domingo, 28 de fevereiro de 2016

OSCAR 2016 - Os palpites divididos em: "na torcida", "quem leva" e "correndo por fora"

POR RAFAEL MORAIS
Olá, pessoal....
assim como no ano passado, resolvi dividir as minhas apostas em três tipos: "na torcida", "quem leva" e "correndo por fora", isto é, nem sempre os filmes que torcemos são os aclamados pela crítica/Academia. 
Abaixo seguem os palpites somente nas categorias dos filmes que assisti:

Filme
Na torcida"Mad Max: Estrada da Fúria" ou "O Regresso" 
Quem leva:  "O Regresso" ou "A Grande Aposta".
Correndo por fora: "Spotlight: Segredos Revelados"
Diretor
Na torcida: George Miller por "Mad Max"
Quem leva:  Iñárritu por "O Regresso"
Correndo por fora: Adam McKay por "A Grande Aposta"
Ator
Na torcida: Leonardo DiCaprio por "O Regresso"
Quem leva:  Leonardo DiCaprio por "O Regresso"
Correndo por fora: Leonardo DiCaprio por "O Regresso"
Atriz
Na torcidaBrie Larson por "O Quarto de Jack"
Quem leva:  Brie Larson por "O Quarto de Jack"
Correndo por fora: Saoirse Ronan por "Brooklyn"
Ator Coadjuvante
Na torcidaSylvester Stallone por "Creed: Nascido Para Lutar"
Quem leva:  Sylvester Stallone por "Creed: Nascido Para Lutar"
Correndo por fora: Sylvester Stallone por "Creed: Nascido Para Lutar"
Atriz Coadjuvante
Na torcidaJennifer Jason Leigh por "Os Oito Odiados"
Quem leva:  Alicia VIkander por "A Garota Dinamarquesa"
Correndo por fora: Kate Winslet "Steve Jobs"
Roteiro Adaptado
Na torcidaEmma Donoghue por "O Quarto de Jack"
Quem leva:  Charles Randolph, Adam McKay por "A Grande Aposta"
Correndo por fora: Drew Goddard por "Perdido em Marte"
Roteiro Original
Na torcidaPeter Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley por "Divertida Mente"
Quem leva:  Josh Singer, Tom McCarthy por "Spotlight - Segredos Revelados"
Correndo por fora: Drew Goddard por "Perdido em Marte"
Filme Estrangeiro
Na torcida: "O Filho de Saul"
Quem leva:  "O Filho de Saul"
Correndo por fora: "O Abraço da Serpente"
Animação
Na torcida: "O Menino e o Mundo"
Quem leva:  "Divertida Mente"
Correndo por fora: "O Menino e o Mundo"
Fotografia
Na torcida: "Sicario: Terra de Ningúem"
Quem leva:  "O Regresso"
Correndo por fora: "Mad Max"
Design de Produção
Na torcida"Mad Max"
Quem leva:  "Mad Max"
Correndo por fora: "O Regresso"
Figurino

Na torcida"Mad Max"

Quem leva:  "Mad Max"
Correndo por fora: "A Garota Dinamarquesa"
Montagem/Edição
Na torcida"Mad Max"
Quem leva:  "A Grande Aposta"
Correndo por fora: "Mad Max"
Maquiagem e Cabelo
Na torcida"Mad Max"
Quem leva:  "Mad Max"
Correndo por fora: "O Regresso"
Trilha Sonora
Na torcidaEnnio Morricone por "Os Oito Odiados"
Quem leva:  Ennio Morricone por "Os Oito Odiados"
Correndo por fora: Jóhann Jóhannsson por "Sicario: Terra de Ninguém"
Canção Original
Na torcida: "Writing's on the wall" por "007 contra Spectre"
Quem leva: "Til it Happens to You", por "The Hunting Ground"
Correndo por fora: "Earned it" por "Cinquenta tons de cinza"
Melhor Edição de Som
Na torcida: "Sicario: Terra de Ninguém"
Quem leva:  "O Regresso"
Correndo por fora: "Star Wars"
Melhor Mixagem de Som
Na torcida: "Star Wars"
Quem leva:  "Mad Max"
Correndo por fora: "O Regresso"
Melhores Efeitos Visuais
Na torcida: "Star Wars"
Quem leva:  "O Regresso"
Correndo por fora: "Ex Machina"
Documentário
Na torcida: "Amy"
Quem leva:  "Amy"
Correndo por fora: "Cartel Land"

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

OSCAR 2016 - Leia as outras resenhas dos indicados em categorias diversas

Com a aproximação do Oscar 2016, compilamos as resenhas dos filmes indicados em categorias diversas, tais como: Creed, Sicario, Star Wars, entre outros..
Por Rafael Morais

CREED: NASCIDO PARA LUTAR
  • Melhor ator coadjuvante: Syslvester Stallone                                                      

Em um determinado momento de "Creed: Nascido para Lutar" você percebe que está tão envolvido no filme, mas não sabe em que momento isto aconteceu, como a obra te levou por aquele caminho ao ponto de se pegar emocionado com diversas cenas em que Sylvester Stallone (o eterno Rocky Balboa) surge atuando com tamanha naturalidade, trazendo mais uma nuance e tridimensionalidade àquele clássico personagem, revelando outras notas de um universo já tão explorado. Sim, a resposta para tamanho envolvimento é justamente o ótimo roteiro, a inspirada direção de Ryan Coogler (que também escreveu) e a estupenda interpretação do agora setentão Stallone (outro responsável pelo roteiro). Contido, carismático e em sintonia com o personagem, que ele mesmo criou, o ator nunca esteve tão bem no papel. Desde as cenas mais dramáticas (e aquela em que Rocky bate um papo com seus entes queridos no cemitério é magistral), até as reservadas ao humor, presenciamos uma atuação forte, segura e merecedora de todas as premiações que vem conquistando (e a carequinha dourada é a próxima, pode anotar). Na sétima empreitada de Rocky nos cinemas, desta vez cedendo o seu protagonismo ao posto de coadjuvante para contar a história de Adonis Johnson (Michael B. Jordan): um jovem que passou uma difícil infância no orfanato quando perdeu a mãe, ainda criança, fruto de uma relação extraconjugal com o seu pai, o lendário boxeador Apollo Creed, que veio a falecer antes mesmo de Donnie (como gosta de ser chamado) nascer. Neste contexto, adotado pela bondosa esposa de Apollo, Adonis usufrui uma vida de luxo trabalhando na empresa da mãe adotiva, mesmo conciliando, às escondidas, combates de boxe clandestinos em outro período. E não demora para o protagonista do momento largar a sua zona de conforto em busca do que ele realmente gosta de fazer: lutar boxe. Para tanto, se muda para um apertado e humilde apartamento na Filadélfia, onde procura Rocky no intuito de treiná-lo. Destaque para a direção de arte que explora muito bem a diferença entre as residências de Donnie: se antes o sujeito aparecia em um apartamento enorme, com tons dourados, sendo focado em plano aberto, quase se perdendo nas escadas de sua morada; agora, os cômodos podem ser vistos em apenas uma ou duas tomadas, com uma paleta marrom, lembrando poeira, além de dar ênfase a enquadramentos fechados, sugerindo certa claustrofobia diante da brutal diferença na sua qualidade de vida. Tudo fruto do "admirável" mundo novo a que ele estava se submetendo. Nesta espécie de reeboot e sequência, ao mesmo tempo, a nostalgia é construída cuidadosamente não só na inserção de easter eggs (detalhes que os fãs encontrarão no filme), mas, principalmente, quando adapta o saudosismo com respeito, trazendo temas para os nossos tempos atuais, piscando para o novel público apresentado. Neste sentido, não seria uma mera coincidência comparar Creed ao novo episódio da saga Star Wars - O Despertar da Força, o que pode indicar uma "tendência" em Hollywood, uma vez que a secundarização do principal personagem também acontece aqui, onde o espectador permite o novo, sem preconceitos, sabendo que há uma "mão no ombro", quando pode se perguntar, ainda nostalgicamente apegado: mas cadê o Rocky? Estamos no mesmo universo, e Coogler sabe da importância de nos situar ali. Sua direção é ousada ao ponto de utilizar diversos planos-sequência (longas tomadas sem cortes), principalmente na segunda luta de Donnie. Desta forma, o cineasta inova na maneira de se filmar boxe a partir do instante em que não deixa o espectador respirar, tal qual o atleta em cima do ringue. O senso de urgência e tensão cresce nos travellings (giro da câmera em 180 ou 360°), focando os golpes dos pugilistas para só depois mostrar as consequências, como um supercílio aberto, por exemplo. A pancada, sempre dura e seca, é ressaltada pelo ótimo design de som, lembrando, em certos instantes, obras como “Touro Indomável”. Sem esquecer que está lidando com um clássico, o diretor insere cuidadosamente a trilha sonora icônica de Bill Conti, mesmo que de forma suave e hesitante, algumas vezes, se preocupando em criar algo novo na composição da música tema de Adonis. Assim, o compositor Ludwig Göransson permeia entre o passado melancólico, a trajetória sofrida e a referência clássica na melodia de Creed. E se o filme aborda a busca do protagonista em tentar sair da "sombra do passado", se referindo à relação pai e filho, também acerta na construção de rimas visuais eficientes, sendo até certo ponto metalinguísticas – como na cena em que Adonis acessa pelo Youtube uma luta de seu pai enquanto simula, contra a luz do projetor, aquele combate. Por fim, ganhamos um excelente capítulo desta franquia, uma das mais queridas pela crítica e pelo público, reoxigenada por uma nova e talentosa geração.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0

