Subverter clichês do gênero: era disso que eu estava falando.
Rafael Morais
26 de janeiro de 2012.
Sempre que assistimos a um filme de terror, parece que os sustos já estão preparados e cronometrados para aquele momento, deixando até o clímax previsível. Mas em Atividade Paranormal 3 (quarto da franquia, que conta com um capítulo em Tóquio) isso não acontece, muito pelo contrário, subverter e brincar com os principais clichês do gênero, são as especialidades dos diretores Henry Joost e Ariel Schulman (dupla do independente e ótimo Catfish), que aqui conseguem salvar a franquia.
Mérito também para o roteiro envolvente e criativo, que faz com que o espectador tente achar, nos mínimos detalhes, uma diferença entre uma cena e outra, um take e outro. Parece que estamos dentro de um jogo dos 7 erros. Lembra? Quando tínhamos que achar diferenças entre duas imagens, aparentemente iguais. Repare, por exemplo, na brilhante ideia de inserir uma câmera "móvel", acoplada no motor do ventilador que gira incessantemente e teima em mostrar a sala e a cozinha daquela assustadora casa. Genial! Essas soluções inteligentes e de baixo custo, se coadunam com a época em que a história se passa, ou seja, na década de 80, salvo engano, não havia câmeras móveis para se vender em qualquer loja. O "sorria você está sendo filmado" foi de pouco tempo para cá.
A história, roteirizada por Christopher B. Landon (Atividade Paranormal 2), também busca novidades, pretendendo explicar as origens da assombração demoníaca dos anteriores. A trama retorna a 1988, quando as irmãs Katie (Chloe Csengery) e Kristi (Jessica Tyler Brown, ótima!) ainda crianças, mudam-se com a mãe (Lauren Bittner) e o padrasto, para uma nova casa. No sobrado, não demora para que a irmã menor comece a conversar com um amigo imaginário, que ela afetuosamente chama de "Toby", que logo manifesta intenções mais macabras do que participar da festinha do chá da menina ou bater papinho.
Igualmente significante é o modo como esse novo longa subverte até aquela antiga máxima machista de filmes de terror: o marido passa o dia todo trabalhando e quando chega em casa, cansado, a mulher está aterrorizada porque está vendo fantasmas, como se ela não tivesse nada para fazer, levando o tempo em pensar besteira, ou pior, que está à beira da loucura. Aqui, em Atividade 3, é justamente o contrário. Dica: não trabalhe em casa, isso pode lhe custar caro.
Brincadeiras à parte, outra interessante sacada foi usar de conceitos básicos, e até bobos, como o lençol branco simbolizando um fantasma, e introduzi-lo de modo assustador à trama. Confesso que nunca pensei que depois de "velho" iria ter medo de um lençol vagando pela casa, como tive nesse filme. Frio na barriga!
O desfecho, porém, é um tanto gratuito e mal-explicado. Não se desenvolvem corretamente muitos dos temas que estão ali e deixam-se ideias demais subentendidas. De qualquer maneira, a tensão e os saltos na cadeira estão garantidos.
Em tempos em que esse formato começa a desgastar-se, encontrar uma forma de evoluir, de dar algo a mais do que espera o público, e ao mesmo tempo manter a essência do que define a série intacta, justifica a novidade. Pena que levaram três filmes para descobrir isso.
Quando tem crianças em filme de terror, o meu medo aumenta. É foda!