domingo, 9 de setembro de 2012

NAS LOCADORAS: Medo da Verdade

"Pague o preço" das suas decisões.
Por Rafael Morais
09 de setembro de 2012.

Medo da Verdade é a primeira incursão de Ben Affleck por trás das câmeras, revelando um futuro promissor ao novel cineasta, que dirigiu o não menos brilhante Atração Perigosa (2010) e agora faz sucesso com Argo (2012), cuja estreia aqui no Brasil está prevista para novembro deste ano.

A trama acompanha um casal de detetive particular designado para investigar o misterioso desaparecimento da pequena Amanda McCready (Madeline O'Brien). Assim, quando começam as buscas, eles descobrem que nada no caso é o que parece ser. Em última instância, os dois terão de arriscar tudo o que têm de mais valioso - as suas relações afetivas, suas saúdes mentais e até mesmo as próprias vidas - para encontrar a verdade sobre a menina desaparecida.

O roteiro escrito a duas mãos (Ben Affleck e Aaron Stockard) e baseado no livro de Dennis Lehane (autor de Sobre Meninos e Lobos, adaptação premiada de Clint Eastwood em 2003), é conduzido de forma crescente, demonstrando superficialidade no início e ganhando fôlego no decorrer da narrativa.  

O elenco, por sua vez, dá a sua contribuição para entregar um desfecho genial e segurar o espectador durante as suas quase duas horas de duração. Casey Affleck - irmão do diretor - segura perfeitamente o papel do protagonista, não tendo que provar mais nada quanto ao seu talento na arte de atuar, já que no noir O Assassino em Mim (2010) o cara se superou. Temos também o sempre competente Morgan Freeman, vivendo um chefe de polícia de uma divisão de antissequestros especializada em casos que envolvem crianças. Sem esquecer da marcante atuação de Ed Harris, bem como da indicada ao Oscar como atriz coadjuvante, Amy Ryan, na pele da mãe tão despreparada quanto desesperada da pequena Amanda.

O filme ganha contornos tridimensionais, no que tange a realidade, evidenciando-se como um verdadeiro estudo de personagens. Affleck, introduz gradativamente o espectador na teia de intrigas e interesses, realizando, para isso, uma montagem eficiente e inteligente. Perceba que os guetos, os bares escuros e repletos de "criaturas" conflituosas ajudam a montar o universo sugerido. É tanto que quando Patrick (Casey) sai de um bar, há o contraste abrupto com a luz do dia, fazendo-nos pensar que dentro do ambiente em que se encontrava, claustrofóbico e ameaçador, estava em plena e perigosa madrugada, tamanha é a escuridão do local e obscuridão de seus frequentadores. 

É certo que o longa poderia perfeitamente se chamar Medo da Culpa, pelo menos na nossa tradução, pois o que se percebe, ao final, é que todos, sem exceção, agem e são movidos para que mais cedo ou mais tarde não se sintam culpados por seus atos ou omissões. Com um desfecho ensejador de discussões éticas, sociais, legais e até morais, dividindo as opiniões dos espectadores, constatamos que o "herói" honesto e íntegro, tem nessas qualidades uma relativização da sociedade. O encerramento traz consigo o peso das escolhas e suas consequências, carregando nos personagens a incerteza do que o amanhã lhes reservará. 


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