OS 8 ODIADOS
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Jason Leigh 
  • Melhor Fotografia: Robert Richardson
  • Melhor Trilha Sonora: Ennio Morricon 


O oitavo filme de Quentin Tarantino pode carregar em seu título uma metáfora: os "8 odiados", em questão, poderia ser, além da óbvia indicação numérica dos protagonistas, uma referência à filmografia do cineasta, pelo ponto de vista de seus detratores?! É certo que muitos torcem o nariz para o cinema de Tarantino, talvez por isso a ironia já no título. De todo modo, a trama da vez gira em torno de uma diligência, ambientada após a guerra civil americana, onde o carrasco John Ruth (Kurt Russel) se incumbe de levar a prisioneira Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) à cidade de Red Rock, local em que será julgada e condenada à forca em decorrência de seus crimes cometidos. Mas no caminho, em meio a uma forte nevasca, os planos de Ruth começam a mudar quando topa com o Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson) no seu caminho, um enigmático caçador de recompensas, resolvendo dar carona a este sujeito após um longo diálogo de convencimento. Além de Warren, o aspirante a xerife Chris Mannix (Walton Goggins) também atravessa o destino da carruagem, embarcando naquela inesperada expedição. Dividido em capítulos, como já é comum em algumas de suas obras, o filme se preocupa em apresentar estes personagens, durante o seu primeiro ato, estabelecendo as suas intenções através da profundidade que os detalhados diálogos oferecem. Assim, é no segundo ato que o conflito ganha forma com a chegada do comboio - fugindo da severa tempestade - no armarinho de Minnie e Sweet Dave. A partir daí, o longa investe num clima claustrofóbico, enfatizado por enquadramentos que remetem ao enclausuramento, uma vez que dentro da cabana conhecemos os demais personagens: o britânico Oswaldo Mobray (Tim Roth imitando claramente Christoph Waltz), o cowboy Joe Gage (Michael Madsen), o mexicano Bob (Demian Bichir), o idoso general confederado Sanford Smithers que lutou contra os rebeldes (Bruce Dern) e o cocheiro O.B Jackson. Rodado em 70 mm, em câmeras Ultra Panavision, o diretor consegue ampliar a profundidade de campo, explorando ainda mais o universo microcosmo daquele inóspito local. Mérito também para a bela e evocativa fotografia de Robert Richardson, que consegue entregar uma identidade à cabana, com pouca luz, mas, aquecida, sempre em tons amarelos, dando ênfase em objetos importantes na mise en scène, contrastando com o clima gélido e branco da nevasca lá fora. Contudo, como não estamos falando de um filme qualquer, Tarantino trata logo de apresentar as suas "armas" e o sangue não demora a jorrar, e em profusão, literalmente. Violência gráfica, sarcasmo, montagem não linear, o perfeito uso de músicas pontualmente inseridas: tudo grita o estilo tarantinesco. Identidade visual não falta ao longa, definitivamente. E o uso das cores, neste sentido, faz toda a diferença: como não notar o bule azul, objeto decisivo no roteiro? Como não reparar nos bombons espalhados pelo chão da cabana, pedindo atenção para cores alegres em meio ao caos? Ponto também para a minuciosa direção de arte que capricha no design interior do armazém. Cercado por correntes e ganchos, o ambiente remete não só à relação da prisioneira, mas de todos os personagens ali envolvidos que de certo modo também estão encurralados. Sem contar com a ilustre trilha sonora original composta por ninguém menos que o mestre Ennio Morricone. Compositor acostumado a criar temas para westerns, Morricone foge do clichê e traz uma abordagem com notas de tensão, carregada de suspense, que quando entra em cena toma o filme para si, de tão impactante e icônica. Os prêmios e as indicações conquistadas não são à toa. Já quanto à interligação dos filmes, o próprio Tarantino já declarou que todos fazem parte do mesmo universo. Será que os doces vendidos no armazém de Minnie têm relação com aqueles mostrados em Django Livre, quando o vilão Calvin Candie (que remete a Candy, doce), vivido por Leonardo Di Caprio, aparece com os dentes podres de tanto consumir estas deliciosas balas? O certo é que temática e cronologicamente, esta nova película se passa após as aventuras de Django, já que oficialmente a escravidão já havia acabado, pelo menos no papel. O racismo, tema recorrente, também está presente aqui e em suas diversas formas. Perceba, em um olhar mais apurado, que o longa não se preocupa apenas com o inevitável impasse mexicano - coisa que o diretor já havia feito em "Cães de Aluguel" - e menos ainda com o tiroteio desvairado (Django está aí para isso); em "Os 8 Odiados", Tarantino vai além e constrói, alegoricamente, uma visão da sociedade americana baseada na representatividade, incluindo, sobretudo as minorias: uma mulher marcada para morrer, sem direito à defesa e julgada por homens, que a maltratam constantemente; um mexicano, que através da sua mão de obra, participa ativamente da construção do conflito e mesmo amigo dos americanos sempre é o primeiro a ser acusado, podendo ser interpretado como um representante da classe de imigrantes daquele país; o operariado na figura do cocheiro O.B. Jackson, sempre escolhido para os trabalhos mais pesados e difíceis, exposto ao relento do frio e até mesmo quando é "sorteado" o sujeito é escolhido; o negro lutando pela sua igualdade, mesmo que para isso precise se utilizar de mecanismos ilusórios, atraentes aos olhos dos brancos (e a carta que Warren carrega retrata bem isso), como uma forma de se aproximar e ganhar respeito, mesmo trapaceando; um idoso preconceituoso, na figura de um general confederado que já matou inúmeros homens “pelo bem” da nação; o mercenário, caçador de recompensa que já trucidou índios durante a guerra; e um homem da lei, o xerife sem estrela, sem distintivo, apenas na palavra, na persona "inocente" de Mannix. Sim, estamos diante de uma obra que deve ser apreciada com paciência e detalhismo, até porque possui quase 3 horas de duração. Enfim, demonstrando o domínio habitual às suas narrativas, Tarantino, que também escreveu o roteiro, dar o ar da sua graça em uma participação como sujeito interlocutório, abusando da metalinguagem, ao narrar uma sequência importante à história, tirando o espectador de um foco para outro, jogando com a nossa percepção, ao tempo em que homenageia o mais puro Cinema.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 5 rapaduras = nota 9,5

