Rafael Morais
19 de novembro de 2012.
007
- Operação Skyfall
Após entregar uma
pistola e um rádio para James Bond, o cientista Q nota
a cara de decepcionado do agente e questiona: "O que você esperava? Uma
caneta explosiva? Não fazemos mais isso." A frase é engraçada e simples,
mas diz muito sobre a última trilogia do herói, pós-Pierce Brosnan. A
verdade é que desde que Daniel Craig assumiu o posto do
espião mais famoso dos cinemas, os longas ganharam contornos mais realistas,
principalmente nas cenas de ação. A referência clara é a trilogia de
Jason Bourne (dirigida por Doug Liman e Paul
Greengrass), como fica evidente nas diversas sequências de perseguição com
motos subindo e descendo escadas constantemente, além de "aulas"
de Le Parkour, e claro, muito porrada.
Para 007
- Operação Skyfall, o diretor Sam Mendes contou
com outra referência de peso e que virou moda: Batman - O Cavaleiro
das Trevas de Christopher Nolan. E isso fica claro no
decorrer da obra, com o vilão vivido por Javier Bardem surgindo
como uma espécie de Coringa, seja pelo visual estranho, seja pelo
fato de lidar bem com o caos. O fato é que os diálogos na prisão e os trejeitos
na composição do personagem Silva, lembram demais a atuação
de Heath Ledger no papel do palhaço desmiolado. Outra evidente
comparação com a recente trilogia do "Morcegão", fica por conta da
"queda" de Bond, tendo como consequência o seu ressurgimento
(Rises). Todo o seu treinamento, passando pelo desgaste físico e
emocional do personagem, até mesmo o novo QG subterrâneo, nos remete à obra
de Nolan.
Na
trama, 007 é ferido durante uma missão e dado como morto pelo governo
britânico. Ele, no entanto, vê a situação como a chance de se aposentar e
deixar para trás a vida de arriscadas missões. Ao ficar sabendo de um ataque
terrorista à sede da agência MI6, em Londres, o agente decide voltar ao
serviço, colocando-se a disposição de M para apanhar o
responsável pelo crime.
Berenice Marlohe, Ralph
Fiennes, Naomie Harris, Bem Whishaw e Albert Finney completam
o elenco, com destaque para os dois primeiros. Marlohe interpreta
a cativante, bela e misteriosa Bond Girl Severin, enquanto
que Fiennes surge como um importante membro do governo,
que entrará em confronto com 007 e M por
considerá-los ultrapassados.
Destaque para a tradicional sequência
de abertura. A canção tema "Skyfall", ficou a
cargo de Adele, casando perfeitamente com a narrativa
proposta. E a cantora não fez feio. A trilha, composta e cantada por ela, tem
na sua belíssima e inconfundível voz e acordes um arranjo harmônico
que perpassa toda a trajetória de Bond, se encaixando
impecavelmente no roteiro do filme.
Enfim, o agente secreto mais famoso do
mundo chega aos 50 anos esbanjando virilidade, charme, vigor e aumentando, cada
vez mais, o "exército" de fãs da franquia. Que venham mais 50...
-----------------------------------------------------------------------
Argo
Temos que dá o braço a torcer: Ben
Affleck deu a volta por cima, ou melhor, por trás (das câmeras),
depois da decadente carreira de ator e promissora como roteirista (lembre que o
cara já havia ganhado até Oscar pelo roteiro de Gênio Indomável,
junto com o seu amigo Matt Damon). Ao dirigir Medo da Verdade em 2007, e Atração Perigosa em 2010, o cineasta está provando porque é
um dos diretores mais promissores da atualidade. Com Argo, veio a certeza que amadureceu bastante ao longo deste
percurso, entregando seu melhor filme até o momento.
Ambientado em 1979, durante a crise
política-religiosa iraniana, o filme mostra o empenho do governo dos EUA para
resgatar seis dos seus diplomatas do Irã, depois que grupos revolucionários
tomaram conta das ruas da capital Teerã e invadiram a embaixada
norte-americana. Na ocasião, seguidores do aiatolá Khomeini mantiveram
cativos, por 444 dias, 52 americanos que estavam na embaixada do país. O caso
ficou conhecido como “Crise dos reféns” (1979-1981).
No início da película, uma narrativa em
quadrinhos explica detalhadamente a conjuntura política da época e porque os
americanos foram presos: os Estados Unidos haviam ajudado o xá Mohammad
Pahlavi chegar ao poder – a partir de interesses econômicos – e quando
ele foi deposto em 1979 por Khomeini, a Casa Branca lhe ofereceu
asilo político. O ato enfureceu a população local, que enxergava no antigo
governante um criminoso a ser julgado.
Para ajudar os seis diplomatas –
refugiados na embaixada canadense – a escapar da fúria iraniana e fugir do
país, entra em cena Tony Mendez (Affleck em
sua melhor atuação), especialista em extrações ou "exfiltrações"
(contrário de infiltração) da CIA, com um plano mirabolante: Mendez viajaria
até o Irã fingindo ser o responsável por uma falsa produção sci-fi de Hollywood e
convenceria a Secretaria de Estado que o exótico país seria a locação perfeita
para o filme Argo – uma cópia descarada de Star Wars. A intenção era colocar os reféns como
membros da equipe de filmagens e sair de lá sem que eles fossem notados. Mas o
plano ganha contornos dramáticos quando as coisas não saem como planejadas,
principalmente graças à direção de Affleck, que consegue lhe
dar com um roteiro repleto de núcleos compostos por vários personagens, dando
um fim satisfatório para a trajetória de cada um, sem se perder na montagem.
Os eventos que levaram a este resgate
“cinematográfico” foram mantidos em segredo durante muitos anos e só a partir
de 1997, no segundo mandato de Clinton se tornaram públicos –
dez anos depois, o jornalista Joshuah Bearman publicou o fato
na revista Wired. Aliás, o filme faz questão de lembrar o
espectador deste “detalhe” a todo instante, combinando imagens reais com
encenações, numa edição e fotografia primorosas.
Argo é um longa intenso
e instigante que prende à atenção do início ao fim. Apesar da seriedade da
história, cheia de ação e suspense, o filme oferece também momentos hilariantes
– proporcionados pelos coadjuvantes John Goodman e Alan
Arkin nos papeis de colaboradores da CIA – quando utiliza a
própria indústria cinematográfica como alvo de suas piadas (metalinguagem
pura). Sem dúvida estará entre os principais indicados ao Oscar 2013, seja por
sua qualidade técnica como um todo e/ou por contar uma história repleta de
patriotismo, esbarrando no limite do ufanismo ou simplesmente sobre um fato
histórico bem contado. Do jeito que o diabo a Academia gosta.
Adorei os dois filmes, mas tenho que admitir que Argo me pegou bem mais, exatamente por causa do Ben Affleck, sem dúvidas o melhor da carreira dele! Boa resenha Pipoca, parabens!
ResponderExcluirRealmente, Argo é um filmão mesmo. Obg, Renata.
ExcluirQue blog bem escrito Rafael, parabéns!! Estou louca para assistir Argo!!
ResponderExcluirPoxa, obrigado aí Dra. Janaína Câncio. Esse blog é feito com muito carinho para vocês, apreciadores da sétima arte...
ResponderExcluir