segunda-feira, 19 de novembro de 2012

2 em 1: Duas dicas em um post.

"007 - Operação Skyfall" e "Argo" nos cinemas.
Rafael Morais
19 de novembro de 2012.


007 - Operação Skyfall

Após entregar uma pistola e um rádio para James Bond, o cientista Q nota a cara de decepcionado do agente e questiona: "O que você esperava? Uma caneta explosiva? Não fazemos mais isso." A frase é engraçada e simples, mas diz muito sobre a última trilogia do herói, pós-Pierce Brosnan. A verdade é que desde que Daniel Craig assumiu o posto do espião mais famoso dos cinemas, os longas ganharam contornos mais realistas, principalmente nas cenas de ação. A referência clara é a trilogia de Jason Bourne (dirigida por Doug Liman e Paul Greengrass), como fica evidente nas diversas sequências de perseguição com motos subindo e descendo escadas constantemente, além de "aulas" de Le Parkour, e claro, muito porrada.

Para 007 - Operação Skyfall, o diretor Sam Mendes contou com outra referência de peso e que virou moda: Batman - O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. E isso fica claro no decorrer da obra, com o vilão vivido por Javier Bardem surgindo como uma espécie de Coringa, seja pelo visual estranho, seja pelo fato de lidar bem com o caos. O fato é que os diálogos na prisão e os trejeitos na composição do personagem Silva, lembram demais a atuação de Heath Ledger no papel do palhaço desmiolado. Outra evidente comparação com a recente trilogia do "Morcegão", fica por conta da "queda" de Bond, tendo como consequência o seu ressurgimento (Rises). Todo o seu treinamento, passando pelo desgaste físico e emocional do personagem, até mesmo o novo QG subterrâneo, nos remete à obra de Nolan.

Contudo, a nova produção mantém a ação frenética de 007 - Cassino Royale e 007 - Quantum of Solace (que foi um fracasso total de crítica), ao passo que se distancia quanto ao roteiro destes antecessores. Em Skyfall, a nostalgia toma conta da projeção, a começar pela presença do clássico carro Aston Martin DB5, com a placa BMT216A (o mesmo utilizado por Sean Connery); a utilização de animais exóticos nas cenas de ação (tão usados nos filmes do Roger Moore, por exemplo), imprimindo elegância e ajudando a compor a atmosfera de perigo, além de outras referências aos filmes antigos. 

Na trama, 007 é ferido durante uma missão e dado como morto pelo governo britânico. Ele, no entanto, vê a situação como a chance de se aposentar e deixar para trás a vida de arriscadas missões. Ao ficar sabendo de um ataque terrorista à sede da agência MI6, em Londres, o agente decide voltar ao serviço, colocando-se a disposição de M para apanhar o responsável pelo crime.
Daniel Craig está cada vez melhor na pele do herói. Em determinado momento, o espião, depois de ser baleado, se joga em um trem em movimento e a primeira coisa que faz ao "aterrissar" é ajeitar as mangas da camisa. Isso é Bond, James Bond!

Berenice Marlohe, Ralph Fiennes, Naomie Harris, Bem Whishaw e Albert Finney completam o elenco, com destaque para os dois primeiros. Marlohe interpreta a cativante, bela e misteriosa Bond Girl Severin, enquanto que Fiennes surge como um importante membro do governo, que entrará em confronto com 007 e M por considerá-los ultrapassados.

Destaque para a tradicional sequência de abertura. A canção tema "Skyfall", ficou a cargo de Adele, casando perfeitamente com a narrativa proposta. E a cantora não fez feio. A trilha, composta e cantada por ela, tem na sua belíssima e inconfundível voz e acordes um arranjo harmônico que perpassa toda a trajetória de Bond, se encaixando impecavelmente no roteiro do filme.

Enfim, o agente secreto mais famoso do mundo chega aos 50 anos esbanjando virilidade, charme, vigor e aumentando, cada vez mais, o "exército" de fãs da franquia. Que venham mais 50...  