DIVERTIDAMENTE
  • Melhor Animação
  • Melhor Roteiro Original                                        
Em “Divertida Mente”, a Pixar consegue se reerguer após os seus recentes fracassos de crítica: “Carros 2” e “Universidade Monstros”. Para isso, Peter Docter (criador de Up – Altas Aventuras e Monstros S.A), ficou a cargo da direção e roteiro dessa mais ambiciosa animação já produzida pelo estúdio. Se levarmos em conta os conceitos utilizados no filme, bem como a abordagem e construção temática, sem dúvida estamos falando da mais audaciosa produção da Pixar. Tudo começa com o nascimento da garotinha Riley, personagem que iremos acompanhar de perto, literalmente, já que na sua sala de comando (cérebro) seremos apresentados a: Alegria, Raiva, Nojinho (poderia ser chamada de preconceito), Medo e Tristeza, emoções que passam a fazer parte da vida daquela cativante menina. Portanto, dentre esses sentimentos, quem lidera é a Alegria, que se esforça sobremaneira para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz. Contudo, aos 11 anos de idade, pré-adolescente, a protagonista tem que enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. A trama e os seus conflitos têm início após uma confusão na sala de controle, fazendo com que a Alegria e a Tristeza sejam expelidas para fora do comando. A partir de então, o espectador é transportado à imensidão efervescente que é a mente de um ser humano, sobretudo em formação, que é o caso de Riley. A criatividade dos roteiristas, por sua vez, não tem limites quando a Alegria e a Tristeza percorrem as várias ilhas existentes nos pensamentos de Riley, no intuito de retornarem à sala de controle resgatando as memórias-base perdidas no incidente, e, enquanto isto não acontece, a vida da garota muda radicalmente. O filme, neste prisma, ganha contornos de road movie, quando as emoções vão conhecendo outros personagens durante a jornada, habitantes daquele universo fantástico e personificado, todos carismáticos e essenciais à narrativa. Interessante perceber também como o filme aborda questões complexas de maneira simples e poética. Desta forma, colocar todas as emoções em pé de igualdade e importância demonstra certa maturidade, mesmo que para isso o emprego de metáforas e personificações seja livremente imaginativo, agradando tanto o público adulto quanto o infantil: outra característica marcante na filmografia da Pixar. Será que o Studio Ghibli deixou sua marca e ensinamento aqui? De certo é que, às vezes, abraçar o caos é essencial para se sobressair de uma crise. E nesse ponto o filme dialoga com a atual situação da empresa, que em recente entrevista do produtor Jonas Rivera admitiu, diante da inércia de boas ideias e projetos originais, uma pequena crise interna. Contudo, se após a tempestade há sempre a bonança, para o bem do equilíbrio, sabemos que a tristeza é tão essencial quanto a alegria - e o desfecho do longa perpassa por essa questão - logo, a arte imitou a vida e assim se fez “Divertida Mente”. Vale notar, igualmente, que as animações da premiada empresa, como de costume, conseguem emocionar o público sem nunca ser piegas ou apelativa. Já virou tradição, e aqui não foi diferente. A delicadeza com que as cenas mais dramáticas são construídas se harmoniza com a caprichada direção de arte e design, marcando o tom da projeção. Não menos fantástico é o uso das cores vibrantes para os cenários quentes e alegres, assim como as respectivas personas, contrastando com a paleta gélida, por vezes acinzentada, inserida em situações de desânimo, por exemplo. Aliás, conceitos como consciente, subconsciente, depressão, sonhos e comportamento, de maneira geral, são extremamente bem desenvolvidos, ao ponto de me fazer acreditar que esta animação será obrigatoriamente exibida em grades de cursos de psicologia, sobretudo a infantil. Aliás, para quem aprecia Cinema, esta é uma obra indispensável, independente de qual área você atue, já que a Pixar costuma falar sobre temas universais que transitam entre o existencial e o filosófico. E o que será ”Divertida Mente” se não uma viagem pelo interior de um ser humano e sua complexidade?
*Avaliação: 5,0 pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10

007 CONTRA SPECTRE
  • Melhor Canção Original: "Writing's On The Wall" - Sam Smith 
Com um início arrasador, através de um belo e longo plano sequência, acompanhamos Bond, James Bond, em uma missão na Cidade do México, no dia dos mortos, ocasião bastante sugestiva para os acontecimentos que se sucederão. Contudo, é uma pena que o restante do filme não se harmonize com o “cartão de visita”. Não por culpa de Daniel Craig que, apesar de ter contrato para mais um filme disse em uma entrevista que “preferiria cortar os pulsos a fazê-lo”, continua emprestando seu ar elegante e descolado para um 007 sempre imerso em mistério, coisa que esta nova franquia resolveu explorar, insistindo em voltar ao passado do agente em busca de respostas à sua origem. Diferente de "Skyfall" e "Cassino Royale", este SPECTRE tem um roteiro formulaico, disposto a amarrar todas as pontas soltas, soando forçado também quando conecta o universo do protagonista, sem necessidade, já que os capítulos anteriores funcionavam separadamente, com exceção do destoante "Quantum of Solace". Mesmo se assemelhando mais aos filmes antigos e da mitologia do espião criado por Ian Fleming - como a ação no trem ("Moscou Contra 007"), o gato do vilão e o tom por vezes cartunesco emprestado ao longa - tudo isso não salva o resultado deste capítulo. Sam Mendes ficou novamente a cargo da direção, demonstrando sua competência habitual. O problema fica por conta do vilão vivido pelo oscarizado Christoph Waltz. O clássico personagem Blosfeld - maior antagonista no cânone das histórias de Bond - não consegue se estabelecer como uma ameaça, a não ser na primeira vez que aparece imerso nas sombras, envolto em uma atmosfera tensa, quase sem diálogos, na cena da reunião, mas, que não consegue se sustentar até o desfecho. Pelo contrário, depois disso temos um Waltz pouco inspirado, com figurino tosco e sorriso fácil, característicos de outras personas interpretadas pelo ator em diferentes filmes, parecendo ter saído de “Grandes Olhos” (“Big Eyes” de Tim Burton), por exemplo. Mas estamos falando de um filme de 007, e um dos mais caros da história, por sinal, logo, queremos ver tudo à altura do que já foi realizado, por isso a decepção com o resultado deste “Spectre”. Até o capanga, no estilo “jamanta”, que deveria homenagear o icônico vilão “Jaws”, fica no meio do caminho. O que dizer da troca dos dentes de aço pelas unhas? E o pior, quando o inimigo nem se utiliza dessa ferramenta no momento em que mais precisa? Saudades dos exemplares com Roger Moore! Não menos frustrante é a forma com que o roteiro, inseguro e dependente, encontra para amarrar as histórias: imprimir as imagens com os rostos dos principais personagens que passaram por esta recente franquia e afixá-las em um corredor soa artificial, ao passo que não traz a sutileza merecida para um filme de espionagem deste gabarito. Outro ponto que me incomodou é a distorção e necessidade de se fazer uma equipe para o espião. Sabemos que o cara é um exército de um homem só, e sempre foi assim. Por que raios, agora, o agente precisaria da ajuda direta de “M” (Ralph Fiennes) e “Q” (o ótimo ator Ben Whishaw), responsável pelo engenho tecnológico e alívio cômico? Vendo o crescente tempo de tela destes atores no filme, constatamos que agora o agente secreto, antes solitário, precisará de uma equipe em campo para lhe auxiliar. Não quero crer que esta franquia esteja se aproximando da de Ethan Hunt (Tom Cruise em “Missão Impossível”), o que seria um equívoco, já que ambas têm propostas semelhantes, mas são (ou eram) diferentes na sua composição/execução. E o fato de Bond agir destituído do cargo, por conta própria, mas com a ajuda de amigos (o personagem de Simon Pegg e “Q” se assemelham bastante neste sentido) não te faz lembrar os recentes capítulos das aventuras de Hunt? Por outro lado, funcionando como uma fita de ação, podemos até sair satisfeitos do cinema, mas, se levarmos em consideração o todo proposto, fica a torcida para que esta saga, tão bem sucedida, tome o rumo certo novamente.
*Avaliação: 3,0 pipocas + 3,5 rapaduras = nota 6,5.

SICARIO: TERRA DE NINGUÉM
  • Melhor Fotografia: Roger Deakins
  • Melhor Trilha Sonora: Jóhann Jóhannsson
  • Melhor Edição de Som                                

