Por Rafael Morais
Quando foi publicada a prévia de "Rua Cloverfield
10", o mistério que envolvia a produção era notório, uma vez que o seu
título carrega uma menção expressa a outro filme: "Cloverfield -
Monstro". Contudo, diferente de seu antecessor, este filme possui uma escala
bem menor quando aposta em um suspense psicológico tenso e no estudo de
personagens. Na verdade, o longa funciona tão bem, com autonomia, que não havia
necessidade de atrelá-lo a outro, numa clara tentativa de estratégia
mercadológica para levar um público alvo que já curte aquele universo.
A
história narra o conflito de três personagens que se veem às voltas num bunker,
enclausurados, por conta de Howard (o extraordinário John Goodman), um sujeito
paranoico que constrói esta espécie de abrigo para, segundo ele, se livrar de
uma suposta guerra nuclear que de repente, embora ele já esperasse, assola o
mundo lá fora. A moral de Howard é questionada desde o momento em que salva
Michelle (a bela Mary Elizabeth Winstead) de um acidente automotivo, mantendo-a
em cárcere privado, insistindo que não podem sair por conta dos efeitos nocivos
das bombas.
Também conhecemos o carismático Emmett (John Gallagher Jr.), que
diferente de Michelle, quis estar ali dentro, forçando a sua entrada. O cara
acredita, piamente, em tudo que Howard diz, sendo totalmente subserviente.
Funcionando como alívio cômico, Emmett é figura chave na trama do roteirista Damien
Chazelle, uma vez que a sua ingenuidade conduz o arco dramático para
um desfecho essencial, impulsionando a história pra frente.
Assim, o clima
claustrofóbico é bem representado não só pelo cenário fechado, conferindo vida
própria a cada ambiente - ponto para a caprichada direção de arte - como também
por close-up’s que cerram a protagonista constantemente, enquadrando-a tal qual
a sua situação naquele lugar. Dona de diálogos afiados, a película é tomada por
uma atmosfera cada vez mais densa, tudo auxiliado por ótimas atuações. A
direção de Dan
Trachtenberg, por sua vez, é competente ao deixar o espectador na
ponta da cadeira, tamanha a tensão instalada.
Com um terceiro ato que se
entrega à ficção, se aproximando mais de fitas como "Guerra dos
Mundos", por exemplo, este "Rua Cloverfield 10" perde um pouco
da coragem ao desfocar da jornada pontual, intimista, quando se vê obrigado,
enquanto franquia que tenta ser, à grandiloquência, ao espetáculo do blockbuster.
E não que isso seja ruim, mas, com certeza, cai nas convenções do gênero
tornando a experiência com um gostinho de déjá vu.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,0 rapaduras = nota 8,5