Por Rafael Morais
31 de agosto de 2016
Vendido como uma animação de pano de
fundo minimalista, soando intimista e despretensioso (basta ver o trailer), “Pets – A
Vida Secreta dos Bichos” chegou disposto a mostrar o outro lado da vida dos
bichos quando estão longe de seus donos, tal qual “Toy Story”. Sim, a
referência a Woody, Buzz e sua turma está lá escancarada para quem quiser ver.
Sorte que homenagear e tomar como referência obras renomadas como as da Pixar é um grande acerto do novel, mas, não menos promissor estúdio: Illumination Entertainment. Responsável pela criação da franquia “Meu
Malvado Favorito”, e, consequentemente, o sucesso que são os “Minions”, o estúdio
chegou para ficar ao apresentar uma proposta diferente da concorrente: a diversão
acima de tudo! E o termo entretenimento cunhado em seu próprio nome não é à
toa. Digo isso não como demérito, apenas talvez eu esteja acostumado com produções
que tenham algo a mais a oferecer, como “Divertidamente”, “Wall-E” e o próprio “Toy Story”, por exemplo.
Aqui em “Pets”, a Illumination teve essa
chance de mesclar a emoção do drama com a comédia/ação, contudo, o resultado
ainda não parecer estar balanceado. Perceba que em uma determinado
cena da película, quando uma personagem encontra o seu grande amor, a frieza representada neste esperado momento frustra o espectador ansioso por sentir outras emoções que não
apenas gargalhar. Aliás, o curta-metragem “Minions Jardineiros”, apresentado
antes do filme, é hilário! Muitos adultos que estavam na minha sessão gargalhavam
alto, alguns até choravam de tanto rir.
Voltando à animação, o universo
microcosmo sugerido nas prévias, como se todo o longa fosse se passar ali na
vida cotidiana dos prédios e apartamentos circunvizinhos não representa 20% do
filme, infelizmente. Confesso que isso frustrou um pouco a minha expectativa, pois, constatei,
já no final do primeiro ato, que aquele não era o filme que imaginava. De
coração aberto, mesmo contrariado, resolvi seguir em frente, o que, para minha
alegria, tive ótimas surpresas.
A história conta a vida de Max (narrado pelo
sempre competente Danton Mello), um cãozinho que foi adotado desde novo, e
que não demora até ganhar a presença de um “irmãozinho”, Duke (Tiago Abravanel),
também adotado, que chega para disputar o espaço, literalmente, e a atenção de sua dona. Nesse meio tempo, enquanto rolam as desventuras dos protagonistas,
culminando com o sumiço de ambos após uma confusão, conhecemos os outros
personagens que circundam o núcleo de Max, como: a romântica Gigi, a gatinha Chloe,
o gavião Tiberius, o salsichinha Buddy, entre outros.
Assim, enquanto o
argumento estampado no trailer se esvai - “Já imaginou o que os bichinhos de estimação fazem
enquanto seus donos estão fora? Uns assaltam a geladeira, outros ouvem heavy metal e até jogam videogame” – os diretores Chris Renaud e Yarrow Cheney se desdobram em criatividade
para prender a atenção do público ao utilizarem excelentes referências sonoras
e cinematográficas. Observe no quarto do passarinho que há um apropriado pôster
de “Pássaros” de Alfred Hitchcok. Também encontramos homenagem ao game “Super
Mario Bros”, além da inserção de músicas empolgantes como: "Happy" do “Pharrel
Williams” (já tocada em “Meu Malvado Favorito”) e uma versão estranhamente
repaginada de Stayin’ Alive dos “Bee Gees” que surgem durante a divertida
animação. Sem contar o rock pauleira do poodle Leonardo ouvindo o seu “System of a
Down”. Roubou a cena!
Não menos surpreendente é o vilão na pele de um nervoso
coelhinho chamado "Bola de Neve". Com os seus ideais deturpados por ter sido abandonado
pelo seu dono (lembrando a composição e motivações do urso Lotso em “Toy Story
3”), o coelhinho nutre mágoa, pra não dizer ódio, aos humanos. Bem desconstruído, já que a imagem desse bichinho sempre é vista com fofura, “Bola
de Neve” quebra o estigma com muito carisma e liderança sobre os demais animais
revoltados.
Com um humor metalinguístico apurado, tirando sarro de si próprio,
e recheado de várias piadas de duplo sentido, entre elas: “deixa de cachorrada”,
diz um cão ao outro, “só nado cachorrinho”, “aí gatinha, você é uma gatinha”, Pets
aposta todas as suas fichas na comédia.
Por fim, tirando o inesperado tom grandiloquente
em detrimento do filme menor, esperado por mim, pelo menos, bem como a falta de
tato/sensibilidade em não balancear as emoções (e olha que o argumento inicial
tinha um grande potencial para isso), o novo longa da Illumination, ainda assim, representa um progresso na curta filmografia da produtora.
*Avaliação: 3,5 pipocas + 4,0
rapaduras = nota 7,5.