Por Rafael Morais
Após a morte do rei T'Challa, Wakanda está cada vez mais
vulnerável às intervenções das potências mundiais. Agora, mais do que nunca, os
olhos da nação guardiã do vibranium estão atentos e voltados aos ares, à terra
e, sobretudo, ao mar.
O ponto de partida para essa nova história dos estúdios
Marvel é, justamente, a precoce partida do ator Chadwick Boseman. O diretor e
roteirista Ryan Coogler teve que "corrigir a rota" e reinventar uma
narrativa do zero. Desafio perceptível, a começar por fazer um mistério sem
sentido de quem vai assumir o manto do herói. Era bastante óbvio e natural quem
seria escolhido(a), mas mesmo assim fizeram disso um chamariz desnecessário.
Começando pelos destaques negativos do longa, é perceptível a
pressa do roteiro em resolver os conflitos gerados. Se o filme cria uma
expectativa ao dizer que será difícil, quase impossível, a fuga de uma
personagem raptada para um lugar desconhecido e altamente inóspito, rapidamente
há uma solução fácil para desfazer tudo aquilo que foi criado como problema. E
isso acontece várias vezes, inclusive no seu desfecho. Os furos do script ficam
perceptíveis, mas parece que a produção não estava tão interessada em
corrigi-los.
Ainda sobre os aspectos frágeis, não menos frustrante é perceber
que Shuri (Letitia Wright) não segura a onda como protagonista. Se no filme de
2018 a personagem funcionou muito bem como alívio cômico na pele de uma
cientista genial e leve; aqui, em Wakanda Forever, o peso do luto não lhe caiu
bem. Sai o sorriso largo para dar lugar a um olhar triste e às lágrimas.
Ressentimentos e culpa substituem a leveza da irmã enlutada do herói. Talvez
por isso a razão de existir da bela cena pós-crédito que mira a esperança e o
futuro desse universo.
Já sobre os aspectos positivos, que não são poucos, destaco
as atuações de Angela Basset vivendo uma Rainha Ramona pesarosa, sofrida, mas
não menos forte como figura política imponente. É uma atuação segura e vigorosa
que contrapõe o seu estado de espírito. E por falar em elenco, a adição de
Tenoch Huerta como Namor é um acerto enorme! O ator mexicano aproveita a
oportunidade e não decepciona, pelo contrário. Atuando com olhares e expressões
corporais impactantes, Huerta se estabelece e se impõe na história.
Igualmente fantástica, a fotografia de Autumn Durald, bem
como a direção de arte, evoca a cultura africana através das cores e
enquadramentos contemplativos, especialmente nas cenas do velório de T'Challa.
Tudo ancorado pela apoteótica trilha sonora capaz de mesclar o anacronismo
entre a tecnologia e o analógico. O visual de Talocan e seus habitantes também
merece elogio. Além do mais, a Marvel sabe construir universos e sempre
capricha nos capangas do vilão, não tem como negar.
As cenas de ação, por sua vez, são bem coreografadas com o
peso necessário na batalha. É perceptível o atrito do vibranium no impacto dos
embates. Destaco a sequência de perseguição de carro que termina na ponte.
Simplesmente sensacional a construção da tensão (a utilização de animais
marinhos como meio de transporte é hipnótico e traz um ar de perigo/urgência
surreal) seguida por uma trocação franca "comendo solta". Assim, toda
a ação é filmada e ritmada através da utilização de músicas eletrônicas com
batidas de tambores que remetem ao hightech da cultura "wakandiana".
Por fim, entre altos e baixos, Ryan Coogler entrega um
filme-homenagem intimista e visualmente poderoso. Emocionante - já marejei os
olhos com a abertura clássica da Marvel só com cenas de Boseman como Pantera
Negra, mas sem som algum - essa continuação expande o universo de Wakanda com
sucesso.
*Avaliação: 4,0 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,0