Há algo de profundamente humano na tentativa de começar de novo — de apagar o passado e reescrever o futuro em outro lugar.
Em Éden, Ron Howard nos conduz às Ilhas Galápagos, onde um grupo de europeus decide fundar uma sociedade perfeita, longe da guerra e da corrupção do mundo moderno. Mas a natureza, impassível, apenas observa enquanto o velho roteiro da humanidade se repete: a criação, o conflito e a queda.
Com Jude Law, Ana de Armas, Vanessa Kirby, Sydney Sweeney e Daniel Brühl, o filme mergulha na tensão entre o ideal e o instinto. O paraíso logo revela sua face mais cruel — a de um sonho que apodrece quando o ego toma o lugar de Deus. Howard filma com precisão e paciência, permitindo que o calor, o silêncio e o mar se tornem personagens de um drama que é tanto físico quanto espiritual.
O receio aqui não vem da selva, mas do humano. Cada personagem carrega o próprio Éden dentro de si: um desejo, uma culpa, uma fuga. Quando esses mundos colidem, o isolamento se torna espelho e a utopia, penitência. O filme nos lembra que o inferno não é o lugar para onde somos lançados, mas aquele que construímos quando acreditamos poder controlar o paraíso.
Éden revela que toda utopia nasce condenada — não pela natureza, mas pelo homem.
Porque o verdadeiro fracasso não está em sonhar com o paraíso, mas em acreditar que podemos habitá-lo sem antes encarar o que há de mais imperfeito em nós.
Howard nos mostra que não é o isolamento que destrói — é o espelho que ele cria. E diante dele, o homem descobre que o paraíso nunca foi perdido: foi apenas corrompido por dentro.
