Por Rafael Morais
23 de janeiro de 2017
Comédia de situações não acha o tom e se perde no que deveria
ser melhor: explorar a química entre Marco (Marcelo Adnet) e Beto (Eduardo
Sterblitch), dualizando a figura do malandro e do inocente, abordagem que o
primeiro filme conseguiu realizar, mas que carecia de um melhor
desenvolvimento. Nesta sequência, focada na perspectiva de Beto, agora como
personagem principal da trama, vimos o sujeito ser enganado pelo seu
amigo/comparsa Marco, depois de mais um calote aplicado. Desmiolado, Beto
perambula pelo Rio de Janeiro até se esbarrar, literalmente, com Santiago
(Danton Melo), um rico empresário com interesses escusos. Assim, a Laura de
Mariana Ximenes entra em ação, coadjuvante de luxo, como a femme fatale ideal
para os golpes mais ousados, seguida de perto pelo também golpista Nelson
(Stepan Nercessian).
O conceito do filme sempre foi interessante: um típico
menino do Rio se junta a uma trupe de estelionatários que querem ganhar a vida
na moleza. E a sequência do estacionamento, onde os sujeitos buscam um carro e
descem de elevador planejando a próxima trambicagem, é icônica para representar
a boa ideia central para a franquia. O problema está, entre outras questões, em
um script repleto de palavrões gratuitos que se baseia nas coincidências para
ancorar o arco de seus personagens. Como podemos ver nas cenas em que Nelson é
beijado por uma garota, surgindo do nada e que só fala palavrão; bem como
naquela em que Santiago liga para um serviço de acompanhantes e aparece Laura,
de paraquedas, sendo que Beto e Nelson já estavam na casa do empresário! Soa
preguiçoso, no mínimo, um argumento que não tem dimensão do tamanho geográfico da cidade
onde passa a história.
No entanto, é reconfortante perceber a referência do
cineasta Andrucha Waddington, que retorna no comando da direção, sempre optando
por um jazz ao fundo (apesar de mastigar as gag’s visuais de humor), ao passo
que a fotografia ensolarada e blasé, ao mesmo tempo, nos remetem à filmografia
de Woody Allen. Mas, infelizmente, apenas nesse ponto podemos comparar ambos os
realizadores. Em outro aspecto, o Beto de Eduardo Sterblitch grita Jim Carrey.
Tanto nas expressões faciais (caretas de todo tipo), quanto no humor físico
apurado, o ator brasileiro não esconde o seu fascínio pelo trabalho do colega
canadense. Contudo, diferente de Carrey, Sterblitch ainda não tem estofo
suficiente para segurar um filme como protagonista, sendo mais aconselhável
jogar no colo de Marcelo Adnet e Mariana Ximenes (outra excelente atriz mal
explorada pelo fraco roteiro) esta responsabilidade, coisa que o longa também
desperdiça.
Por fim, apesar de arrancar algumas boas risadas, estamos diante do
famoso “mais do mesmo”, entregando ainda, em uma cena pós-crédito, um possível
terceiro episódio.
*Avaliação: 2,5 pipocas + 2,5 rapaduras = nota 5,0.