Por Rafael Morais
Em 15 de maio de 2016
Disposta
a se comunicar com uma novíssima geração de usuários de jogos de celular, mídia
rápida e acessível, a adaptação de Angry Birds para os cinemas veio com um
desafio enorme: criar uma história para um “joguinho” (sucesso com mais 03
bilhões de downloads) de conceito simples que consiste em arremessar pássaros
em porcos, por meio de um estilingue gigante, destruindo o que estiver em
volta. A missão foi aceita pela Sony Pictures Imageworks, em parceria com a
Rovio, produtora do game, que abraçou a ideia.
Contudo, o roteiro escrito por John
Vitti é frágil, tal qual a premissa, apesar de algumas piadas aqui e ali funcionarem, não
conseguindo se segurar num fio de história. Red (na voz de Marcelo Adnet), o
protagonista da trama, é um pássaro estressado que não sabe lidar com a raiva.
Como consequência, após um de seus surtos de ira, o “Seu Lunga” das aves acaba condenado
a participar de sessões de terapia, comandadas por Matilda (dublada por Dani
Calabresa), ocasião em que conhece os colegas, agora parceiros, Chuck (Fábio
Porchat), Bomba (Mauro Ramos) e o gigante Terêncio. No entanto, o conflito
surge com a chegada inesperada dos porcos à ilha dos pássaros com o objetivo de
roubar-lhes os ovos.
Assim, toda a apresentação é bem contada, tanto do passado
de Red, quanto da trupe, fazendo com que o final do segundo ato e todo o
terceiro destoe deste início carismático. Sabendo das dificuldades para adaptar
um jogo de celular às telonas, o diretor Fergal Reilly
se apoia em referências pops acertadas, embora isso demonstre insegurança na narrativa,
trabalhando em uma clara zona de conforto, o que se evidencia pela utilização formulaica
de canções que passeiam por Black Sabbath, Limp Bizkit a Demi Lovato. Inclusive, “I Will Survive” não
ficou de fora, com direito a dancinhas, durante a sessão, de algumas
espontâneas crianças que estavam próximas a mim. Neste cenário, o clima de “feel
good movie” estava no ar através de uma paleta colorida, leve e descomprometida.
“Angry Birds – O Filme” carrega o DNA de sua origem, tanto que a própria
linguagem narrativa se assemelha ao público de celular, das mídias sociais,
como na utilização das famosas expressões “só que não” e “tipo”, além dos
momentos “selfies”. Tudo se harmoniza e fala ao espectador que consumiu o game.
Já para aqueles que não conheciam tanto a essência desta animação, referências
a outros filmes surgem apropriadas, arrancando-nos um sorrisinho na ponta da
boca: sim, a película piscou para mim! O que dizer da alusão a “O Iluminado” de
Stanley Kubrick? Genial! E quando o ligeiro Chuck altera a física do ambiente,
tamanha a sua velocidade, mexendo na dinâmica dos guardas, percebemos a notória homenagem à
sequência do Mercúrio em “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”.
Temos, ao final,
uma animação em busca de personalidade própria, já que desperdiça o apuro
visual por se assemelhar demasiadamente aos “Minions”, além de não alcançar,
simultaneamente, o público infantil e adulto, diferente da concorrente “Pixar” que parece ter
achado a fórmula há tempos. Perceba, portanto, a dificuldade da película em passar a sua mensagem,
que, embora simplória, se perdeu em algum take: a raiva é um dos sentimentos
inerentes ao ser humano, logo, deve ser utilizada no momento certo, assim como
a tristeza abordada em “Divertida Mente”, guardada as devidas proporções entre
a sensibilidade artística de um estúdio e outro em sua abordagem.
*Avaliação:
3 pipocas + 3 rapaduras = nota 6,0.