Brilhantemente dirigido pelo eclético Dennis Villeneuve (Os Suspeitos), "Sicario: Terra de Ninguém" narra a jornada da policial federal Kate Macer, vivida por Emily Blunt, que terá sua integridade física e moral colocada à prova em uma misteriosa missão. Película dona de um clima claustrofóbico e enervante, do início ao fim, "Sicario" mexe nas feridas e não passa a mão na cabeça de ninguém ao abordar a drástica situação do tráfico de drogas na fronteira México e Estados Unidos. Envolta em suspense e dúvidas, seja acerca da lealdade da instituição ou do sistema, seja pela própria intenção de seus parceiros de trabalho, a agente Macer, interpretada magistralmente por Blunt, carrega uma mulher solitária, angustiada, mas sempre honesta e íntegra no que tange as suas atitudes. A moral ilibada da personagem é o contraponto ideal para os absurdos que iremos presenciar: corpos pendurados pelo cartel que comanda o crime na região, policiais corruptos, sistema totalmente corrompido e os civis no centro deste fogo cruzado. Hábil ao criar personagens secundários, mas não menos importantes para o deslinde, como o núcleo em que vive o humilde policial mexicano Silvio (Maximiliano Hernandez), o roteiro acerta na catarse ao dar vida e mostrar a trajetória do agente estadual comum, pai, tridimensionalmente humano e complexo quanto os demais envolvidos. Com um elenco bem escolhido para um script inteligente, temos um Josh Brolin em uma interpretação blasé, condizente com o seu personagem: um agente da CIA que esconde de Macer (e de nós, espectadores) o verdadeiro objetivo da arriscada missão, sobretudo os meios para se chegar ao fim, sendo capaz de qualquer acordo para beneficiar o seu país, tentando manter a sua nação sempre no controle, nem que seja do caos; um Benicio Del Toro, extremamente inspirado, na pele do letal Alejandro, em um grau de dramaturgia que certamente o levará a vencer premiações, atuando com olhares e trejeitos expressivos, marcantes, mas, com poucos diálogos. O ritmo do longa, por sua vez, é alucinante: e tanto a sequência inicial da invasão à casa/cemitério quanto a já famosa cena do engarrafamento são de roer as unhas e dar inveja a qualquer cineasta que não saiba criar uma atmosfera de tensão. Colocar o espectador na cena e situá-lo parece algo fácil para Villeneuve. Observe que das contemplativas tomadas aéreas que registram a beleza daquelas regiões, exóticas, nem parecendo, muitas vezes, o nosso planeta Terra, tamanha a calmaria lá de cima, o diretor corta, abruptamente, para enquadramentos fechados nas figuras suadas, enclausuradas naqueles carros, prontas para matar ou morrer. Nesse contexto, o competente realizador nunca deixa o espectador perdido, situando-nos geograficamente na construção das cenas, característica visual marcante de suas obras (lembre-se dos planos aéreos e sua importância na cidade de "O Homem Duplicado"). Contando com o mestre Roger Deakins na direção de fotografia, que capta fielmente o espírito da película ao contrastar esperança e tragédia dentro de sua paleta de cores, na contraluz, que teima em criar poesia com a onipresença da natureza, tanto no cair do sol quanto no crepúsculo que se aproxima. Tecnicamente irretocável, a evocativa trilha sonora de Jóhann Jóhannsson, também parceiro habitual do diretor, imprime os acordes crescentes, que incomodam (e essa é a intenção), ora graves, ora agudos, condizentes com a escalada do crime ao compor uma trilha com elementos diegéticos daquele mundo (ou seria submundo?), onde podemos ouvir sons de maquinários, gritos, alarmes e tambores que remetem ao universo proposto. O fato é que esta bela composição sonora sempre entra no momento certo sem jamais se apoderar ou mastigar o filme, o que seria um pecado. Em um terceiro ato que liga todas as pontas soltas, percebemos que uma simples metáfora resume toda a obra: os chamados fogos de artifício, rajadas de balas que rasgam famílias e o céu, ao mesmo tempo, são "apreciados" por policiais, do alto de um prédio, conscientes da tamanha problemática para a solução do tráfico, contrapondo à rima visual com um jogo de futebol, de várzea, em terra batida, composto por crianças sem pais, destituídas de esperança, que escutam ao longe os mesmos tais "fogos de artifício" e que um dia, quem sabe, poderão servir para os devidos fins de apreciação, luz e celebração.
*Avaliação: 5 pipocas + 5 rapaduras = nota 10

 CINDERELA
  • Melhor figurino
Remake que apesar de ter uma produção e direção de arte impecável - padrão Disney - falha na sua criação/inventividade ao apenas copiar o clássico animado e colar em uma versão live-action. Ao final, falta "coragem"e sobra "gentileza" (quem assistir ao filme vai entender o trocadilho rsrsrs) ao diretor Kenneth Branagh, que também dirigiu o filme solo do Thor. 
*Avaliação: 2,5 pipocas + 3 rapaduras = nota 5,5.

STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA

  • Melhores Efeitos Visuais
  • Melhor Mixagem de Som
  • Melhor Edição de Som
  • Melhor Trilha Sonora
  • Melhor Edição
A Força finalmente despertou: Star Wars episódio VII chega aos cinemas cercado pela ansiedade dos fãs com o retorno da franquia. E todo o mistério que cercava a produção, incluindo os trailers que não entregavam nada, acabou gerando uma expectativa nas alturas, bem correspondida ao final. Neste novo capítulo somos apresentados a inéditos e carismáticos personagens, entre eles o empolgado Finn (John Boyega), o valente Poe Dameron (Oscar Isaac) e a predestinada Rey (Daisy Ridley). Pelo lado sombrio, Kylo Ren (Adam Driver), o vilão da vez, surge como um perturbado cavaleiro da Primeira Ordem - renascida das cinzas do antigo Império - dotado de complexidade e tridimensionalidade em sua construção. O roteiro escrito a seis mãos, entre elas as de Lawrence Kasdan, responsável pelo script de "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi", gira em torno da busca ao poderoso Jedi Luke Skywalker (Mark Hamill), considerado uma ameaça para Ren e sua tropa. Para tanto, o lado sombrio terá que enfrentar outro grupo nesta caçada à Luke: a Resistência, liderada por Leia (Carrie Fisher). Se aproximando mais de "Uma Nova Esperança" do que qualquer outro, "O Despertar da Força" homenageia sem deixar de ser criativo, abraçando novamente a jornada do herói como narrativa central, desta feita na figura feminina, forte e determinada de Rey. Acertando no tom bem humorado, que pesa no momento certo, e como pesa (SEM spoilers, pode deixar), esta épica aventura, comandada pelo diretor J. J. Abrams - que também reoxigenou a franquia Star Trek recentemente - acerta em cheio na nostalgia ao trazer o mesmo elenco da trilogia original (episódios IV, V e VI), descartando, precisamente, alguns elementos apresentados no contestado prelúdio (I, II e III). Com uma direção inspirada - e o cineasta já declarou que também é um admirador deste universo fantástico criado por George Lucas - Abrams não só faz um fanservice, mas avança na história, ao tempo em que a apresenta à nova geração, entregando um dos melhores filmes da saga ao recolocá-la no status em que foi concebida: uma space opera produzida, na maior parte, pelo peso dos efeitos práticos, homenageando o cinema por excelência, investindo, sobretudo, na construção e desconstrução de seus personagens. Fruto deste misto do clássico com o contemporâneo, temos BB-8, um carismático robô que rouba a cena antes dominada por C3PO e R2-D2, do núcleo robótico, por assim dizer, frisando que George Lucas, recentemente, lembrou ao público que Star Wars é uma grande novela. Não menos espetacular no quesito técnico/visual, o longa é dono de uma bela fotografia que sabe captar, poeticamente, os melhores ângulos do causticante deserto de Jakku com os já famosos flares, efeitos de luz saturados comumente utilizados nos filmes do diretor como marca visual, agora mais bem empregados do que nunca nas batalhas por galáxias tão tão distantes. E vermos a Base Starkiller em ação (a Estrela da Morte em proporções maiores), recheada destes flares, pela perspectiva de Kylo Ren, é paradoxalmente lindo e dramático. Lembrando ainda que a cavalgada dos TIE Fighters, fotografada contra o sol poente, é um daqueles enquadramentos dignos de um pôster. Destaco também o plano-sequência do bar, que serve para apresentar o ambiente e seus alienígenas exóticos, situando o espectador naquela espécie de saloon. Apostando nos efeitos práticos para conferir peso e verossimilhança, o green screen divide espaço com a maquiagem e o figurino, outro ponto positivo nesta retomada. Aliás, o que dizer dos confrontos de sabres de luz redesenhados por um design de som de tirar o fôlego?! Em IMAX, inclusive, temos a noção do poder letal desta arma, nunca antes demonstrada nas telonas com tamanha precisão e visceralidade, tudo por conta do impacto do som gerado nestas modernas salas de experiência máxima, sendo bem aproveitado pela equipe técnica do filme através de um simples ligar ou desligar do sabre, por exemplo, ou na faísca provocada pelo contato nas batalhas. Animal! Aliás, o aparato bélico, em todos os aspectos, é bem mais crível, nocivo e traz um senso de urgência: ponto para o design de produção e direção de arte. A trilha sonora, por sua vez, continuou a cargo do mestre John Williams, que se utiliza da autoreferência ao invocar sua própria composição clássica, icônica, permeando por novos arranjos. E o momento em que aparece o capacete de Darth Vader ouve-se ao fundo, levemente, um trechinho dos acordes da marcha imperial, sua música tema. Voltando ao enredo, a dupla inseparável Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca também retorna à ação aliando a experiência dos piratas espaciais à jovem turma de heróis em sua árdua missão. Enfim, evitando não contar detalhes da trama, só posso dizer que o filme tem sua identidade própria e guarda na coragem e sensibilidade de seus idealizadores o trunfo do já confirmado sucesso de público. E é nesta emoção que percebi onde a Disney colocou a sua digital. Notei, em uma determinada cena chave, que a compra da franquia foi salutar não só por renová-la, mas, principalmente, por "acariciar" (os entendedores entenderão rsrs), ao mesmo tempo, tanto o semblante dos fãs quanto do novel espectador, demonstrando respeito com o clássico, agora saudoso, mirando o futuro com um toque de esperança.
*Avaliação: 5 pipocas + 5 rapaduras = nota 10

