Por Rafael Morais
25 de agosto de 2016
Apadrinhado por James Wan, o atual nome do cinema de terror
hollywoodiano, David F. Sandberg criou o
aclamado curta-metragem “Lights Out” (disponível no youtube), motivo pelo qual chamou a atenção de seu
mentor. E o novel cineasta, com a produção garantida, não demorou a receber o sinal verde para
dirigir um longa baseado em seu curta de grande sucesso na web: e foi assim que
“Quando as Luzes se Apagam” surgiu.
O filme conta com um roteiro simples e
enxuto, capaz de expandir para oitenta e minutos o universo apresentado nos
três minutos do curta, sem muitas firulas técnicas, mas que prende o espectador
até o final da sessão. A história narra o drama de Sophie (Maria Bello, typecasting certo para esse tipo de
papel), que quando internada na adolescência em um hospital psiquiátrico, para
tratar de uma forte depressão, conheceu uma “colega”, também paciente, chamada
Diana. Proposta a ser a nova Samara (“O Chamado”) da vez, Diana sofria de uma
rara doença de hipersensibilidade à luz, além de carregar consigo uma grande
mágoa com todos à sua volta por possuir este problema. E com razão: a menina
passa por brutais experimentos científicos durante o seu tratamento que, por
sua vez, desfecha em uma tragédia. Obcecada, Diana estabelece uma relação de
amizade obsessiva com Sophie, o que ocasionará diversos problemas no futuro da “amiga”,
vindo a acompanhá-la, como uma maldição, até mesmo quando fica mais velha, com
marido e filhos.
Neste contexto, disposto a lidar com um dos medos mais primitivos
do ser humano: o escuro, remetendo ao desconhecido, Sandberg sabe conduzir a
trama com sua câmera bem postada, através de uma linda fotografia que evoca,
com inteligência, a dualidade no embate entre as sombras e as luzes. Não é à
toa, por exemplo, que a película tem início por meio de um enquadramento fechado em uma lâmpada acesa no poste, extremamente clara e forte, para depois abrir lentamente o escopo,
ficando subentendido que aquilo será essencial para a sobrevivência dos
personagens.
Ponto positivo também para os efeitos visuais que soam orgânicos,
demonstrando naturalidade, já que não somos sobrecarregados por CGI’s (computação gráfica) em excesso. Os cortes secos, utilizados
na preparação para o ataque da ameaça, se encaixam perfeitamente na montagem,
sobretudo quando a claridade oscila com a escuridão. Não menos interessante é a construção do
suspense, culminando com os sustos, os famosos jump scares. O pupilo parece ter aprendido direitinho com o mestre –
vide a franquia “Invocação do Mal”, por exemplo.
Embora coeso e direto ao ponto,
“Quando as Luzes se Apagam” ainda consegue quebrar
algumas convenções do gênero, fugindo de clichês ao não cair nas armadilhas
óbvias que alguns personagens teimam em cometer nestes tipos de filme. Aqui,
Rebecca (a linda Teresa Palmer), filha de Sophie, tenta ajudar o irmão mais
novo Martin (Gabriel Bateman), juntamente com o seu namorado Bret (Alexander
DiPersia, o aspirante a Johnny Depp do momento – lembre-se que Depp já
participou de “A Hora do Pesadelo” no início de sua carreira) sempre seguindo caminhos inteligentes e tomando decisões lógicas, o que é bastante raro num
script de terror.
Com um desfecho corajoso, o longa se desprende da média por
não enrolar o espectador com reviravoltas cansativas, muito menos com cenas do
tipo: “ela vai voltar...ainda não acabou, tem mais...”; apesar de que a
continuação já está encomendada graças ao sucesso de público/renda que tem
feito. Merecido, por sinal!
*Avaliação: 4,0
pipocas + 4,0 rapaduras = nota 8,0.