terça-feira, 25 de outubro de 2011

FILME: CILADA.COM


A embalagem é de filme, mas o produto é um típico Sitcom.
Rafael Morais
24 de outubro de 2011.

Vendido como filme e consumido como um seriado cômico. Esse é apenas um dos problemas dessa produção estrelada e escrita por Bruno Mazzeo.

Baseado, escancaradamente, em piadas e gags extraídas de stand up's - cultura de fazer humor, enlatada norte-americana, que tomou conta do cenário humorístico em todo o Brasil - o filme do diretor José Alvarenga Jr. (Divã, Os Normais - O filme) , é uma "homenagem" ao pior estilo do cinema estadunidense (comédia besteirol e pastelão). 

As piadas prontas e conhecidas pelo grande público recheiam o filme do início-clichê ao presumível fim. Aliás, o roteiro preguiçoso não deixa nenhuma dúvida de que o desfecho será exatamente aquele que imaginamos; é o tipo do longa que dá pra "matar" o final nos seus primeiros quinze minutos. Esperava-se bem mais da aposta "global" do filho de Chico Anísio. A propósito, por que Mazzeo não se inspirou na obra de seu pai ao invés de buscar nomes gringos lá fora, tais como: Richard Pryor, Jerry Seinfeld e Louis CK? O seu exemplo estava em casa, já que Chico foi um dos primeiros comediantes a fazer comédia em pé no Brasil.

A história é sobre um cara (Mazzeo) que trai a sua namorada (Fernanda Paes Leme) que, por sua vez , como vingança, posta um vídeo no youtube com sua vergonhosa performance sexual, expondo-o na web - nítidas influências de filmes como American Pie, Caindo na Estrada,  entre outros.

Situações vexatórias e despropositais são a tônica dos personagens. Vai do humor de constrangimento (situações demasiadamente ridículas, como um DR em público enquanto a câmera foca nos rostos de estranhos), às cenas batidas do gênero (cara desesperado revisitando sua agenda de telefones de mão, em tempos de internet, declarações de amor na chuva). Definitivamente, não houve senso do ridículo. 

Aliás, alguns comediantes nacionais andam desprovidos de qualquer senso, de uns anos pra cá (Rafinha Bastos e suas piadas infames;a utilização do twitter como meio de falar o que "der na telha"). Parece que o politicamente incorreto, o escrachamento de artistas (as "fritadas", como são chamadas) e o subterfúgio do direito de liberdade de expressão, cujo entendimento equivocado de alguns artistas/jornalistas é que tal direito trata-se de uma garantia absoluta. Tudo isso, inegavelmente, substituiu o humor ingênuo, inteligente e sagaz, como Os Trapalhões, por exemplo, que nem por isso deixavam de criticar a política e "colocar o dedo na ferida", quando necessário fosse.

Voltando ao filme em si, a rápida participação de Luís Miranda na pele de um pai de santo hilário é uma das poucas cenas que escapam. O ator mostra toda a sua versatilidade e o seu dom de fazer rir. Vale lembrar que Miranda já havia feito uma passagem inesquecível em O Meu Nome Não é Jonny, como um malandro preso em uma delegacia, louco para comer um lanche do Mc Donald's. É de rolar de rir. 

Lampejos à parte, não dá pra se identificar com o personagem de Bruno, cujo ego não lhe permite ver que, além de ruim de cama e um mau namorado, também é um péssimo publicitário. Nossa relação com ele termina comprometida, porque o roteiro não deixa que a redenção do adúltero se consuma. Situações típicas de segundo ato - o protagonista cruza com várias outras mulheres antes de descobrir que gosta daquela que ele traíra no início do filme - se estendem até o terceiro. É cabeça de escritor de esquetes; as situações de humor se acumulam sem que, necessariamente, contribuam para o arco do personagem. No Fantástico, essa fórmula funcionava a contento. 

Enfim, é uma comédia que faz apologia ao constrangimento, ao ridículo e, principalmente, cria um protagonista narcisista. Com certeza, a verbalização das três palavrinhas mágicas: Eu te amo, não conseguiriam a redenção desse personagem; é uma pena que o roteiro não pense assim.

  

Há rumores de que virá uma continuação. Com certeza, não cairei duas vezes na mesma cilada.


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