Por Rafael Morais
03 de maio de 2016
Os irmãos Anthony e Joe Russo parece que pegaram o jeito de filmar os heróis da
Marvel, tendo em vista o sucesso na direção de "Capitão América 2: Soldado
Invernal", que garantiu aos cineastas o comando dos próximos filmes dos Vingadores.
E aqui em "Guerra Civil" não é diferente: os diretores conduzem com
agilidade suas câmeras capazes de colocar o espectador no centro da ação,
através de tomadas próximas e ágeis, harmonizando com a coreografia da luta e
sua mise en scène.
Neste terceiro episódio da saga
de Steve Rogers, contamos com o reforço de mais uma dúzia de coadjuvantes
quando o registro dos heróis está em pauta. Se de um lado o governo precisa
identificar os protagonistas e comandar as missões, “legalizando-as”, por
outro, há uma intimidação por parte dos subordinados quando o assunto é agir
dentro dos interesses do governo, limitando a liberdade dos envolvidos. Como
catalisador desta celeuma, temos a história de amizade entre Buck (Sebastian
Stan) e Rogers (Chris Evans) que é posta à prova, novamente, quando o “Soldado
Invernal” é perseguido pelo cometimento de supostos atentados. O conflito se
instaura ainda mais na figura do vilanesco Zemo (Daniel Brühl), um sujeito maquiavélico que
não mede esforços para tramar o seu plano de vingança.
E como o universo
cinematográfico da Marvel/Disney nos cinemas é todo amarrado, este novo
capítulo será melhor apreciado por quem já vem acompanhando a franquia. Assim,
identificar as motivações de cada um para escolher em qual lado vai estar nessa
divisão, se torna tarefa fácil na medida em que o espectador conhece a
personalidade de todos ali envolvidos. Méritos para o roteiro e à homogeneidade
do universo proposto. Em meio a essa rachadura/divisão, não demora para Tony Stark
(Robert Downey Jr.) se colocar ao lado do controle governamental, em detrimento
da liberdade ideológica pregada pelo “Capitão América”, líder dos Vingadores no
auxílio à humanidade.
E é justamente numa dessas missões que o filme se inicia,
obtendo um desfecho trágico ocasionado por Wanda/Feiticeira Escarlate
(Elizabeth Olsen). Carregados pela culpa na morte de centenas de civis sempre
que os super-heróis precisam intervir, o Secretário de Estado Ross (William
Hurt) propõe o tratado de Sokovia no intuito de pôr fim ao anonimato e
independência. Deste modo, a partir de sua assinatura, o informal será formal,
ganhando respaldo do Estado-Maior ao dissabor de seu próprio interesse. Ponto
para este argumento politicamente corajoso em se tratando de um
"simples" blockbuster de super-heróis.
Aliás, a sequência em que meia
dúzia destes se engalfinha no aeroporto é empolgante, ao ponto de nos remeter à
nossa infância quando misturávamos, nas brincadeiras, bonecos em situações
improváveis, colocando-os frente a frente, sem pudor algum, tornando o surreal
de ontem o palpável de hoje. Destaque também para Tom Holland como
"Homem-Aranha". Esbanjando carisma, o ator acerta no tom juvenil de
seu Peter Parker, no que pese o apadrinhamento do "Homem de Ferro"
limitar a motivação do “teioso”. Na verdade, espero, desde já, que essa
condição não alcance os outros filmes do “Aranha”, tendo em vista se tratar de
um herói que já tem os seus motivos e vilões próprios de sobra para se virar
sozinho, embora o seu desprovimento de grana, característica que sempre aproximou o
amigão da vizinhança do espectador, dada a sua humanidade.
De todo modo, o
longa ainda apresenta um pouco de Wakanda na presença do "Pantera
Negra", que ganhará um filme solo em breve, obtendo no seu arco dramático
uma notável evolução no que diz respeito à índole do personagem: a vendeta
pessoal, por si só, não satisfaz aquele rei. Contudo, tecnicamente, no que pese
os excelentes efeitos especiais, o filme peca na composição do clímax, faltando
uma trilha sonora marcante para os momentos épicos, além da apressada resolução
diante de uma complexa proposta inicial.
O humor, por sua vez, marca registrada
do Marvel Studios, surge deslocado, aqui e acolá, dado o clima tenso, quase sombrio,
não necessariamente nas cores empregadas, já que a película é banhada por uma
fotografia colorida, mesmo diante do caos apresentado. Deste modo, “Guerra
Civil” significa mais um acerto da franquia, pois consegue a dosimetria entre a
comédia e a ação, respeitando os fãs dos quadrinhos, ao passo que agrada o público
em geral: que venham as cenas dos próximos capítulos...
*Avaliação:
4,5 pipocas + 4,0 rapaduras = nota 8,5.