Com a aproximação do Oscar 2016, compilamos as resenhas dos filmes indicados em categorias diversas, tais como: Creed, Sicario, Star Wars, entre outros..
Por Rafael Morais
CREED: NASCIDO PARA LUTAR
- Melhor ator coadjuvante: Syslvester Stallone
Em um determinado momento de "Creed: Nascido para Lutar" você percebe que está tão envolvido no filme, mas não sabe em que momento isto aconteceu, como a obra te levou por aquele caminho ao ponto de se pegar emocionado com diversas cenas em que Sylvester Stallone (o eterno Rocky Balboa) surge atuando com tamanha naturalidade, trazendo mais uma nuance e tridimensionalidade àquele clássico personagem, revelando outras notas de um universo já tão explorado. Sim, a resposta para tamanho envolvimento é justamente o ótimo roteiro, a inspirada direção de Ryan Coogler (que também escreveu) e a estupenda interpretação do agora setentão Stallone (outro responsável pelo roteiro). Contido, carismático e em sintonia com o personagem, que ele mesmo criou, o ator nunca esteve tão bem no papel. Desde as cenas mais dramáticas (e aquela em que Rocky bate um papo com seus entes queridos no cemitério é magistral), até as reservadas ao humor, presenciamos uma atuação forte, segura e merecedora de todas as premiações que vem conquistando (e a carequinha dourada é a próxima, pode anotar). Na sétima empreitada de Rocky nos cinemas, desta vez cedendo o seu protagonismo ao posto de coadjuvante para contar a história de Adonis Johnson (Michael B. Jordan): um jovem que passou uma difícil infância no orfanato quando perdeu a mãe, ainda criança, fruto de uma relação extraconjugal com o seu pai, o lendário boxeador Apollo Creed, que veio a falecer antes mesmo de Donnie (como gosta de ser chamado) nascer. Neste contexto, adotado pela bondosa esposa de Apollo, Adonis usufrui uma vida de luxo trabalhando na empresa da mãe adotiva, mesmo conciliando, às escondidas, combates de boxe clandestinos em outro período. E não demora para o protagonista do momento largar a sua zona de conforto em busca do que ele realmente gosta de fazer: lutar boxe. Para tanto, se muda para um apertado e humilde apartamento na Filadélfia, onde procura Rocky no intuito de treiná-lo. Destaque para a direção de arte que explora muito bem a diferença entre as residências de Donnie: se antes o sujeito aparecia em um apartamento enorme, com tons dourados, sendo focado em plano aberto, quase se perdendo nas escadas de sua morada; agora, os cômodos podem ser vistos em apenas uma ou duas tomadas, com uma paleta marrom, lembrando poeira, além de dar ênfase a enquadramentos fechados, sugerindo certa claustrofobia diante da brutal diferença na sua qualidade de vida. Tudo fruto do "admirável" mundo novo a que ele estava se submetendo. Nesta espécie de reeboot e sequência, ao mesmo tempo, a nostalgia é construída cuidadosamente não só na inserção de easter eggs (detalhes que os fãs encontrarão no filme), mas, principalmente, quando adapta o saudosismo com respeito, trazendo temas para os nossos tempos atuais, piscando para o novel público apresentado. Neste sentido, não seria uma mera coincidência comparar Creed ao novo episódio da saga Star Wars - O Despertar da Força, o que pode indicar uma "tendência" em Hollywood, uma vez que a secundarização do principal personagem também acontece aqui, onde o espectador permite o novo, sem preconceitos, sabendo que há uma "mão no ombro", quando pode se perguntar, ainda nostalgicamente apegado: mas cadê o Rocky? Estamos no mesmo universo, e Coogler sabe da importância de nos situar ali. Sua direção é ousada ao ponto de utilizar diversos planos-sequência (longas tomadas sem cortes), principalmente na segunda luta de Donnie. Desta forma, o cineasta inova na maneira de se filmar boxe a partir do instante em que não deixa o espectador respirar, tal qual o atleta em cima do ringue. O senso de urgência e tensão cresce nos travellings (giro da câmera em 180 ou 360°), focando os golpes dos pugilistas para só depois mostrar as consequências, como um supercílio aberto, por exemplo. A pancada, sempre dura e seca, é ressaltada pelo ótimo design de som, lembrando, em certos instantes, obras como “Touro Indomável”. Sem esquecer que está lidando com um clássico, o diretor insere cuidadosamente a trilha sonora icônica de Bill Conti, mesmo que de forma suave e hesitante, algumas vezes, se preocupando em criar algo novo na composição da música tema de Adonis. Assim, o compositor Ludwig Göransson permeia entre o passado melancólico, a trajetória sofrida e a referência clássica na melodia de Creed. E se o filme aborda a busca do protagonista em tentar sair da "sombra do passado", se referindo à relação pai e filho, também acerta na construção de rimas visuais eficientes, sendo até certo ponto metalinguísticas – como na cena em que Adonis acessa pelo Youtube uma luta de seu pai enquanto simula, contra a luz do projetor, aquele combate. Por fim, ganhamos um excelente capítulo desta franquia, uma das mais queridas pela crítica e pelo público, reoxigenada por uma nova e talentosa geração.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0
*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0
OS 8 ODIADOS
- Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Jason Leigh
- Melhor Fotografia: Robert Richardson
- Melhor Trilha Sonora: Ennio Morricon
O oitavo filme de Quentin Tarantino pode carregar em seu título uma metáfora: os "8 odiados", em questão, poderia ser, além da óbvia indicação numérica dos protagonistas, uma referência à filmografia do cineasta, pelo ponto de vista de seus detratores?! É certo que muitos torcem o nariz para o cinema de Tarantino, talvez por isso a ironia já no título. De todo modo, a trama da vez gira em torno de uma diligência, ambientada após a guerra civil americana, onde o carrasco John Ruth (Kurt Russel) se incumbe de levar a prisioneira Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) à cidade de Red Rock, local em que será julgada e condenada à forca em decorrência de seus crimes cometidos. Mas no caminho, em meio a uma forte nevasca, os planos de Ruth começam a mudar quando topa com o Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson) no seu caminho, um enigmático caçador de recompensas, resolvendo dar carona a este sujeito após um longo diálogo de convencimento. Além de Warren, o aspirante a xerife Chris Mannix (Walton Goggins) também atravessa o destino da carruagem, embarcando naquela inesperada expedição. Dividido em capítulos, como já é comum em algumas de suas obras, o filme se preocupa em apresentar estes personagens, durante o seu primeiro ato, estabelecendo as suas intenções através da profundidade que os detalhados diálogos oferecem. Assim, é no segundo ato que o conflito ganha forma com a chegada do comboio - fugindo da severa tempestade - no armarinho de Minnie e Sweet Dave. A partir daí, o longa investe num clima claustrofóbico, enfatizado por enquadramentos que remetem ao enclausuramento, uma vez que dentro da cabana conhecemos os demais personagens: o britânico Oswaldo Mobray (Tim Roth imitando claramente Christoph Waltz), o cowboy Joe Gage (Michael Madsen), o mexicano Bob (Demian Bichir), o idoso general confederado Sanford Smithers que lutou contra os rebeldes (Bruce Dern) e o cocheiro O.B Jackson. Rodado em 70 mm, em câmeras Ultra Panavision, o diretor consegue ampliar a profundidade de campo, explorando ainda mais o universo microcosmo daquele inóspito local. Mérito também para a bela e evocativa fotografia de Robert Richardson, que consegue entregar uma identidade à cabana, com pouca luz, mas, aquecida, sempre em tons amarelos, dando ênfase em objetos importantes na mise en scène, contrastando com o clima gélido e branco da nevasca lá fora. Contudo, como não estamos falando de um filme qualquer, Tarantino trata logo de apresentar as suas "armas" e o sangue não demora a jorrar, e em profusão, literalmente. Violência gráfica, sarcasmo, montagem não linear, o perfeito uso de músicas pontualmente inseridas: tudo grita o estilo tarantinesco. Identidade visual não falta ao longa, definitivamente. E o uso das cores, neste sentido, faz toda a diferença: como não notar o bule azul, objeto decisivo no roteiro? Como não reparar nos bombons espalhados pelo chão da cabana, pedindo atenção para cores alegres em meio ao caos? Ponto também