Por Rafael Morais
16 de outubro de 2017
Se toda continuação, de qualquer blockbuster
que se preze, segue a regra da grandiloquência, em que tudo deve ser maior e
mais exagerado, então este “Kingsman: O Círculo Dourado” seguiu direitinho a
cartilha.
A trama da vez gira em torno do surgimento de uma nova ameaça capaz de eliminar o
Kingsman, sobrando “apenas” Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong) como remanescentes. Em busca de
ajuda, eles partem para os Estados Unidos à procura da Statesman, uma
organização secreta de espionagem onde trabalham os agentes Tequila (Channing
Tatum), Whiskey (Pedro Pascal), Champagne (Jeff Bridges) e Ginger (Halle
Berry). Unidos, eles precisam enfrentar a responsável pelo ataque: Poppy
(Julianne Moore), a maior traficante de drogas da atualidade, que elabora um
plano mirabolante para sair do anonimato.
A boa notícia é que
Matthew Vaughn voltou à direção – após o excelente capítulo antecessor –
conseguindo imprimir o seu ritmo alucinante de ação em sequências de tirar o
fôlego, ao ponto de a polêmica cena da igreja do primeiro ser apenas um aperitivo
para o que estava por vir. Pautado na falta das leis da física, e isso não é
nunca foi um problema em si, a ação prende a atenção do público, ao passo que o
carisma de seus personagens também nos faz importar com o desfecho de cada um.
O agende Galahad de Colin Firth volta, para o bem da franquia, demonstrando
toda a força de um ator veterano e talentoso, contracenando ótimos diálogos e
situações com o jovem Egerton.
A química experimentada
em “Serviço Secreto” está lá, mas isso é o suficiente? Em que pese os efeitos
especiais espetaculares, bem como as alucinantes perseguições de carro, o tom
de autoparódia, e do uso abusivo de clichês do gênero (filmes de espionagem) podem
incomodar. Carros submarinos, mulheres descartáveis que servem somente para o
espião descobrir algo, elegância e glamour são apenas algumas das convenções
exploradas aqui até não poder mais. Oscilando entre a comédia e a ação, não
sabendo se decidir em qual lado ficar, “O Círculo Dourado” peca mesmo é na
escala de sua urgência, sempre relegada ao famoso “vou ali salvar o mundo e
volto já”. Sem falar no erro de casting ao escalar a doce Juliane Moore como
uma vilã maquiavelicamente caricata, não nos convencendo jamais aquela maldade
fabricada.
Não, o filme anda
longe de ser todo ruim. A trilha sonora é bem escolhida, os enquadramentos de
Vaughn são bem realizados e o resultado é uma obra divertidíssima que quase não
percebemos passar suas duas horas e pouco de duração. Mas é Pedro Pascal, como
o agente Whisky, que salva o longa. O novel personagem da saga confere uma rasteira
complexidade à sua persona, acrescentando camadas, embora finas, a um tipo que
também estava fadado ao trivial.
Ao final, resta mesmo
é aquele cheirinho de produção “caça-níquel” no ar, tanto que um próximo
episódio já está vindo por aí. Veremos até quando a criatividade de Hollywood consegue
expandir este universo.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 2,5
rapaduras = nota 7,0.