A relação que temos com o tempo é, ao mesmo tempo, fascinante e inquietante. Há dias em que gostaríamos de acelerá-lo, outros em que tudo o que queremos é que ele pare por um instante. Essa tentativa de controlar o tempo — ou pelo menos entendê-lo — é o fio condutor de dois filmes muito diferentes em estilo, mas profundamente conectados em essência: 'Click' (2006), estrelado por Adam Sandler, e 'Questão de Tempo' (About Time, 2013), com Domhnall Gleeson e Rachel McAdams.
Em 'Click', Michael Newman (Adam Sandler) recebe um controle remoto universal que, além de mudar os canais da TV, permite pausar, avançar e rebobinar momentos da sua própria vida. A princípio, parece resolver todos os seus problemas: ele pula discussões com a esposa, doenças, dias difíceis no trabalho e avança direto para o que considera mais importante. Mas, ao deixar que o controle tome decisões automáticas com base em suas escolhas anteriores, Michael começa a pular justamente os momentos que não se repetem — aniversários dos filhos, conversas com o pai, pequenas rotinas que formam a memória afetiva de uma vida. Ao tentar manipular o tempo, ele se distancia da própria existência.
Já em 'Questão de Tempo', Tim (Domhnall Gleeson) descobre que os homens de sua família têm o dom de voltar no tempo, podendo revisitar e alterar momentos passados. Diferente de Michael, ele não busca atalhos para o sucesso, mas sim reviver momentos cotidianos com mais cuidado. Ao longo do filme, ele aprende que o verdadeiro poder não está em corrigir o passado, mas em aproveitar melhor o presente. E, ao contrário de Michael, que tenta acelerar o tempo para chegar a algum lugar, Tim opta por desacelerar para saborear onde está. Seu pai, interpretado por Bill Nighy, o conduz nesse entendimento com uma delicadeza que torna o filme ainda mais reflexivo.
Ambos os protagonistas têm em mãos um tipo de controle — um literal, outro mental — e ambos acreditam que dominar o tempo é uma maneira de viver melhor. No entanto, o que descobrem ao longo da jornada é que, ao tentar controlar o tempo, correm o risco de perder o que ele tem de mais precioso: a presença. 'Click' mostra a consequência de viver no piloto automático; 'Questão de Tempo' revela a beleza de viver com intenção.
No fundo, esses dois filmes nos lembram que o tempo não é algo a ser vencido, e sim compreendido. Que o valor da vida está nos instantes mais simples e nos encontros que não podem ser programados ou repetidos. Talvez a verdadeira sabedoria esteja justamente em viver por inteiro o agora — porque, no fim das contas, por mais que a gente tente, o tempo nunca está sob nosso controle.