quarta-feira, 15 de agosto de 2012

NAS LOCADORAS - Um Conto Chinês

Amor e humor: sentimentos universais.
Rafael Morais
15 de agosto de 2012.


Qual será a fórmula para o sucesso do cinema argentino, consagrado com o "oscarizado" O Segredo dos Seus Olhos (2009)? Acredito que a resposta está na excelência voltada para o desenvolvimento narrativo da trama, onde a proposta inicial, a priori superficial, aprofunda-se e ganha fôlego no decorrer do 2º e 3º ato. Pelo menos nos filmes a que assisti até agora (Abutres, Nove Rainhas, o próprio Um Conto Chinês, entre outros), essa regra foi inteligentemente mantida, ensejando um dos motivos do sucesso dos hermanos nas telonas.

Por outro lado, a maioria dos nossos filmes querem ser grandiosos nas propostas, porém mostram-se sofríveis no momento de desenvolvê-las. Falta mais audácia ao cinema tupiniquim. É preciso se arriscar mais e pensar fora do quadrado. Sei que a busca pela identidade cinematográfica não é fácil, mas imprescindível para o sucesso. Quando vejo um filme nacional tentando copiar algum outro estilo, fico deveras desapontado. Audácia é sinônimo de premiação.


Contudo, deixemos as comparações de lado e passemos a analisar o estranho caso de uma vaca que caiu do céu, na China, e afetou a vida de um cidadão comum na Argentina. É isso mesmo! Por mais que os fatos não pareçam interligados, para Sebastián Borensztein (diretor e roteirista), nada é por acaso. E por falar em direção, as escolhas do cineasta para entregar um desfecho à altura do desenvolvimento, inclui uma fotografia belíssima e fundamental para o entendimento das escolhas dos personagens. Assim, temos um final poético e simbólico, característicos de um feel good movie.

Na trama, Roberto (Ricardo Darín) tem uma loja pequena de ferragens, em Buenos Aires, onde mora. O seu cotidiano monótono e solitário revela sempre as mesmas atividades: colecionar animais de vidro em miniatura para a falecida mãe; dormir sempre no mesmo horário e evitar se relacionar com um interesse amoroso, uma amiga de seu cunhado, apaixonada por ele. 
Para dar uma sacudida na vida desse homem mal humorado, aparece o chinês Jun (Ignacio Huang), que chega à capital da Argentina, sem falar uma palavra em espanhol, tendo no braço apenas o endereço de seu tio que mora lá. Quando se encontram por acidente, Roberto e Jun mal se "entendem", e dessa situação Um Conto Chinês tira sua premissa.
Jun é mais do que um alívio cômico, na maior parte do tempo. O que interessa é a reação de Roberto, o típico solitário cheio de rotinas e de métodos, e consequentemente infeliz, tanto que só existe legenda para as falas do argentino. 
E é por essas e outras que embora se entenda muito pouco o que se fala em Um Conto Chinês, ainda assim é um filme que se comunica com o espectador de forma orgânica e perfeitamente sincronizada. Afinal, alguns temas e sentimentos são universais.




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