Honesto com o seu
público, a fita nunca deixa de homenagear àqueles que curtem e entendem do
gênero. E isso não é divertido? Claro
que é! Ver os seus heróis de infância se engalfinhando e medindo forças é algo
que sempre fez parte do nosso imaginário, desde a meninice, e de qualquer um
que curte cultura pop de maneira geral. Então não sejamos hipócritas ou adultos
demais para desmerecer este filme no que ele foi melhor: causar empolgação na
pancadaria e ser fiel a um cânone já pré-estabelecido, que para mim pouco importava,
repito.
Quanto à premissa em si, o longa se passa após os eventos de “O Homem de Aço” (também dirigido por Snyder, o atual guru da DC/Warner
nas telonas) quando o Superman divide a opinião da população mundial. Enquanto muitos
contam com ele como herói e principal salvador, vários outros não concordam com
sua permanência no planeta. Bruce Wayne é
contrário aos ideias de Clark Kent e decide usar sua força de Batman para
enfrentá-lo. Enquanto os dois brigam, porém, uma nova ameaça ganha força.
E é no desenvolvimento deste argumento, através de um inchado roteiro de Chris Terrio e
David S. Goyer, que somos submetidos a quase 3 horas de duração na tentativa de
se cumprir o que a produção prometia. Acertando na química entre Kent/Superman
e Bruce/Batman, desde o início, quando coloca o ponto de vista de cada um dos
lados: “dia versus noite”, “esperança versus amargura”, “luz contra sombras”, “Coca
versus Pepsi rsrs”, enfim, dualidades desse tipo. As atuações somam ao roteiro
num primeiro ato bem pé no chão e elegante do ponto de vista técnico. Os usos
de “slow motion”, marca registrada do cineasta, não incomodam aqui, pelo
contrário, auxiliam a linguagem narrativa no momento em que evidenciam o
sofrimento do pequeno Bruce na já famosa sequência do assassinato de seus pais,
belamente representada pelas lentes “visionárias” (sim, estou sendo irônico
rsrs) de Snyder.
Pausa neste momento para quem curte “The Walking Dead”: reparou
que o casal Wayne é formado pelos atores da série que encarnam o novo vilão “Negan”
e a “Maggie”, esposa do Glenn?! Desculpe, nada a ver, mas não me contive em
compartilhar essa percepção rsrs.
No entanto, voltando, se por um lado houve
acerto e harmonia com Cavill e Affleck, por outro, não posso dizer o mesmo do
Alfred vivido pelo experiente Jeremy Irons, uma vez que não obteve destaque, lhe
faltando tempo de tela suficiente para demonstrar sua interação com Bruce, encobrindo
o talento do ator e o peso de sua escalação para o elenco. Não menos
desacertado é o tom do longa. Tentando ser forçadamente engraçado em algumas ocasiões,
em uma medida desesperada de se assemelhar com os filmes de heróis que
fazem sucesso atualmente, “O Vigilante de Gotham contra o Salvador de
Metrópolis” reserva cenas constrangedoras de Laurence Fishburne tentando fazer
graça como editor chefe do Planeta Diário. Nenhuma piada funciona, o que nos
faz ter saudades da atuação hilária de Jk Simmons, praticamente no mesmo papel,
em Homem-Aranha, por exemplo. E antes que me julguem como “marvelete”, reforço
o que já escrevi acima: não sou leitor de quadrinhos e o que levo em
consideração é a qualidade do filme, não importando se baseado em literatura de
cordel ou qualquer outra.
E sobre o filme, tenho a dizer que diverte bastante ao
abraçar a fantasia, o surreal, por meio de seus 2º e 3º atos, totalmente “despirocados”, o
que é bom para o gênero, já que a fase racional de Christopher Nolan já passou,
correto? Se bem que me lembrei do diretor na sequência da perseguição de carros,
parecida com a que tem em “The Dark Knight”. Só parecida mesmo, pois Nolan
capotou de verdade um caminhão para dar verossimilhança à cena, além de não
picotar os frames, coisa que Snyder pesou a mão na computação gráfica, obtendo
um resultado artificial, somado aos cortes alucinantes no estilo Michael Bay.
Porém, já nas cenas de luta, é notório que Snyder se sai melhor e proporciona
uma dinâmica de golpes envolventes, com coreografias bem elaboradas, o que
lembra a ótima série de games “Batman Arkhan” e a franquia “The Raid”, no
instante em que o morcegão quebra os ossos de seus adversários arremessando-os contra
o chão ou em contato com algum móvel que guarnece o cenário. Animal!
Contando
com uma performance polêmica de Jesse Eisenberg como Lex Luthor, o ator não
acha o tom de seu personagem, variando entre ameaçador chantagista, quase um Coringa
para o Superman, através de uma atuação extremamente over, repleta de
maneirismos e tiques, para pouco depois conferir um ar blasé, como se nada
tivesse acontecendo.
Visando não se delongar mais nessa resenha, assim como a
edição que poderia ter cortado 30 minutos da película tranquilamente -
passeando por cenas com Kevin Costner e o universo onírico particular de Bruce
Wayne – “Batman Vs Superman” empolga na interação dos personagens, inclusive
com a figura da Mulher Maravilha, na beleza de Gal Gadot, tudo orquestrado pela
inspirada trilha sonora do mestre Hans Zimmer, que entende a diferença das nuances
no clímax, tanto é que adota uma composição melódica peculiar com a aparição da
amazona, remetendo ao cartunesco/aventuresco nos acordes escolhidos.
Desta
forma, apresento-lhes uma fórmula, inversamente proporcional, para não sair
decepcionado desta, ou de qualquer outra sessão: expectativa no chão =
satisfação nas alturas. Ah, e outra: não levemos tão a sério filmes de
super-heróis que têm o simples e primordial propósito de entreter, ainda mais
quando se consegue este objetivo, que é o caso.
*Avaliação: 4,5
pipocas = 3,5 rapaduras = nota 8,0