para a minuciosa direção de arte que capricha no design interior do armazém. Cercado por correntes e ganchos, o ambiente remete não só à relação da prisioneira, mas de todos os personagens ali envolvidos que de certo modo também estão encurralados. Sem contar com a ilustre trilha sonora original composta por ninguém menos que o mestre Ennio Morricone. Compositor acostumado a criar temas para westerns, Morricone foge do clichê e traz uma abordagem com notas de tensão, carregada de suspense, que quando entra em cena toma o filme para si, de tão impactante e icônica. Os prêmios e as indicações conquistadas não são à toa. Já quanto à interligação dos filmes, o próprio Tarantino já declarou que todos fazem parte do mesmo universo. Será que os doces vendidos no armazém de Minnie têm relação com aqueles mostrados em Django Livre, quando o vilão Calvin Candie (que remete a Candy, doce), vivido por Leonardo Di Caprio, aparece com os dentes podres de tanto consumir estas deliciosas balas? O certo é que temática e cronologicamente, esta nova película se passa após as aventuras de Django, já que oficialmente a escravidão já havia acabado, pelo menos no papel. O racismo, tema recorrente, também está presente aqui e em suas diversas formas. Perceba, em um olhar mais apurado, que o longa não se preocupa apenas com o inevitável impasse mexicano - coisa que o diretor já havia feito em "Cães de Aluguel" - e menos ainda com o tiroteio desvairado (Django está aí para isso); em "Os 8 Odiados", Tarantino vai além e constrói, alegoricamente, uma visão da sociedade americana baseada na representatividade, incluindo, sobretudo as minorias: uma mulher marcada para morrer, sem direito à defesa e julgada por homens, que a maltratam constantemente; um mexicano, que através da sua mão de obra, participa ativamente da construção do conflito e mesmo amigo dos americanos sempre é o primeiro a ser acusado, podendo ser interpretado como um representante da classe de imigrantes daquele país; o operariado na figura do cocheiro O.B. Jackson, sempre escolhido para os trabalhos mais pesados e difíceis, exposto ao relento do frio e até mesmo quando é "sorteado" o sujeito é escolhido; o negro lutando pela sua igualdade, mesmo que para isso precise se utilizar de mecanismos ilusórios, atraentes aos olhos dos brancos (e a carta que Warren carrega retrata bem isso), como uma forma de se aproximar e ganhar respeito, mesmo trapaceando; um idoso preconceituoso, na figura de um general confederado que já matou inúmeros homens “pelo bem” da nação; o mercenário, caçador de recompensa que já trucidou índios durante a guerra; e um homem da lei, o xerife sem estrela, sem distintivo, apenas na palavra, na persona "inocente" de Mannix. Sim, estamos diante de uma obra que deve ser apreciada com paciência e detalhismo, até porque possui quase 3 horas de duração. Enfim, demonstrando o domínio habitual às suas narrativas, Tarantino, que também escreveu o roteiro, dar o ar da sua graça em uma participação como sujeito interlocutório, abusando da metalinguagem, ao narrar uma sequência importante à história, tirando o espectador de um foco para outro, jogando com a nossa percepção, ao tempo em que homenageia o mais puro Cinema.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 5 rapaduras = nota 9,5
DIVERTIDAMENTE
- Melhor Animação
- Melhor Roteiro Original
Em “Divertida Mente”, a Pixar consegue se reerguer após os seus recentes fracassos de crítica: “Carros 2” e “Universidade Monstros”. Para isso, Peter Docter (criador de Up – Altas Aventuras e Monstros S.A), ficou a cargo da direção e roteiro dessa mais ambiciosa animação já produzida pelo estúdio. Se levarmos em conta os conceitos utilizados no filme, bem como a abordagem e construção temática, sem dúvida estamos falando da mais audaciosa produção da Pixar. Tudo começa com o nascimento da garotinha Riley, personagem que iremos acompanhar de perto, literalmente, já que na sua sala de comando (cérebro) seremos apresentados a: Alegria, Raiva, Nojinho (poderia ser chamada de preconceito), Medo e Tristeza, emoções que passam a fazer parte da vida daquela cativante menina. Portanto, dentre esses