OSCAR 2016 - Confira as resenhas dos principais indicados

Compilamos as resenhas dos principais indicados ao Oscar 2016.
Por Rafael Morais

MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA
  • Melhor Filme
  • Melhor Diretor: George Miller
  • Melhor Fotografia: John Seale
  • Melhor Figurino
  • Melhor Maquiagem e Cabelo
  • Melhor Mixagem de Som
  • Melhor Edição de Som
  • Melhores Efeitos Visuais
  • Melhor Design de Produção
  • Melhor Edição 
Em "Mad Max - Estrada da Fúria" temos o retorno da franquia após longos 30 anos do último filme. Película visualmente arrebatadora, que tem no seu ponto alto as alucinantes perseguições de carros, com efeitos especiais práticos, em sua grande maioria, trazendo uma aura saudosista para aqueles que curtem um cinema verossímil. Não foi a toa os 200 milhões de dólares investidos. Por sua vez, a direção de George Miller, no alto dos seus setenta anos, é paradoxalmente revitalizante em sua maneira de filmar o gênero de ação, conseguindo, ao mesmo tempo, ser eletrizante e contemplativo nas belas tomadas de cenas/imagens que evocam muito mais que mil palavras. Assim, esse novo "Mad Max" é um western num futuro distópico interessantemente atual ao flertar com temas da nossa realidade, apesar de trazer figuras insanas e grotescas condizentes com aquele submundo. Destaque para a caprichada direção de arte que ambienta o espectador naquele universo pós-apocalíptico. Aliás, a fotografia traduz bem o amarelo desértico e causticante do dia, contrapondo o azul acinzentado quando a noite cai. Não menos interessante é a trilha sonora que permeia entre o clássico/erudito e o rock heavy metal diegético com uma pegada metalinguística ao trazer um personagem tocando uma guitarra explosiva pendurado em um paredão de som. Sim, Miller destrói e constrói essas personas, harmoniosamente, dentro do contexto ali apresentado. Contudo, se dessa vez temos um esforçado e talentoso Tom Hardy no lugar do carismático Mel Gibson, ganhamos a presença de Charlize Theron em uma atuação tão forte que coloca o Max como coadjuvante de luxo para os planos da protagonista. Para os fãs da saga, fiquem tranquilos: Mad Max voltou em grande estilo e sua mitologia foi integralmente respeitada. 
*Avaliação: 5,0 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,5. 
                                  
PERDIDO EM MARTE
  • Melhor Filme
  • Melhor Ator: Matt Damon
  • Melhor Roteiro Adaptado: Drew Goddard
  • Melhor Mixagem de Som
  • Melhor Edição de Som
  • Melhores Efeitos Visuais
  • Melhor Design de Produção                 

Ridley Scott (criador de “Alien, o 8º Passageiro” e da adaptação de “Blade Runner – o Caçador de Andróides”) volta ao espaço com um típico e surpreendente feel good movie. Se por um lado o cineasta é conhecido por obras sombrias envolvendo ficção científica espacial, agora podemos presenciá-lo no comando de uma aventura divertida e leve, onde a sua assinatura como diretor nos salta aos olhos apenas no quesito visual, já que tematicamente o roteiro não representa um terreno seguro ao idealizador. Baseado no livro “The Martian”, o longa narra a expedição da “Ares III”, onde um grupo de astronautas chega à Marte para explorar o planeta, porém, são surpreendidos por uma forte tempestade (aos moldes daquela que vimos em “Prometheus”, também de Scott, parecendo ter saído diretamente do filme), ocasião em que Mark Watney (o sempre esforçado Matt Damon) acaba atingido por destroços não conseguindo embarcar e fugir com a tripulação. Dado como morto, o astronauta terá que se virar, literalmente, sozinho em um planeta hostil, há 83 milhões de quilômetros de casa. Utilizando-se da ciência “até fazer bico”, como o próprio personagem fala em uma determinada cena, Mark tem suprimentos apenas para sobreviver por 31 dias, o que já nos causa certa tensão inicial, já que a próxima expedição, a Ares IV, só chegará ao planeta vermelho em 04 anos. Desafios como falta de água, comunicação, racionamento e produção de comida, ambiente extremamente hostil ao homem, entre outros, são retratados de forma crível, sempre encontrando na ciência uma solução para cada problema. Nesse ponto, temos um roteiro e direção inteligentes por prever a limitação técnica do público (conteúdos hightec, química, botânica e física são explorados sem moderação) e colocar Mark virado para uma câmera registrando tudo como uma espécie de diário, ou vlog, explicando os seus mirabolantes planos, demonstra uma forma acertada de dialogar com o espectador e ao mesmo tempo se fazer entender com tamanho didatismo. Deste modo, não nos sentimos perdidos como o personagem título (desculpem o trocadilho rsrs) durante a projeção, já que nos tornamos cúmplices e “seguidores” deste solitário astronauta. Interessante notar como o título original, “O Marciano”, também cairia bem, se assim fosse traduzido, ao percebermos que Watney realmente está colonizando aquele planeta, até então não desbravado, sendo um legítimo marciano, de fato. Já o predicado “perdido”, na verdade, não se assemelha ao astronauta em questão, uma vez que tem total controle de seus atos e está completamente preparado para as adversidades encontradas, como ele mesmo afirma em uma mensagem aos seus pais: “estou fazendo o que gosto”, e realmente o protagonista domina os seus atos e a geografia daquele inóspito ambiente. Ancorado no otimismo, ideia que Hollywood resolveu abraçar ultimamente em suas produções (vide Tomorrowland, por exemplo) temos a união de diversos povos e nações para o único propósito de salvar Mark. Soando por vezes forçado, neste sentido, sabemos que na realidade as coisas não acontecem daquela maneira, infelizmente. Mas Scott estava disposto a transformar problemas em solução, tensão em catarse, por isso se utiliza de uma eclética trilha sonora composta por músicas no estilo “disco music” da personagem de Jessica Chastain (paradoxalmente a mais amargurada da tripulação, já que é a comandante que precisa tomar as decisões mais difíceis) como um recurso de alívio cômico em várias sequências do filme. Aliás, o elenco escolhido já demonstra a intenção de leveza: temos Michael Peña, ator que comumente encara personas engraçadas; Jeff Daniels, o eterno “Debi”, de “Debi & Loide”, como diretor da NASA, que apesar de tentar ser sério, não consigo desvencilhar o seu rosto do icônico filme de comédia; além do usual clichê do gênio incompreendido que tenta se fazer ouvir, mas ninguém dá muita atenção no início, vivido por Donald Glover que tem o plano perfeito para o tão esperado resgate. Sem contar com o engenheiro de execução responsável por esses projetos “impossíveis”, o britânico, descendente de oriental, Benedict Wong. Menos pretensioso que a última ficção científica estrelada pelo próprio Damon (Interestelar), que também viveu um astronauta perdido em um planeta universo afora, “Perdido em Marte” pode até soar um filme propagandista da NASA quando peca na utilização demasiada de técnica e ciência em favor do heroísmo na figura do explorador espacial, esquecendo um pouco da emoção para dar lugar à razão, mas, com certeza, veremos esta produção amealhando algumas indicações nas principais categorias em premiações vindouras.
*Avaliação: 4,0 pipocas + 4,0 rapaduras = nota 8,0.

PONTE DOS ESPIÕES
  • Melhor Filme
  • Melhor Ator Coadjuvante: Mark Rylance
  • Melhor Roteiro Original: Matt Charmann
  • Melhor Mixagem de Som
  • Melhor Design de Produção
  • Melhor Trilha Sonora: Thomas Newman



