terça-feira, 25 de setembro de 2012

EM CARTAZ: Ted


Seth MacFarlane esbanja originalidade e irreverência em sua primeira incursão nas telonas.
Rafael Morais
25 de setembro de 2012.

Não acredito que estou rindo disso... Foi assim que me peguei pensativo em vários momentos da projeção. Isso não quer dizer que as gags são sem graça. É que o humor ácido, característico do gênero politicamente incorreto, traz uma interessante reflexão por trás das piadas, seguido de um estranho sentimento de culpa por se pegar chorando de rir daquelas situações.

E em Ted tudo soa como "mote" para uma piada. Mas isso não é à toa, pois o cara que está no comando do roteiro e da direção é ninguém menos que Seth MacFarlane. Sim, a cabeça "cômico-doentia", responsável pelo sucesso televisivo Uma Família da Pesada (Family Guy), estreia na sétima arte destilando o seu veneno de lobo na pele de um ursinho fofinho e felpudo.   

O filme conta as desventuras de uma insólita amizade entre John (o multifacetado, Mark Wahlberg), no papel de um infantilizado homem de 35 anos, e Ted, um ursinho de pelúcia que ganhou vida após um desses típicos milagres natalinos. Fechando o triângulo amoroso, importante elemento que vai impulsionar a história ao criar um arco interessante para o desfecho dos atos, está a bela Mila Kunis (Cisne Negro) no papel de Lori, a namorada de John.

Na verdade, MacFarlene aproveita a sua primeira experiência nas telonas para mostrar todas as suas referências da cultura pop, tanto de cinema quanto de música. Perceba as diversas homenagens inseridas na trama de maneira harmônica, como Apertem os Cintos o Piloto Sumiu, Star Wars (os brinquedos e ringtones), Embalos de Sábado à Noite, e a melhor de todas, em minha opinião, que é a homenagem a Indiana Jones, não só pelo cartaz exposto no quarto do pequeno John, mas também em outra sequência.

Nessa pegada, acredito que um roteiro original faz falta ao cinema contemporâneo, seja pelo sem número de adaptações de qualquer livro best-seller (a famigerada Saga Crepúsculo, por exemplo), seja pela preguiça dos roteiristas e cineastas em apenas reescrever/refilmar o que já fez sucesso. O fato é que a já famosa sequência - haja vista que o filme estreou há pouco mais de uma semana - da inimaginável briga entre John e Ted, traz uma grata surpresa e sobre-fôlego ao gênero de comédia. De todo modo, o cinema, como arte que é, não deve se conter com o tangível/palpável. Quando solta-se a imaginação, com certeza ela não voltará desacompanhada, ao seu lado estarão de "mãos dadas" a criatividade e o ineditismo.  

Contudo, apesar da fórmula comédia-romântica do roteiro, Ted consegue arrancar boas gargalhadas do público. Piadas que envolvem o Twitter, a Hasbro (fabricante de brinquedos) e o tosco Flash Gordon (seriado trash dos anos 80), denotam um humor feito por nerds e para eles. MacFarlane e seus habituais comparsas de Family GuyAlec Sulkin Wellesley Wild, acertam a mão e provam seu ótimo timming cômico em situações hilárias, surrealistas ou simplesmente escatológicas, chegando ao limite do aceitável. 

A propósito, o surreal é algo constante no filme. Desde os minutos iniciais até o encerramento, temos a sensação de estar diante de algo totalmente inconcebível e fora da realidade. E é exatamente isso que ajuda a ludibriar o espectador, uma vez que o surrealismo, querendo ou não, humanizar ou tenta "suavizar" as atitudes do fuleiro ursinho, quando faz as suas piadas pesadas, usa drogas ou transa com prostitutas. Observe que as mesmas piadas de mau gosto feitas pelo inescrupuloso chefe de Lori, soam inadmissíveis e repugnantes, ao passo que quando é o bichinho de pelúcia que as faz uso, nos divertimos e deixamos a ética ou moral em segundo plano. 

Ao final, não se julgue por rir de piadas sobre o 11 de Setembro, flatulências (tão difícil de funcionar nas comédias), de cunho xenofóbico, anti-semita ou racista, já que fazemos parte de uma sociedade hipócrita e extremamente preconceituosa. O humor negro, ou politicamente incorreto, expõe as feridas sociais, fazendo paródias e pondo o dedo em cima, portanto, ficará por nossa conta fechá-las, ou não.  


Quando se solta a imaginação, com certeza ela não voltará desacompanhada, ao seu lado estarão de "mãos dadas" a criatividade e o ineditismo.  

Comentários
1 Comentários

1 comments:

  1. Ted, realmente é um filme engraçado, divertido e original!
    Vale a pena ir ao cinema!!
    ;)

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