segunda-feira, 5 de junho de 2017

NOS CINEMAS - Mulher-Maravilha

Por Rafael Morais
05 de junho de 2017

A filmografia da DC/Warner nos cinemas é repleta de altos e baixos. Mais ladeira do que subida é bem verdade. Se por um lado temos a excepcional trilogia "The Dark Knight", pela perspectiva de Christopher Nolan, de outro vimos uma sucessão de erros que vão desde "Lanterna Verde" chegando ao ápice da ruindade com o "Esquadrão Suicida". Tentando restabelecer um novo universo dos heróis, com o fim de reuni-los na vindoura “Liga da Justiça”, os produtores trataram de “rebootar” o Homem de Aço e o Homem-Morcego, inclusive colocando-os frente a frente. Dividindo público e crítica, este embate comandado por Zach Snyder introduziu todos os membros da Liga, inclusive a Mulher-Maravilha (Gal Gadot).

E assim chegamos à história de Diana Prince: guerreira amazona que sai da sua zona de conforto (a belíssima Themyscira) e ganha o mundo, em plena Primeira Guerra, após a inesperada aparição de Steve Trevor (Chris Pine), espião e piloto aliado da Tríplice Entente. Dono de um primeiro ato irretocável, o filme apresenta a origem da sua protagonista, numa típica jornada da heroína, caprichando na ambientação ao entregar um deslumbre visual da Ilha Themyscira. Lindas artes sacras, meio no estilo barroco, preenchem a telona para narrar a mitologia de Zeus, Ares e toda a divindade por trás das Amazonas. É de encher os olhos todo aquele verde intenso, natureza virgem e águas cristalinas que banham o local. Um verdadeiro paraíso devassado com a chegada dos homens, e com eles: a guerra. Neste contexto, a bela fotografia de Matthew Jensen aposta numa paleta de cores quentes, saturada em momentos harmônico-familiares, fazendo contraponto ao dessaturado, predominando os tons pastel, frio, por vezes azulado, ao mostrar os horrores da guerra. Inteligente, o roteiro de Allan Heinberg e Geoff Johns estabelece o conflito da protagonista, bem como de todos os coadjuvantes ao seu redor, fazendo o público se importar com o futuro de cada um.

Entretanto, apesar de achar o tom certo do filme, sem pesar a mão no sombrio e realista, o humor extravasa na quantidade de alívio cômico. Como se não bastasse a figura da secretária de Trevor fazendo graça sempre que surge em tela, a trupe formada pelos amigos do piloto também encaixa piadas em cada fala, gesto ou expressões. Gags explodem de todo lado. Talvez esta leveza se deva por conta da exigência dos produtores e financiadores que injetaram grana no projeto e buscavam um resultado diferente dos últimos, quem sabe mais próximo da concorrente Marvel/Disney. Mas, felizmente, isso não faz a obra perder a identidade, pelo contrário, até ajuda a imprimir o tom aventuresco, auxiliado também pela química entre Gadot e Pine. E os excelentes diálogos entre estes dois, no início do segundo ato, divertem o público adulto, ao passo que aprofundam os personagens sem denegrir as origens da heroína. O misto de inocência, divindade e altivez oscilam na caracterização da personalidade de Diana. Definitivamente, o empoderamento feminino está bem representado na cultura pop.

Contudo, o desenrolar deste segundo ato incha a duração do filme ao burocratizar o envio da tropa ao front de batalha. Mas nada que não esqueçamos quando a heroína cai na porrada. Neste sentido, todas as cenas de ação são empolgantes, mesmo que abusando do slow motion. Sim, a cineasta Patty Jenkins sofreu forte influência de Snyder neste tocante. No que pese ser um efeito cansativo, o excesso de câmera lenta não compromete o resultado estético final, apenas ajuda a diretora a coreografar melhor as lutas e situar o espectador em cada golpe.

Quanto à evocativa trilha sonora, rica em acordes clássicos, apoteóticos, que remete à glória de um povo, à inevitável batalha que se aproxima, o destaque fica por conta da música-tema. Composto por um solo de guitarra distorcido, com pegada heavy metal que arrepia, o tema entra na hora certa equalizando as melhores sequências da protagonista.

Fechando o arco, o derradeiro ato vai dividir opiniões, assim como aconteceu em “Batman Vs Superman”, pois peca pelo excesso. Novos acertos, velhos erros? Mas o fato é que este "Mulher-Maravilha" triunfa sobre o marasmo, empolga, diverte e se faz necessário nos dias atuais.

*Avaliação: 4,5 rapaduras + 4,5 pipocas = nota 9,0.

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