Em "Ponte dos Espiões", Steven Spielberg e Tom Hanks reeditam a parceria em uma história, baseada em eventos reais, que narra a missão de James Donovan (Hanks), um advogado incumbido de defender Rudolf Abel, um suposto espião inglês, que estaria trabalhando para a União Soviética, infiltrado em solo americano durante a Guerra Fria. Neste contexto, temos um filme que soa datado no que se refere ao tema/pano de fundo abordado, porém, o que a direção e o roteiro, burilado pelos irmãos Coen, buscam é a dualidade da mesma moeda: mostrar como os espiões são tratados quando trancafiados pelo inimigo, o seu julgamento e, sobretudo, a ética dos envolvidos. Se os americanos tinham um espião sob custódia, os soviéticos também conseguiram capturar um soldado deles, e logo esta situação dividirá a tela e os interesses de cada lado, o que vamos perceber na montagem e raccords realizados. Assim, temos o american way life colocado em risco diante de uma iminente guerra, e todas as sequências em que as crianças surgem demonstram o pânico ocasionado por fortes imagens dos nocivos efeitos nucleares de uma bomba atômica que, por sinal, foi o próprio país dos pequenos que aterrorizou e apresentou ao mundo do que era capaz quando destruiu Hiroshima e Nagasaki. Destaque para a fotografia saturada marcando a luz do sol, principalmente nas brechas das celas e janelas, que banha os personagens centrais da trama, contrapondo com a paleta fria escolhida para Berlim e o seu muro divisor. Não menos interessante é o enquadramento do advogado e seu cliente: perceba que a câmera, constantemente, procura encaixá-los em lados opostos, porém, sempre enclausurados, embora que por motivos diferentes. Se o suposto espião estava sendo aprisionado pelo crime que poderia estar cometendo, Donovan, por ser um cidadão americano e estar defendendo um inimigo era alvo constante de ameaças e olhares desprezíveis no seu dia a dia, pelos deus próprios pares, inclusive. Vale notar as ótimas atuações de Hanks e Rylance, permeando entre o drama e o humor sutil, nos momentos certos, entregando a química merecida entre os seus complexos personagens. Neste ponto, o filme traz a questão ética ao centro concebendo um mandatário quase que obcecado pela salvaguarda das prerrogativas de seu outorgante, colocando em risco até a sua própria família, ao se valer da Constituição Federal para garantir o devido processo legal, embora o juiz e a sociedade já tenha julgado o réu, sem quaisquer provas. Um pouco arrastado nas suas duas horas e vinte minutos, a película se harmoniza com o período da Guerra Fria, já que as especulações e o jogo de bastidores prevaleciam naquela época. Logo, as sombras, o medo e as jogadas eram pensadas e repensadas antes da tomada de atitude. A ausência do glamour dos espiões que estamos acostumados a ver nas telonas dá lugar a homens cansados e resfriados, nada ameaçadores. Se o filme parece sofrer de ritmo, arrastando as negociações e tratativas, burocratizando as cenas e quebrando o impacto de potenciais sequências de tensão, talvez tudo isso coadune com a época retratada. Contudo, ainda prefiro o Spielberg desburocratizado, menos verborrágico e mais evocativo, que não se leva tanto a sério.

*Avaliação: 2,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 7,0

SPOTLIGHT-SEGREDOS REVELADOS
  • Melhor Filme
  • Melhor Diretor: Tom McCarthy
  • Melhor Ator Coadjuvante: Mark Ruffalo
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Rachel McAdams
  • Melhor Roteiro Original: Josh Singer e Tom McCarthy
  • Melhor Edição

Roteirizado por Josh Singer e Tom McCarthy (também diretor do longa), “Spotlight – Segredos Revelados” é um drama baseado em uma história real que acompanha um destemido grupo de jornalistas em Boston dispostos a provar diversos casos de abuso de crianças causados por padres católicos. Em poder de um vasto rol de documentos, capazes de comprovar tais atos, fruto de uma árdua investigação, esta equipe do jornal Boston Globe ganhou o conceituado prêmio Pulitzer. O fato é que com os segredos revelados, como aponta o subtítulo nacional, as estruturas tanto da Igreja Católica – uma das instituições mais antigas e confiáveis do mundo – quanto da própria cidade, composta por governantes omissos, foram totalmente abaladas, desencadeando revelações ao redor do mundo. Mas para contar essa intrigante história, McCarthy decide não tomar o filme para si quando abre mão de firulas técnicas ou até mesmo montagem mais sofisticada, deixando transparecer um tom documental, quase televisivo à película. Por outro lado, os enquadramentos escolhidos sempre são eficientes, alguns clássicos, como no momento em que o grupo recebe uma importante ligação, por exemplo. Ali, o cineasta começa a cena com o foco fechado no telefone para, lentamente, ir abrindo o campo/quadro e mostrar os repórteres sentados, cada um em um plano distinto, apesar das reações semelhantes de incredulidade diante do impactante conteúdo daquela ligação. Bonito e eficiente neste ponto: cinema puro! Assim, o espectador capta, logo de cara, que o mais importante em “Spotlight” é a história apresentada, por isso a apresentação dos personagens e a própria investigação em si não têm pressa de acontecer. Intencionalmente, a obra caminha no seu tempo, mostrando o desgaste e o andamento arrastado no trabalho dos repórteres para montar uma matéria desse porte. Questões como solidão e compulsão por trabalho são levantadas ao tempo em que presenciamos estes profissionais, diariamente, não pensando ou fazendo outra coisa a não ser laborar, até mesmo em seus momentos de lazer ou folga. Para tanto, o design de produção, bem como a direção de arte, acertam em cheio ao colocar em perspectiva a suntuosidade escancarada nos cenários, objetos e vestimentas dos personagens atrelados à Igreja, contrapondo o simples local de trabalho, por vezes apertado, residências humildes e a despojada maneira de se vestir dos jornalistas e de um advogado, Mitchell Garabedian (vivido por Stanley Tucci), que ousou ir contra a secular instituição. O que dizer do escritório simples, desorganizado e que deixa um ar de fracasso deste causídico, responsável por diversas ações de indenização contra o clero? Glamour zero! Além do visível cansaço, terno aparentemente barato e refeições simples, detalhes do cotidiano daquele desesperançoso advogado. Neste quesito, tudo no filme grita esta discrepância, sem ser preciso, necessariamente, verbalizá-la. A química entre os colegas no jornal é notória graças ao acerto no elenco: Michael Keaton encarna um seguro e experiente Robinson; Mark Ruffalo, mais uma vez, consegue trazer uma nuance diferente à sua persona, se revelando um ator de vários tons ao surgir como “o coração e pulmão” da equipe durante o penoso trabalho de investigação (e perceber a expressão corporal empregada na construção de seu inquietante Rezendes como um sujeito retraído sempre com as mãos nos bolsos, o que nos comunica um ser fechado para compartilhar detalhes de sua vida particular, e ao mesmo tempo, sem hesitar, no instante em que retira as mãos desta zona de conforto, está sempre disposto a anotar, ouvir, indagar e descobrir algo dos outros); já Sacha Pfeiffer (Rachel Mc Adams) é responsável por trazer à tona e discutir a fé, mesmo que de maneira superficial, enquanto conflito religioso; diferente do integrante Matt Carroll (Brian d'Arcy James), um pai de família angustiado com a segurança de seus filhos, principalmente depois que descobre algo assustador na sua vizinhança (sem maiores detalhes para não entregar surpresas da trama). Deste modo, por ser uma obra em que o enredo e a importância do que está sendo revelado é mais importante do que qualquer outro aspecto técnico, o filme deixa a desejar na telona justamente pela falta de uma identidade visual ou até mesmo de uma fotografia caprichada. Confesso que não faria tanta diferença vê-lo em uma TV. Se por um prisma, temos uma mise-en-scène bem realizada com uma decupagem cuidadosa, por outro, a película investe na inevitável perplexidade em que os espectadores sentirão diante dos relatos narrados pelas vítimas molestadas (e sequeladas pelo resto da vida), o que assegura cada minúcia dos abusos, mas não causa o impacto desejado. Por fim, em linhas gerais, o filme peca (com o perdão do trocadilho rsrs) em não ir visualmente além, deixando de empregar a imagética em detrimento de longos e expositivos diálogos, no que pese ser justamente esta a sua intenção.
*Avaliação: 2,5 pipocas + 4 rapaduras = nota 6,5


