segunda-feira, 22 de outubro de 2012

RAPADURA DE OURO - Réquiem Para um Sonho

Aronofsky expõe os vícios e as fraquezas humanas, ao passo que deixa o espectador psicologicamente destruído.
Rafael Morais
22 de outubro de 2012.

Réquiem significa prece pelos mortos. E é justamente isso que se traduz do filme. Darren Aronofsky (roteirista e diretor) clama ao denunciar, de uma forma bem peculiar, todos os tipos de morte. Para o cineasta, o que está em voga não é necessariamente perder uma vida, mas, sobretudo, o falecimento dos sonhos. Seja de uma juventude transviada ou da solidão de um ser, os sonhos cairão um a um. Assim, em Réquiem Para um Sonho, os personagens pagarão caro o preço pelas escolhas e padecerão sob as fraquezas da carne e do espírito. Tudo captado pelas aguçadas lentes de Aronofsky e retratado em afiados e inesquecíveis diálogos.

Não é fácil assistir e "digerir" os 102 minutos desse filme. As mãos gélidas traduzem a apreensão de um pobre espectador - tão humano quanto os personagens ali apresentados - esperando uma reviravolta e em busca de um final feliz. Pobre ilusão! Ao final, a sensação é de que levamos uma surra, pois presenciamos a degradação humana frente ao vício das drogas (lícitas ou ilícitas). Não há firulas, embelezamentos ou poesia. As sequências são fortes, nuas e cruas, como a vida é. O roteiro, também assinado por Aronofsky, descreve diferentes formas de vícios, conduzindo os personagens ao aprisionamento em um mundo ideal, que é então tomado e devastado pela realidade.

Na verdade, a intensa e tocante trilha sonora de Clint Mansell, interpretada pelo Kronos Quartet, se tornou icônica, sendo massivamente utilizada por outros filmes. A trilha sonora acrescenta como elemento narrativo, acompanhando os principais pontos do longa e ajudando a criar o clima de angústia. Os contornos e nuances da música dão a entender que estamos participando de uma marcha fúnebre, onde os personagens devaneiam nas próprias esperanças.   

Inspirado no romance de Hubert Selby Jr., a trama se apresenta de forma simples, onde o ponto central está nos vícios da sociedade moderna, como heroína, "TV aberta", a busca insana pela beleza e os seus padrões, a perversidade sexual, e diversos outros fatores desencadeados pela solidão, ganância e inconsequência. O filme narra a história de Harry Goldfarb (Jared Leto, em sua melhor atuação), que tem a "brilhante" ideia de revender uma droga alterando sua qualidade, com a ajuda de sua namorada Marion Silver (a  sempre estonteante Jennifer Connelly) e seu amigo Tyrone C. Love (o multifacetado, Marlon Wayans, conhecido pelas suas comédias "mamão com açúcar"). Juntos eles iniciam esta parceria no crime, mas as consequências deste universo se tornariam bruscas demais para os três e quem os rodeia. 

Ponto forte para o talentosíssimo elenco em atuações marcantes, como a de Ellen Burstyn interpretando Sara Goldfarb (mãe de Harry), cujo desempenho lhe rendeu uma indicação (injustiça não ter ganhado) ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. Desaparecendo dentro de Sara, a atriz expõe a solidão de uma mulher que nada mais tem na vida a não ser assistir seu programa de TV preferido e tentar emagrecer para entrar em seu velho vestido vermelho, no qual ficava tão bonita. É para isso que ela toma suas anfetaminas, e assim, deteriora o que lhe resta de sanidade.

No fim, somos envolvidos em uma atmosfera alucinante, onde os medos e delírios são fielmente retratados por uma incrível montagem, edição e trilha sonora que faz do filme uma experiência inesquecível. 



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