Por Rafael Morais
01 de maio de 2017
Logo no início do filme, antes mesmo do título surgir, temos uma
sequência de ação onde a atitude de Groot (agora Baby Groot) resume bem a minha
expectativa com a obra: apreciar o espetáculo, sem compromisso, sabendo que
tudo vai terminar bem ao final. E o “graveto” dança, escuta sua música e curte
o momento, mesmo diante de um monstro enorme, exatamente como eu me senti nesta
cena. Na verdade, James Gunn (diretor e roteirista) deixa claro que a sua
intenção é a diversão, pura e simples, quando desfoca o confronto dos heróis
com esta besta, para acompanhar Baby Groot se divertindo em primeiro plano.
O fato é que o universo de Guardiões da Galáxia já está bem
estabelecido, e rentável, desde o vol. 1, quando a Marvel/Disney arrebatou fãs
por todo o mundo ao apresentar uma equipe irreverente (não muito prestigiada
nos quadrinhos), focando no lado cósmico deste universo estendido para
complementar o lado humano/terrestre da sua filmografia. Assim, se há uma
fórmula no arco “dramático” dos filmes da Marvel, quando se trata de grupo de
heróis - que por sinal “Os Vingadores” de Joss Whedon já havia criado - com a
chegada de Star-Lord e sua trupe o grau do humor dentro na composição do script
e na misancene ganhou outro patamar, só reforçado pelo sucesso de Deadpool. E
no Vol.2 percebemos que a utilização demasiada deste viés cômico pode atrapalhar
algum tipo de envolvimento emocional ou clímax dramático que o diretor queira
pensar em construir para o desfecho. Mas nada que tire o encanto da obra, pois
como havia dito: o espetáculo é o que importa!
Extremamente colorido e visualmente incrível, o filme narra o
esperado encontro do “Senhor das Estrelas” (Chris Pratt) com o seu pai (Planeta
Ego – Kurt Russel) enquanto tenta se desvencilhar de um problema causado pelo
ímpeto de Rockett ao roubar uma carga de baterias de um planeta das Sacerdotisas,
que não poupam represálias.
A química da equipe continua lá, irretocável, sendo auxiliada
pelo carisma de suas pernonas. Dave Bautista confere força, bom humor e coração
ao seu Drax. Zoe Saldana é dura na queda, misteriosa e determinada na
composição de Gamora; reforçada pela presença de sua irmã Nebulosa, contraponto
ideal; As vozes de Bradley Cooper e Vin Diesel emprestam as nuances necessárias
para Rocky e Groot, outro ponto alto da projeção em diversas ocasiões. Mas realmente
quem “rouba a cena”, não apenas por ser um saqueador (desculpem o trocadilho
infame), é o Yondu de Michael Rooker. Conferindo tridimensionalidade ao seu
personagem, o azulado é responsável pelos momentos mais emocionantes do longa.
Aliás, interessante perceber que o roteiro de Gunn tenta fugir
do maniqueísmo, comum nesses gêneros, buscando retratar cada sujeito com certa
complexidade, nunca sendo inteiramente bom ou ruim por completo. Por isso a
adição de Rooker ao elenco (que, segundo os bastidores, insistiu com o diretor
para ficar com o papel) soma tanto ao resultado final.
Já a trilha sonora, por sua vez, é uma diversão à parte.
Inspirados nos anos 80, os hits alegram e emocionam, ao bel-prazer do cineasta,
pontuando e marcando o tom dos takes. Interessante notar que até o som das
naves atirando lembra os ruídos de um Atari, ou algum videogame da época. Portanto,
este artifício de inserção de músicas, como aconteceu no capítulo anterior,
também funciona nesta sequência, sendo mais um diferencial da franquia. Tanto é
assim que pouco antes do filme estrear, Gunn soltou um setlist das canções, tal
qual uma banda faz nas vésperas de um grande show, o que não deixa de ser
verdade aqui. No entanto, confesso que senti falta de “Hooked on a Feeling” por ser tão
icônica e lembrar diretamente o supergrupo.
Embora dono de um terceiro ato inchado, duração exagerada (2h
e 18m) e ainda contendo cinco cenas pós-créditos, “Guardiões da Galáxia Vol.2”
não é mais do mesmo, felizmente, pois avança na história ao passo que cativa o
público com o desenvolvimento desses heróis improváveis.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9.0