A GRANDE APOSTA
  • Melhor Filme
  • Melhor Diretor: Adam McKay
  • Melhor Ator Coadjuvante: Christian Bale
  • Melhor Roteiro Adaptado: Charles Randolph e Adam McKay
  • Melhor Edição
Quando a crise imobiliária que assolou a economia dos EUA explodiu entre 2007 e 2008, alguns investidores e especuladores conseguiram prever a tragédia e lucrar com a desgraça alheia e por que não dizer própria?! Sim, "A Grande Aposta" é um filme que lida com as consequências de uma crise humanizando os envolvidos, direta e indiretamente, quando escancara o jogo de interesses: de um lado, os mais prejudicados pela facilidade do crédito, imbuídos pelo sonho da casa própria; e de outro, os que ganham com o descrédito, com o pesadelo. Dirigido com agilidade por Adam McKay, já que a sua câmera é nervosa e quase não respira na captura de seus "jogadores" - o que acaba se harmonizando com o frenesi diário destes profissionais que trabalham na bolsa de valores - temos uma obra com identidade própria construída na adaptação de um livro. A montagem, não menos interessante, é dinâmica ao ponto de sempre arremessar frases, imagens ou cortes rápidos, que à primeira vista podem parecer desconexos do contexto, mas que acabam ajudando a contar a história. Como o tema é extremamente técnico, o longa tenta ser didático ao colocar celebridades para explicar os termos comuns à Economia. E a sequência na qual a belíssima atriz Margot Robbie, dentro de uma banheira, explica o significado do termo "subprime" é de uma maldade com o espectador, uma vez que não conseguimos nos concentrar no que ela está dizendo diante de sua estonteante presença. Desta forma, o filme conta com uma pegada pop, cheio de atitude rock’n roll, demonstrada pela vibrante trilha sonora escolhida pontualmente, que passeia de Nirvana a Led Zeppelin, na intenção de segurar a atenção do público através de uma linguagem narrativa didática. Destaque para a atuação de Christian Bale como Michael Burry, um sujeito que previu a iminente bolha no mercado imobiliário, tendo como consequência uma espécie de reação em cadeia, o que derrubaria todas as demais camadas da economia estadunidense, causando desemprego e caos. Burry, na qualidade de investidor de risco, apostou alto contra este mercado tão estável, coisa que ninguém jamais havia feito, tamanha a solidez do negócio. Também nos deparamos com mais uma faceta de Steve Carell na pele de um estressado investidor, atormentado por uma tragédia familiar. Ao passo em que Ryan Gosling começa narrando e apresentando aquele mundo ao público com a quebra da quarta parede, quando olha diretamente para o espectador e conta a história: outro artifício usado aqui e ali durante a projeção na ânsia de prender a nossa atenção, nos deixando mais próximos dos personagens, agora cúmplices, ao forjar essa intimidade. Ainda sobre o elenco, Brad Pitt (também produtor do longa) surge com uma espécie de guru de Wall Street na pele de Ben Rickert, um cara que mesmo já afastado das atividades, não se furta em ajudar os iniciantes Jamie e Charlie. No entanto, mesmo vendido como uma comédia, o filme passa longe desse gênero se aproximando mais de um drama, no máximo uma dramédia, assim como aconteceu em "Moneyball: O Homem que Mudou o Jogo", também dirigido por McKay. Por fim, embora reconhecendo a ótima intenção dos realizadores em tentar familiarizar o público com um tema tão complexo (e fazia tempo que não via tanta gente abandonando a sessão antes do fim), abraçar o drama e contar a história indo direto ao ponto poderia acrescentar mais ao resultado final, além de representar uma opção mais honesta com o público, coisa que Martin Scorsese não se furtou quando fez o seu “O Lobo de Wall Street”.
*Avaliação: 3 pipocas + 4 rapaduras = nota 7,0


O REGRESSO

  • Melhor Filme
  • Melhor Diretor: Alejandro G. Iñarritu
  • Melhor Ator: Leonardo DiCaprio
  • Melhor Ator Coadjuvante: Tom Hardy
  • Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezki
  • Melhor Figurino
  • Melhor Maquiagem e Cabelo
  • Melhor Mixagem de Som
  • Melhor Edição de Som
  • Melhores Efeitos Visuais
  • Melhor Design de Produção
  • Melhor Edição
  • Melhor Trilha Sonora
Em um determinado momento de "O Regresso", um índio - em circunstâncias que não irei revelar para evitar spoilers - surge com uma placa nos seguintes dizeres: "somos todos selvagens". E é nesta máxima que o mais novo trabalho do cineasta Iñárritu (Birdman) encontra refúgio, buscando uma abordagem visceral desde o início da projeção. Assim, somos arrebatados, logo no princípio da película, com um belo e longo plano-sequência (que já virou marca registrada do diretor) capaz de nos ambientar naquele universo proposto através de uma sangrenta batalha entre índios e brancos. Baseada em fatos, a história data de 1822 quando Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) parte para o oeste americano disposto a ganhar dinheiro caçando. Atacado por um urso, o protagonista fica seriamente ferido e é abandonado à própria sorte pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy), que ainda rouba seus pertences. Entretanto, mesmo com toda adversidade, Glass consegue sobreviver e inicia uma árdua jornada em busca de vingança. Contudo, para narrar esta premissa, Iñárritu e o roteirista Mark L. Smith se valem de algumas licenças poéticas para adaptar ao filme um roteiro já derivado de parte de um livro, inserindo ou retirando meias verdades, como o fato do filho de Glass, na verdade, não ter participado da expedição, o que foi modificado com o fito de trazer um personagem motivador/impulsionador na trajetória do pai em busca de sua vendeta. Visualmente impecável, o filme traz uma fotografia irretocável do mestre Emmanuel Lubezki, responsável por obra como “Árvore da Vida”, por exemplo. E não é à toa que em algumas cenas, como nas passagens de tempo (raccords), no enquadramento das paisagens, na arte de filmar um “tempo morto”, tudo isso nos remete, inevitavelmente, às obras de Terrence Mallick, parceiro habitual do fotógrafo. Aqui, Lubezki não se utiliza de luz artificial, apenas da natural, o que acaba se harmonizando com a proposta do longa: a natureza como princípio, meio e fim de tudo; o homem enquanto lobo do próprio homem (ou seria urso? rsrsrs). E por falar nisso, a já famosa sequência, também sem corte aparente, do ataque do urso a Glass mistura efeitos digitais com práticos - e confesso que não consigo distinguir onde começa um e termina o outro – tornando uma das mais perfeitas cenas já realizadas no Cinema. Graças também à esplêndida atuação de DiCaprio. O ator entrega uma atuação forte, de método, sem deixar de ser autoral, carregando nas expressões física e corporal a fórmula para os prêmios conquistados, e a carequinha dourada é a próxima. Durante os momentos mais enervantes, que exigiram mais, o ator mergulha no personagem ao ponto de atuar basicamente com expressivos olhares, sem necessariamente verbalizar ou mastigar tudo aquilo que sente. Durante as gravações, DiCaprio enfrentou o frio, comeu fígado cru, perdeu peso, enfim, tudo que Hollywood/Oscar adora para premiar. Justiça seja feita: o ator já merecia desde “O Lobo de Wall Street”. Já a trilha sonora, embora fria, não chama atenção para si, sabe silenciar nas horas certas, se utilizando de elementos sonoros diegéticos (sons que fazem parte naturalmente do ambiente) para compor um som baseado em respirações, batimentos cardíacos, tambores de índios, entre outros. Nenhuma novidade para o gênero, o que torna este quesito um dos mais fracos, tecnicamente, pela ausência de criatividade para sair do clichê. Não que a captura dos sons seja ruim. Pelo contrário! A mixagem e desenho do som são impecáveis, para não confundir com a trilha sonora. O elenco, por sua vez, merece destaque quando temos um Tom Hardy excepcional, na pele de um sujeito inescrupuloso, animalesco e não menos humano por tudo isso. Com os ideais/objetivos deturpados, o Fitzgerald de Hardy também tem os seus medos, fazendo um contraponto ideal ao do protagonista. Sem contar com a ótima presença em cena de Domhnall Gleeson – ator que figurou em várias produções que se destacaram atualmente como “Ex-Machina” e “Star Wars”, entre outras. O seu capitão Bridger surge como um homem íntegro no meio do caos. Mérito também para o modo com que o diretor insere o espectador na história, nos colocando diretamente lá como testemunha, espécie de álibi daqueles animais racionais, que não deixam de ser nossos pares, afinal de contas. E a “quebra da quarta parede” (quando o personagem olha ou interage diretamente com o público) retrata bem isso. Aproximar com closes e enquadrar os personagens de forma fechada denotam acertos na construção da linguagem narrativa proposta, além de enclausurá-los, apesar das imensas florestas que os cercam. A natureza, aliás, é retratada em “O Regresso” como uma força maior avassaladora, capaz de causar arrepios com suas imensas árvores cerradas balançando ao som de ventos uivantes, que observadas de baixo para cima oprimem e encurralam os meros seres que ali transitam. Tudo isso torna “O Regresso” uma experiência sensorial incrível que deve ser apreciada, se possível, no formato IMAX. Por fim, seja pelo respingo de sangue que gruda na lente durante uma luta, seja pelo respiro ofegante do protagonista, embaçando a mesma: sim, somos todos selvagens!
*Avaliação: 4,0 pipocas + 5,0 rapaduras = 9,0.

