"Ministério do Entretenimento" adverte: saudosismo extremo pode atrapalhar a sua diversão.
Rafael Morais
21 de agosto de 2012.
Tenho acompanhado uma série de críticas negativas e ferrenhas a esse novo O Vingador do Futuro, releitura do clássico de Paul Verhoeven. Confesso que fui ao cinema com "três" pés atrás, assim como a "tripeituda", porém, para a minha grata surpresa, assisti a uma refilmagem dinâmica, visualmente impecável e repleta de notáveis referências cinematográficas.
Então, o que acontece com essa turma que anda trucidando o filme baseando-se somente no original? Entendo, por um lado, que a falta de criatividade aliada à necessidade da indústria hollywoodiana de produzir blockbusters e colocá-los no circuito, faz com que cada vez mais surjam reinterpretações de obras "intocáveis", para alguns. E isso não é vantagem ou mérito, mas sim uma necessidade. Olha que sou fã incondicional dos filmes dos anos 80 e 90, incluindo Total Recall que tem um lugar especial nessa lista. O fato é que não vejo problema em ser apresentado a uma nova visão de um filme, principalmente quando o original se torna "datado" com o tempo, e sobretudo, quando a refilmagem presta diversas homenagens ao seu precursor.
Baseado nos contos de Philip K. Dick (referendado autor cujas obras originaram filmes como Blade Runner e Minority Report), O Vingador do Futuro ganhou status cult, mesmo hoje, 20 anos após seu lançamento. Sem esquecer que à época, tínhamos um Verhoeven (diretor do também cultuado RoboCop) nos tempos dourados de sua carreira, destilando visceralidade e estilo por trás das câmeras. Sucesso na certa!! E é por essas e outras, que a missão de Len Wiseman - diretor da franquia Anjos da Noite - substituindo o aclamado cineasta, e Colin Farrel, no lugar de um dos maiores ícones do cinema de ação - Arnold Schwarzenegger - era quase impossível.
No entanto, quem disse que Wiseman iria copiar o clássico? O jovem cineasta escolheu, acertadamente, repaginar e entregar um eficiente e eletrizante filme de ação/ficção. Para tanto, o diretor não teve problema em se valer, notoriamente, de suas referências e influências cinematográficas. Como não lembrar de Blade Runner ao se deparar com o universo da Colônia, uma favela futurista, emaranhada de casas, sobrados e afiações expostas, uma por cima da outra, contrapondo o outro pólo da mesma cidade, a Federação da Bretanha, onde tudo é bem desenvolvido e cercado de alta tecnologia avançada, retratado por um caprichado design de produção, fotografia e figurino que expõem um urbanismo psicodélico. Dualismo separado pela "queda", que é uma forma de atravessar essas fronteiras através de uma espécie de elevador Lacerda de Salvador-BA, guardada as proporções, quando em outros tempos dividia-se a elite social da ralé.
As referências passam pelos famosos flares de J.J. Abrams, efeitos de luz que demonstram tecnologia e futurismo, além de emprestar um charme à fotografia. Porém, tais efeitos são utilizados aqui à exaustão. Sem esquecer de mestres como Isaac Asimov e C. Clarke, que influenciaram filmes como Eu, Robô, por exemplo, que aqui também são explorados alguns conceitos, como a automação robótica substituindo a mão-de-obra humana. Outras influências visíveis demonstram que o novel cineasta está enveredando por caminhos certos. O estilo Christopher Nolan (A Origem, Trilogia Batman) de se filmar vem fazendo escola. A ausência de gravidade que rende ótimas cenas de ação volta a fazer sucesso em sequências de tirar o fôlego. Além da ótima trilha sonora, com timbres graves e contornos que lembram às de Hans Zimmer.
Assim, a salada pop deu certo e rendeu um ótimo e divertido filme de ação/ficção com direito a planos-sequências bem estruturados, onde diversas câmeras, algumas em movimentos travelling, captam um encadeamento de tiros, socos e pontapés que precisou ser ensaiada, segundo o protagonista, mais de 20 vezes para a coreografia se encaixar.
Por fim, temos um elenco com uma Kate Backinsale surtada, em sua melhor atuação, no papel que foi de Sharon Stone; um Colin Farrel se esforçando para superar o carisma de Schwarzenegger, porque em matéria de dramaturgia, vamos ser sincero, o novo protagonista se sai melhor; além de um Bryan Cranston, que mesmo atuando no automático empresta um pouco do seu talento visto no seriado de sucesso Breaking Bad.
Me desculpe a sinceridade e a falta de saudosismo extremado, mas os tempos são outros e esse remake de O Vingador do Futuro é bem mais que uma versão escovada com palha de aço do original.
*Obs: Recomendo, se possível, que procurem assistir à cópia digital nos cinemas. Som e imagem de saltar aos olhos e ouvidos.