sentimentos, quem lidera é a Alegria, que se esforça sobremaneira para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz. Contudo, aos 11 anos de idade, pré-adolescente, a protagonista tem que enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. A trama e os seus conflitos têm início após uma confusão na sala de controle, fazendo com que a Alegria e a Tristeza sejam expelidas para fora do comando. A partir de então, o espectador é transportado à imensidão efervescente que é a mente de um ser humano, sobretudo em formação, que é o caso de Riley. A criatividade dos roteiristas, por sua vez, não tem limites quando a Alegria e a Tristeza percorrem as várias ilhas existentes nos pensamentos de Riley, no intuito de retornarem à sala de controle resgatando as memórias-base perdidas no incidente, e, enquanto isto não acontece, a vida da garota muda radicalmente. O filme, neste prisma, ganha contornos de road movie, quando as emoções vão conhecendo outros personagens durante a jornada, habitantes daquele universo fantástico e personificado, todos carismáticos e essenciais à narrativa. Interessante perceber também como o filme aborda questões complexas de maneira simples e poética. Desta forma, colocar todas as emoções em pé de igualdade e importância demonstra certa maturidade, mesmo que para isso o emprego de metáforas e personificações seja livremente imaginativo, agradando tanto o público adulto quanto o infantil: outra característica marcante na filmografia da Pixar. Será que o Studio Ghibli deixou sua marca e ensinamento aqui? De certo é que, às vezes, abraçar o caos é essencial para se sobressair de uma crise. E nesse ponto o filme dialoga com a atual situação da empresa, que em recente entrevista do produtor Jonas Rivera admitiu, diante da inércia de boas ideias e projetos originais, uma pequena crise interna. Contudo, se após a tempestade há sempre a bonança, para o bem do equilíbrio, sabemos que a tristeza é tão essencial quanto a alegria - e o desfecho do longa perpassa por essa questão - logo, a arte imitou a vida e assim se fez “Divertida Mente”. Vale notar, igualmente, que as animações da premiada empresa, como de costume, conseguem emocionar o público sem nunca ser piegas ou apelativa. Já virou tradição, e aqui não foi diferente. A delicadeza com que as cenas mais dramáticas são construídas se harmoniza com a caprichada direção de arte e design, marcando o tom da projeção. Não menos fantástico é o uso das cores vibrantes para os cenários quentes e alegres, assim como as respectivas personas, contrastando com a paleta gélida, por vezes acinzentada, inserida em situações de desânimo, por exemplo. Aliás, conceitos como consciente, subconsciente, depressão, sonhos e comportamento, de maneira geral, são extremamente bem desenvolvidos, ao ponto de me fazer acreditar que esta animação será obrigatoriamente exibida em grades de cursos de psicologia, sobretudo a infantil. Aliás, para quem aprecia Cinema, esta é uma obra indispensável, independente de qual área você atue, já que a Pixar costuma falar sobre temas universais que transitam entre o existencial e o filosófico. E o que será ”Divertida Mente” se não uma viagem pelo interior de um ser humano e sua complexidade?
*Avaliação: 5,0 pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10
*Avaliação: 5,0 pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10
007 CONTRA SPECTRE
- Melhor Canção Original: "Writing's On The Wall" - Sam Smith
Com um início arrasador, através de um belo e longo plano sequência, acompanhamos Bond, James Bond, em uma missão na Cidade do México, no dia dos mortos, ocasião bastante sugestiva para os acontecimentos que se sucederão. Contudo, é uma pena que o restante do filme não se harmonize com o “cartão de visita”. Não por culpa de Daniel Craig que, apesar de ter contrato para mais um filme disse em uma entrevista que “preferiria cortar os pulsos a fazê-lo”, continua emprestando seu ar elegante e descolado para um 007 sempre imerso em mistério, coisa que esta nova franquia resolveu explorar, insistindo em voltar ao passado do agente em busca de respostas à sua origem. Diferente de "Skyfall" e "Cassino