BROOKLYN
  • Melhor Filme
  • Melhor Atriz: Saoirse Ronan
  • Melhor Roteiro Adaptado: Nick Hornby
Alcançando um lugarzinho entre as concorridas indicações ao Oscar, na categoria melhor filme, “Brooklyn” não chegou lá por acaso. Produção “pequena”, longe de ser um blockbuster, mas não menos interessante, tanto pelo ponto de vista técnico quanto temático, que guarda no estudo de personagens o seu ponto alto. Baseado no livro de Colm Tóibín, o roteiro de Nick Hornby explora com sensibilidade a jornada de Eilis Lacey (a esplêndida Saoirse Ronan), uma jovem sonhadora irlandesa disposta a viver o american way life ao trocar a sua terra natal por Nova York, mais precisamente para o bairro do Brooklyn, em busca de melhores condições de trabalho, deixando para trás suas queridas mãe e irmã. O drama da protagonista é contado através de uma montagem simples, porém, envolvente, obtendo na evocativa fotografia de Yves Bélanger o contraste ideal entre os mundos de Eilis: a Irlanda dessaturada, remetendo à desesperança, em detrimento da brilhante Nova York da década de 50, ressaltada pelo raio de sol que reflete a protagonista quando adentra a cidade americana pela primeira vez. Neste aspecto, é gritante a diferença nos critérios adotados pela imigração daquela época para os de hoje em dia. Se antes bastava estar com a saúde em dias, ou pelos menos aparentar isso através de lábios bem corados, ou aspecto saudável, atualmente o imigrante passa por verdadeiras agruras para conseguir um visto de trabalho, ou até mesmo de lazer, em território estadunidense. Claro que o 11 de setembro contribuiu ainda mais para essa política cerrada. Assim, temos uma obra romantizada, um típico feel good movie, muito devido a este contexto histórico. Voltando ao que interessa, vale notar a exuberante e delicada performance de Ronan no que diz respeito à evolução de sua personagem. Se no início somos apresentados a uma garota tímida, contida, quase sem cor, com vestes simplórias que denotam insegurança durante a travessia de navio - ocasião em que se depara com uma tripulante antagônica, que, segura e autoconfiante, lhe ajuda nesta empreitada. Adiante, conferimos uma verdadeira transformação da menina em mulher no percorrer do longa, tal qual aquela personagem que lhe serviu de guru na primeira viagem. E do 2º para o 3º ato, essa inversão de papéis se torna óbvia na sequência em que Eilis ajuda outra garota que se encontra em difícil situação, parecida com a que já passara. Até a postura física da atriz muda com a sua evolução. Perceba que nos instantes embaraçosos, nada glamourosos, percorridos para alcançar o seu objetivo, a protagonista aparece com os ombros arqueados seguidos de um olhar triste, temeroso. Exemplo melhor é a cena em que a personagem passa mal no navio, diante de um desfecho constrangedor. Aliás, o filme anda na contramão dos roteiros formuláicos baseados em contos de fada, quase que o desconstruindo. Aqui, a “princesa” encara dificuldades reais, sem direito a deslumbres, sendo recompensada ao final não por um “príncipe” encantado em seu cavalo branco, mas pela consequência de suas corajosas escolhas. Com efeito, a maturidade paira sob uma personagem feminina forte, firme em atitudes, com postura ereta diante da vida, que sabe aonde quer ir e com quem pretende compartilhar esses momentos. Tudo auxiliado pelo excelente trabalho de figurino e maquiagem. Neste sentido, a história ganha força e personalidade a partir do instante em que não cai no clichê do triângulo amoroso, já que Eilis deixou o seu amor no Brooklyn para resolver pendências pessoais quando retorna à Irlanda. Se o encanador italiano (Emory Cohen), também imigrante, demonstra imenso carinho à protagonista passando segurança e certeza, aguardando ansiosamente o retorno da amada; por outro lado, temos a tentação do bem-sucedido, do novo, todavia incerto, o outro interesse amoroso que circunda as pretensões de Elis, vivido pelo cativante ator Domhnall Gleeson. No entanto, estamos diante de uma mulher decidida, independente, e, logo, todas as dúvidas se dissipam num belo desfecho acompanhado por sonoros suspiros de corações apaixonados. 
*Avaliação: 3,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 8,0.

O QUARTO DE JACK        
  • Melhor Filme
  • Melhor Diretor: Lenny Abrahamson
  • Melhor Atriz: Brie Larson
  • Melhor Roteiro Adaptado: Emma Donoghue                                                            
Imagine uma mãe raptada e mantida presa em cárcere privado, com o seu filho, em um cômodo que serve de quarto, banheiro, quintal e cozinha ao mesmo tempo. Pois é nesta situação que somos apresentados à sofrida vida de Joy (Brie Larson) e Jack (Jacob Trambley). Baseado em fatos, o roteiro de Emma Donoghue (também autora do livro homônimo), aborda a visão do pequeno Jack frente à dura realidade em que vive somado à expectativa de fuga em busca do mundo novo. Em "O Quarto de Jack", a direção de arte ganha importância no cubículo/moradia, dando vida a cada detalhe: repare nos desenhos do menino espalhados por todo canto, nas roupas estendidas e nos modestos móveis que compõem o ambiente. Tudo retrata fielmente o lugar, trazendo verossimilhança à história. Mérito também às fortes atuações de Larson e Trambley. Demonstrando uma química sem igual, os atores se entregam ao projeto sendo um dos responsáveis diretos pelo sucesso do filme nos festivais em que passou - inclusive angariando importantes indicações no Oscar deste ano. Tremblay encarna uma carismática criança que não sabe diferenciar fantasia de realidade, uma vez que a sua ideia de mundo vem da televisão, único lazer disponível. Os seus únicos amigos são um cachorro imaginário, uma aranha e um rato. Na verdade, tudo que lhe aparece é real, sendo os demais seres e objetos partes de uma ficção: o que não está no quarto não está no mundo. Tanto é assim, que Jack encara o lado de fora como o espaço sideral, tamanha a sua distorção. Comovente ao retratar o desespero de Joy na pele de uma mãe desesperada por sobrevivência, sobretudo a de seu filho, a mulher se transforma em uma verdadeira águia protetora, e o seu sofrimento é palpável quando decide colocar um perigoso, mas, necessário, plano de fuga em ação, dando contornos de suspense ao drama. Já a direção de Lenny Abrahamson é extremamente competente ao enfocar todos os acontecimentos sob a ótica do garotinho através de enquadramentos que remetem o seu particular universo. Captar um “ambiente microcosmo” e tornar tudo maior em escala, conferindo vida e importância, não é tarefa das mais fáceis, o que Abrahamson faz com maestria no primeiro ato do filme, para desconstruir no terceiro de maneira genial quando o enredo coloca os sobreviventes frente a frente com o quarto e revela o seu verdadeiro tamanho, que, ainda mais diminuto e ajudado pelo uso de lentes diferentes (grandes angulares) faz Jack pensar que o cenário encolheu. Mas não, a sua percepção é que se alterou diante da evolução de seu personagem. Assim, as distorções do foco durante a presença da luz solar, além da captação de um som abafado, permite ao espectador experimentar o que seria a sensação de um primeiro contato com estes elementos depois de anos enclausurado, e, no caso de Jack, nunca sentido antes. Neste aspecto, a fotografia remete às cores vibrantes retratadas por bombons coloridos e um vistoso café da manhã, em detrimento da paleta em tons pastel escolhida para os objetos de cena que compõem o quarto. Além do mais, os adultos são quase sempre focados do pescoço para baixo, por meio de uma câmera oscilante, sendo reforçado pelos tensos encontros do menino com o seu algoz: o “velho Nick” (Sean Bridgers), como é chamado o homem responsável pela atrocidade de mantê-los aprisionados. E mesmo quando, inevitavelmente, há um contato visual com o rosto de algum personagem adulto, estranho à sua mãe, as lentes logo se voltam para baixo, a depender do grau de intimidade do interlocutor, como se a hesitação e o medo de Jack estivesse presente na linguagem do filme. E realmente estão. A narrativa fica por conta do pequeno e reserva algumas das melhores cenas e falas do longa. O que dizer dos momentos em que Jack é filmado deitado no chão, olhando para cima, pela claraboia, dentro do quarto, fazendo uma interessante rima visual com outro instante em que surge na mesma posição, em contato com o encantador "lado de fora"? Sensível e tocante! Fazendo referências filosóficas ao mito/alegoria da caverna de Platão, a película traz uma sequência em que Jack brinca com o reflexo da luz do sol que bate em sua parede, alimentando sua curiosidade, além de desvirtuar ainda mais o mundo real que lhe espera. E não é estranho perceber que, mesmo desacorrentados (isso não é spoiler, está nos trailers), mãe e filho sofrem tanto com o assédio da mídia, constantemente bombardeados por notícias, apelo e sensacionalismo, que chegam ao ponto de se pegarem saudosistas pensando no quarto, já que o lugar, apesar de remeter às lembranças horríveis, também era uma “bolha” que os resguardava de tudo de ruim que o mundo real pode oferecer. Assim, não é à toa o pesado estresse pós-traumático vivido por Joy, enquanto que a criança consegue se adaptar mais rápido, o que não os faz escapar de tomadas fechadas, tão claustrofóbicas quanto às empregadas no quarto, cuja intenção da fotografia é continuar enclausurando os personagens, que, embora “livres”, continuam presos de formas diferentes. Obra capaz de discutir com sensibilidade a complexidade da natureza humana, “O Quarto de Jack” se impõe como uma experiência emocional e sensorial pelo prisma do ineditismo, ainda inocente, de seu carismático protagonista.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 5 rapaduras = nota 9,5