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Argo


Temos que dá o braço a torcer: Ben Affleck deu a volta por cima, ou melhor, por trás (das câmeras), depois da decadente carreira de ator e promissora como roteirista (lembre que o cara já havia ganhado até Oscar pelo roteiro de Gênio Indomável, junto com o seu amigo Matt Damon). Ao dirigir Medo da Verdade em 2007, e Atração Perigosa em 2010, o cineasta está provando porque é um dos diretores mais promissores da atualidade. Com Argo, veio a certeza que amadureceu bastante ao longo deste percurso, entregando seu melhor filme até o momento.

Ambientado em 1979, durante a crise política-religiosa iraniana, o filme mostra o empenho do governo dos EUA para resgatar seis dos seus diplomatas do Irã, depois que grupos revolucionários tomaram conta das ruas da capital Teerã e invadiram a embaixada norte-americana. Na ocasião, seguidores do aiatolá Khomeini mantiveram cativos, por 444 dias, 52 americanos que estavam na embaixada do país. O caso ficou conhecido como “Crise dos reféns” (1979-1981).

No início da película, uma narrativa em quadrinhos explica detalhadamente a conjuntura política da época e porque os americanos foram presos: os Estados Unidos haviam ajudado o xá Mohammad Pahlavi chegar ao poder – a partir de interesses econômicos – e quando ele foi deposto em 1979 por Khomeini, a Casa Branca lhe ofereceu asilo político. O ato enfureceu a população local, que enxergava no antigo governante um criminoso a ser julgado.

Para ajudar os seis diplomatas – refugiados na embaixada canadense – a escapar da fúria iraniana e fugir do país, entra em cena Tony Mendez (Affleck em sua melhor atuação), especialista em extrações ou "exfiltrações" (contrário de infiltração) da CIA, com um plano mirabolante: Mendez viajaria até o Irã fingindo ser o responsável por uma falsa produção sci-fi de Hollywood e convenceria a Secretaria de Estado que o exótico país seria a locação perfeita para o filme Argo – uma cópia descarada de Star Wars. A intenção era colocar os reféns como membros da equipe de filmagens e sair de lá sem que eles fossem notados. Mas o plano ganha contornos dramáticos quando as coisas não saem como planejadas, principalmente graças à direção de Affleck, que consegue lhe dar com um roteiro repleto de núcleos compostos por vários personagens, dando um fim satisfatório para a trajetória de cada um, sem se perder na montagem.

Os eventos que levaram a este resgate “cinematográfico” foram mantidos em segredo durante muitos anos e só a partir de 1997, no segundo mandato de Clinton se tornaram públicos – dez anos depois, o jornalista Joshuah Bearman publicou o fato na revista Wired. Aliás, o filme faz questão de lembrar o espectador deste “detalhe” a todo instante, combinando imagens reais com encenações, numa edição e fotografia primorosas.

Argo é um longa intenso e instigante que prende à atenção do início ao fim. Apesar da seriedade da história, cheia de ação e suspense, o filme oferece também momentos hilariantes – proporcionados pelos coadjuvantes John Goodman e Alan Arkin nos papeis de colaboradores da CIA – quando utiliza a própria indústria cinematográfica como alvo de suas piadas (metalinguagem pura). Sem dúvida estará entre os principais indicados ao Oscar 2013, seja por sua qualidade técnica como um todo e/ou por contar uma história repleta de patriotismo, esbarrando no limite do ufanismo ou simplesmente sobre um fato histórico bem contado. Do jeito que o diabo  a Academia gosta.

                                       

Comentários
4 Comentários

4 comments:

  1. Adorei os dois filmes, mas tenho que admitir que Argo me pegou bem mais, exatamente por causa do Ben Affleck, sem dúvidas o melhor da carreira dele! Boa resenha Pipoca, parabens!

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  2. Que blog bem escrito Rafael, parabéns!! Estou louca para assistir Argo!!

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  3. Poxa, obrigado aí Dra. Janaína Câncio. Esse blog é feito com muito carinho para vocês, apreciadores da sétima arte...

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