Royale", este SPECTRE tem um roteiro formulaico, disposto a amarrar todas as pontas soltas, soando forçado também quando conecta o universo do protagonista, sem necessidade, já que os capítulos anteriores funcionavam separadamente, com exceção do destoante "Quantum of Solace". Mesmo se assemelhando mais aos filmes antigos e da mitologia do espião criado por Ian Fleming - como a ação no trem ("Moscou Contra 007"), o gato do vilão e o tom por vezes cartunesco emprestado ao longa - tudo isso não salva o resultado deste capítulo. Sam Mendes ficou novamente a cargo da direção, demonstrando sua competência habitual. O problema fica por conta do vilão vivido pelo oscarizado Christoph Waltz. O clássico personagem Blosfeld - maior antagonista no cânone das histórias de Bond - não consegue se estabelecer como uma ameaça, a não ser na primeira vez que aparece imerso nas sombras, envolto em uma atmosfera tensa, quase sem diálogos, na cena da reunião, mas, que não consegue se sustentar até o desfecho. Pelo contrário, depois disso temos um Waltz pouco inspirado, com figurino tosco e sorriso fácil, característicos de outras personas interpretadas pelo ator em diferentes filmes, parecendo ter saído de “Grandes Olhos” (“Big Eyes” de Tim Burton), por exemplo. Mas estamos falando de um filme de 007, e um dos mais caros da história, por sinal, logo, queremos ver tudo à altura do que já foi realizado, por isso a decepção com o resultado deste “Spectre”. Até o capanga, no estilo “jamanta”, que deveria homenagear o icônico vilão “Jaws”, fica no meio do caminho. O que dizer da troca dos dentes de aço pelas unhas? E o pior, quando o inimigo nem se utiliza dessa ferramenta no momento em que mais precisa? Saudades dos exemplares com Roger Moore! Não menos frustrante é a forma com que o roteiro, inseguro e dependente, encontra para amarrar as histórias: imprimir as imagens com os rostos dos principais personagens que passaram por esta recente franquia e afixá-las em um corredor soa artificial, ao passo que não traz a sutileza merecida para um filme de espionagem deste gabarito. Outro ponto que me incomodou é a distorção e necessidade de se fazer uma equipe para o espião. Sabemos que o cara é um exército de um homem só, e sempre foi assim. Por que raios, agora, o agente precisaria da ajuda direta de “M” (Ralph Fiennes) e “Q” (o ótimo ator Ben Whishaw), responsável pelo engenho tecnológico e alívio cômico? Vendo o crescente tempo de tela destes atores no filme, constatamos que agora o agente secreto, antes solitário, precisará de uma equipe em campo para lhe auxiliar. Não quero crer que esta franquia esteja se aproximando da de Ethan Hunt (Tom Cruise em “Missão Impossível”), o que seria um equívoco, já que ambas têm propostas semelhantes, mas são (ou eram) diferentes na sua composição/execução. E o fato de Bond agir destituído do cargo, por conta própria, mas com a ajuda de amigos (o personagem de Simon Pegg e “Q” se assemelham bastante neste sentido) não te faz lembrar os recentes capítulos das aventuras de Hunt? Por outro lado, funcionando como uma fita de ação, podemos até sair satisfeitos do cinema, mas, se levarmos em consideração o todo proposto, fica a torcida para que esta saga, tão bem sucedida, tome o rumo certo novamente.
*Avaliação: 3,0 pipocas + 3,5 rapaduras = nota 6,5.
*Avaliação: 3,0 pipocas + 3,5 rapaduras = nota 6,5.
SICARIO: TERRA DE NINGUÉM
- Melhor Fotografia: Roger Deakins
- Melhor Trilha Sonora: Jóhann Jóhannsson
- Melhor Edição de Som
Brilhantemente dirigido pelo eclético Dennis Villeneuve (Os Suspeitos), "Sicario: Terra de Ninguém" narra a jornada da policial federal Kate Macer, vivida por Emily Blunt, que terá sua integridade física e moral colocada à prova em uma misteriosa missão. Película dona de um clima claustrofóbico e enervante, do início ao fim, "Sicario" mexe nas feridas e não passa a mão na cabeça de ninguém ao abordar a drástica situação do tráfico de drogas na fronteira México e Estados Unidos. Envolta em suspense e dúvidas, seja acerca da lealdade da instituição ou do sistema, seja pela própria intenção de seus parceiros de trabalho, a agente Macer, interpretada magistralmente por