Por Rafael Morais
20 de maio de 2016
Em “X-Men: Apocalipse”, o cineasta Bryan Singer continua o
seu legado à frente dos mutantes, sempre fiel às suas origens, tanto dos
quadrinhos quanto das séries animadas. Assim, acertadamente, a franquia opta
por balancear o fan service, garantindo também a diversão do público médio.
Neste mais recente episódio, que se passa na década de 80, após os
acontecimentos de “Dias de Um Futuro Esquecido”, os filhos do átomo se deparam
com uma ameaça ancestral na figura de Apocalipse (o excelente Oscar Isaac),
vilão que acredita ser deus tamanho o seu poder e antiguidade, sendo um dos
primeiros mutantes a surgir na Terra. Com um argumento vilanesco deturpado - e
megalomaníaco - o antagonista confunde os seus poderes oriundos da mutação
genética com algo sobrenatural, religioso, quase predestinado.
Tudo isso rende um
subtexto inteligente, com ótimos diálogos, em que pese o derradeiro ato se
entregar demasiadamente à emoção da catarse (e não que isso seja ruim) para
cair no motivo trivial. Partindo de uma introdução épica, surpreendentemente
carregada no gore, o filme se comunica bem com a década oitentista através da
escolha de figurinos coloridos, uniformes extremamente fieis, sem receio do tom
cartunesco, representando honestamente o contexto histórico.
A direção de arte,
por sua vez, também brilha na composição dos cenários: repare nos detalhes do
quarto de Mercúrio (o ótimo Evan Peters), bem como nas referências pop inseridas na película. Tudo grita a ambientação proposta: fliperama do Pacman, camisetas
com a logomarca do videogame Atari, Star Wars - O Império Contra-Ataca sendo
assistido nos cinemas, enfim, nada foge da caprichada produção.
Não menos interessantes
são as relações entre os novos X-Men – e o elenco sustenta o fio de história do
roteiro – comandados por um James McAvoy (Professor Xavier), cada vez mais
inspirado, e Michael Fassbender (Magneto), que continuam compartilhando suas
lágrimas, sem pudor, entregando um viés emotivo às suas personas. Aliando
experiência e juventude, soma-se à equipe o Ciclope (Tye
Sheridan), Jean Grey (Sophie Turner, a Sansa Stark de Game of Thrones) e o
Noturno (o ator de teatro Kodi Smit-McPhee).
O carisma do time é notório,
principalmente no que os X-Men têm de melhor: a interação entre os personagens
descobrindo os seus poderes, trocando experiências ao tocar em temas como
adolescência e puberdade. É tocante notar a solidadriedade entre os mutantes, independente de qual o lado do discurso. O pano de fundo sobre questões como
acessibilidade, tolerância e preconceito está lá para quem quiser ver. Neste
ponto, causa estranheza a opção em deixar a Mística (vivida pela oscarizada
Jennifer Lawrence) quase não aparecer azul, na forma natural. Certo que a atriz
por trás da máscara está em plena ascensão, o que configura mais uma escolha
mercadológica do que artística em escancará-la, porém, enfraquece a personagem
para uma próxima atriz que assumir o manto.
Mesmo assim, este novo capítulo
guarda sequências de ação empolgantes, memoráveis cenas envolvendo Magneto, e
mais uma espetacular participação de Mercúrio, ratificando que Singer descobriu
como utilizar o personagem, diferente de Joss Whedon em “Vingadores: Era de
Ultron”. No mais, a rápida participação de Hugh Jackman, na pele de seu imortal
Wolverine (não é spoiler, estava nos trailers), é marcada por um visual
selvagem, e ação sanguinária, que se assemelha demais com os arcos da “arma X”
nas HQ’s.
Ao final, o longa entrega o que prometeu: um divertido blockbuster recompensado
por atuações inspiradas, porém, autoconsciente que o terceiro capítulo de uma
franquia sempre é o mais fraco, aproveitando a piada metalinguística citada no
próprio filme.
*Avaliação: 4 pipocas + 4 rapaduras =
nota 8,0.