Por Rafael Morais
18 de maio de 2017
Vendido como “a volta de Ridley Scott ao universo de horror
espacial”, o qual ele criara em 1979, esse “Covenant” de 2017 veio repleto de
expectativa em torno do mistério de “Prometheus”, se esvaindo na própria
ambição de grandiloquência, digna dos piores blockbuster’s americanos.
A trama da vez se passa em 2104.
Viajando pela galáxia, a nave colonizadora Covenant tem por objetivo chegar ao
planeta Origae-6. Contudo, um acidente cósmico, antes de chegar ao seu destino,
faz com que Walter (Michael Fassbender – sim, o ator agora representa dois
papeis, já que no filme antecessor o autômato David “sobreviveu” àqueles
acontecimentos), o androide a bordo da espaçonave, seja obrigado a despertar os
17 tripulantes da missão, formada por casais em sua maioria. Assim, Oram (Billy
Crudup) precisa assumir o posto de capitão, tudo em meio aos consertos, reparos
e descobertas da nave pousada em um planeta desconhecido, que, em tese,
abrigaria as condições necessárias para abrigar vida humana. Oram e sua tripulação
decide desbravar melhor este novo mundo, considerando até mesmo a possibilidade
de deixar de lado a viagem até Origae-6 e se estabelecer por lá, se não fossem
as ameaças mortais que encontrariam.
É nesta premissa que o roteiro, escrito a duas
mãos por John Logan e D.W. Harper
(com tratamento do próprio Scott, que eu sei!), tenta estabelecer a narrativa
do filme, que jamais se decide por qual tom/gênero vai seguir: sci-fi
aventuresco ou horror espacial. É lamentável, neste sentido, constatarmos uma
obra com um elevado potencial ser desperdiçado em meio às filosofias baratas,
diálogos rasos e atuações genéricas. Patética, a equipe da Covenant comete um
erro atrás do outro, desastrosamente, sendo diretamente responsável pelo caos
instaurado e por quase todos os conflitos apresentados. Chegando ao ponto de
uma tripulante atirar num tanque de combustível na tentativa de acertar uma
criaturinha do tamanho de um Gremlin, o que acaba ocasionando a explosão da
espaçonave. Mas não para por aí. Biólogos agridem e pisam em uma biosfera nunca
antes habitada, de um planeta desconhecido, como se tivesse no Central Park,
entre outras atitudes bizarras e incoerentes de seres humanos que tinham a
intenção de colonizar um novo planeta.
Frustrante também na tentativa de alçar Katherine
Waterston (Daniels) à nova
Ripley (Sigourney fucking Weaver), como tentara com a Elizabeth Shaw (Noomi
Rapace) de “Prometheus”, mas que aqui não funciona novamente. Os idealizadores,
muito menos o Sr. Scott, não entendeu que não basta colocar uma mulher armada e
com cabelo curto numa nave, enfrentando um alienígena, para alcançar o nível icônico
de Ripley.
Mas nem tudo é um desastre, pois os diálogos dos androides,
vividos por Michael Fassbender, destoam positivamente das demais atuações, entregando
nuances complexas às suas personas. E já no início do longa, percebemos que o
filme daria mais ênfase ao autômato, dotado de inteligência artificial (mais
inteligentes do que os humanos do filme, por sinal), ao ponto de levantar
questionamentos existenciais com o seu criador, Peter Weyland (Guy Pearce).
Somado a isso, apenas umas três sequências escapam - em um filme de
mais de duas horas de duração – e àquela que se passa em um banheiro é tão bem realizada, apesar de
apressada para se resolver, que fica gravada em nossa memória. Ainda assim, os
clichês estão espalhados por toda parte, assim como os poros responsáveis pela
infecção da trupe. Perceba que quando um tripulante, vítima sempre em
potencial, resolve fazer sexo ou simplesmente sua necessidade fisiológica no
meio da mata, desconhecendo as leis do cinema de horror, é uma questão de tempo
para a sua morte chegar, estragando o suspense por completo.
Enfim, é uma pena que o próprio cineasta, criador da franquia, não
perceba que aquele ambiente claustrofóbico concebido em “O 8º Passageiro” através
de poucos efeitos especiais digitais, prevalecendo os práticos, além da
utilização da sugestão do medo, em contraponto à sua explicitação, foi o grande
diferencial da franquia Alien, não sendo, nem de longe, retratado nas sequências.
Definitivamente, Criador e Criatura parecem não mais se entender, e o pior é
que já estão confirmadas mais duas continuações no mesmo universo. Haja
criatividade...
*Avaliação: 3,0 pipocas + 2,5 rapaduras = nota 5,5.