Blunt, carrega uma mulher solitária, angustiada, mas sempre honesta e íntegra no que tange as suas atitudes. A moral ilibada da personagem é o contraponto ideal para os absurdos que iremos presenciar: corpos pendurados pelo cartel que comanda o crime na região, policiais corruptos, sistema totalmente corrompido e os civis no centro deste fogo cruzado. Hábil ao criar personagens secundários, mas não menos importantes para o deslinde, como o núcleo em que vive o humilde policial mexicano Silvio (Maximiliano Hernandez), o roteiro acerta na catarse ao dar vida e mostrar a trajetória do agente estadual comum, pai, tridimensionalmente humano e complexo quanto os demais envolvidos. Com um elenco bem escolhido para um script inteligente, temos um Josh Brolin em uma interpretação blasé, condizente com o seu personagem: um agente da CIA que esconde de Macer (e de nós, espectadores) o verdadeiro objetivo da arriscada missão, sobretudo os meios para se chegar ao fim, sendo capaz de qualquer acordo para beneficiar o seu país, tentando manter a sua nação sempre no controle, nem que seja do caos; um Benicio Del Toro, extremamente inspirado, na pele do letal Alejandro, em um grau de dramaturgia que certamente o levará a vencer premiações, atuando com olhares e trejeitos expressivos, marcantes, mas, com poucos diálogos. O ritmo do longa, por sua vez, é alucinante: e tanto a sequência inicial da invasão à casa/cemitério quanto a já famosa cena do engarrafamento são de roer as unhas e dar inveja a qualquer cineasta que não saiba criar uma atmosfera de tensão. Colocar o espectador na cena e situá-lo parece algo fácil para Villeneuve. Observe que das contemplativas tomadas aéreas que registram a beleza daquelas regiões, exóticas, nem parecendo, muitas vezes, o nosso planeta Terra, tamanha a calmaria lá de cima, o diretor corta, abruptamente, para enquadramentos fechados nas figuras suadas, enclausuradas naqueles carros, prontas para matar ou morrer. Nesse contexto, o competente realizador nunca deixa o espectador perdido, situando-nos geograficamente na construção das cenas, característica visual marcante de suas obras (lembre-se dos planos aéreos e sua importância na cidade de "O Homem Duplicado"). Contando com o mestre Roger Deakins na direção de fotografia, que capta fielmente o espírito da película ao contrastar esperança e tragédia dentro de sua paleta de cores, na contraluz, que teima em criar poesia com a onipresença da natureza, tanto no cair do sol quanto no crepúsculo que se aproxima. Tecnicamente irretocável, a evocativa trilha sonora de Jóhann Jóhannsson, também parceiro habitual do diretor, imprime os acordes crescentes, que incomodam (e essa é a intenção), ora graves, ora agudos, condizentes com a escalada do crime ao compor uma trilha com elementos diegéticos daquele mundo (ou seria submundo?), onde podemos ouvir sons de maquinários, gritos, alarmes e tambores que remetem ao universo proposto. O fato é que esta bela composição sonora sempre entra no momento certo sem jamais se apoderar ou mastigar o filme, o que seria um pecado. Em um terceiro ato que liga todas as pontas soltas, percebemos que uma simples metáfora resume toda a obra: os chamados fogos de artifício, rajadas de balas que rasgam famílias e o céu, ao mesmo tempo, são "apreciados" por policiais, do alto de um prédio, conscientes da tamanha problemática para a solução do tráfico, contrapondo à rima visual com um jogo de futebol, de várzea, em terra batida, composto por crianças sem pais, destituídas de esperança, que escutam ao longe os mesmos tais "fogos de artifício" e que um dia, quem sabe, poderão servir para os devidos fins de apreciação, luz e celebração.
*Avaliação: 5 pipocas + 5 rapaduras = nota 10
CINDERELA
- Melhor figurino
Remake que apesar de ter uma produção e direção de arte impecável - padrão Disney - falha na sua criação/inventividade ao apenas copiar o clássico animado e colar em uma versão live-action. Ao final, falta "coragem"e sobra "gentileza" (quem assistir ao filme vai entender o trocadilho rsrsrs) ao diretor Kenneth Branagh, que também dirigiu o filme solo do Thor.
*Avaliação: 2,5 pipocas + 3 rapaduras = nota 5,5.
STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA
- Melhores Efeitos Visuais
- Melhor Mixagem de Som
- Melhor Edição de Som
- Melhor Trilha Sonora
- Melhor Edição
A Força finalmente despertou: Star Wars episódio VII chega aos cinemas cercado pela ansiedade dos fãs com o retorno da franquia. E todo o mistério que cercava a produção, incluindo os trailers que não entregavam nada, acabou gerando uma expectativa nas alturas, bem correspondida ao final. Neste novo capítulo somos apresentados a inéditos e carismáticos personagens, entre eles o empolgado Finn (John Boyega), o valente Poe Dameron (Oscar Isaac) e a predestinada Rey (Daisy Ridley). Pelo lado sombrio, Kylo Ren (Adam Driver), o vilão da vez, surge como um perturbado cavaleiro da Primeira Ordem - renascida das cinzas do antigo Império - dotado de complexidade e tridimensionalidade em sua construção. O roteiro escrito a seis mãos, entre elas as de Lawrence Kasdan, responsável pelo script de "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi", gira em torno da busca ao poderoso Jedi Luke Skywalker (Mark Hamill), considerado uma ameaça para Ren e sua tropa. Para tanto, o lado sombrio terá que enfrentar outro grupo nesta caçada à Luke: a Resistência, liderada por Leia (Carrie Fisher). Se aproximando mais de "Uma Nova Esperança" do que qualquer outro, "O Despertar da Força" homenageia sem deixar de ser criativo, abraçando novamente a jornada do herói como narrativa central, desta feita na figura feminina, forte e determinada de Rey. Acertando no tom bem humorado, que pesa no momento certo, e como pesa (SEM spoilers, pode deixar), esta épica aventura, comandada pelo diretor J. J. Abrams - que também reoxigenou a franquia Star Trek recentemente - acerta em cheio na nostalgia ao trazer o mesmo elenco da trilogia original (episódios IV, V e VI), descartando, precisamente, alguns elementos apresentados no contestado prelúdio (I, II e III). Com uma direção inspirada - e o cineasta já declarou que também é um admirador deste universo fantástico criado por George Lucas - Abrams não só faz um fanservice, mas avança na história, ao tempo em que a apresenta à nova geração, entregando um dos melhores filmes da saga ao recolocá-la no status em que foi concebida: uma space opera produzida, na maior parte, pelo peso dos efeitos práticos, homenageando o cinema por excelência, investindo, sobretudo, na construção e desconstrução de seus personagens. Fruto deste misto do clássico com o contemporâneo, temos BB-8, um carismático robô que rouba a cena antes dominada por C3PO e R2-D2, do núcleo robótico, por assim dizer, frisando que George Lucas, recentemente, lembrou ao público que Star Wars é uma grande novela. Não menos espetacular no quesito técnico/visual, o longa é dono de uma bela fotografia que sabe captar, poeticamente, os melhores ângulos do causticante deserto de Jakku com os já famosos flares, efeitos de luz saturados comumente utilizados nos filmes do diretor como marca visual, agora mais bem empregados do que nunca nas batalhas por galáxias tão tão distantes. E vermos a Base Starkiller em ação (a Estrela da Morte em proporções maiores), recheada destes flares, pela perspectiva de Kylo Ren, é paradoxalmente lindo e dramático. Lembrando ainda que a cavalgada dos TIE Fighters, fotografada contra o sol poente, é um daqueles enquadramentos dignos de um pôster. Destaco também o plano-sequência do bar, que serve para apresentar o ambiente e seus alienígenas exóticos, situando o espectador naquela espécie de saloon. Apostando nos efeitos práticos para conferir peso e verossimilhança, o green screen divide espaço com a maquiagem e o figurino, outro ponto positivo nesta retomada. Aliás, o que dizer dos confrontos de sabres de luz redesenhados por um design de som de tirar o fôlego?! Em IMAX, inclusive, temos a noção do poder letal desta arma, nunca antes demonstrada nas telonas com tamanha precisão e visceralidade, tudo por conta do impacto do som gerado nestas modernas salas de experiência máxima, sendo bem aproveitado pela equipe técnica do filme através de um simples ligar ou desligar do sabre, por exemplo, ou na faísca provocada pelo contato nas batalhas. Animal! Aliás, o aparato bélico, em todos os aspectos, é bem mais crível, nocivo e traz um senso de urgência: ponto para o design de produção e direção de arte. A trilha sonora, por sua vez, continuou a cargo do mestre John Williams, que se utiliza da autoreferência ao invocar sua própria composição clássica, icônica, permeando por novos arranjos. E o momento em que aparece o capacete de Darth Vader ouve-se ao fundo, levemente, um trechinho dos acordes da marcha imperial, sua música tema. Voltando ao enredo, a dupla inseparável Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca também retorna à ação aliando a experiência dos piratas espaciais à jovem turma de heróis em sua árdua missão. Enfim, evitando não contar detalhes da trama, só posso dizer que o filme tem sua identidade própria e guarda na coragem e sensibilidade de seus idealizadores o trunfo do já confirmado sucesso de público. E é nesta emoção que percebi onde a Disney colocou a sua digital. Notei, em uma determinada cena chave, que a compra da franquia foi salutar não só por renová-la, mas, principalmente, por "acariciar" (os entendedores entenderão rsrs), ao mesmo tempo, tanto o semblante dos fãs quanto do novel espectador, demonstrando respeito com o clássico, agora saudoso, mirando o futuro com um toque de esperança.
*Avaliação: 5 pipocas + 5 rapaduras = nota 10