sábado, 20 de abril de 2013

EM CARTAZ - Oblivion


Sim, há vida entre as referências.
Rafael Morais
20 de abril de 2013.

"Acusado" por alguns como mero copiador e "pau-mandado" de produtores executivos, mas por outros como um diretor com visão própria e autoral, Joseph Kosinski (Tron: O Legado) transita, ao mesmo tempo, entre o "limbo" dos críticos e o "paraíso" do grande público. Confesso, porém, que faço parte desse segundo time. Acredito que o cineasta traz ingredientes e conceitos novos dentro de uma salada de homenagens.

E em Oblivion não é diferente. O que seria o olho vermelho biônico dos drones e o nome da nave espacial chamada Odyssey, se não uma rasgada referência a 2001 - Uma Odisseia no Espaço? Claro que Kosinski sabe que anda longe de ser um Stanley Kubrick, contudo, valer-se desses clássicos como exemplo anda longe de ser um pecado, principalmente quando se trata de um novel cineasta, o que é o caso. Por acaso, ter uma citação no calibre de Kubrick é demérito? Até mesmo o promissor e novato Duncan Jones (Lunar e Contra o Tempo) bebe, sem vergonha - no bom sentido - do legado "Kubrickiano". O fato é que Oblivion respeita ao pegar pra si todas essas menções, inclusive dialogando bastante com o próprio Lunar, acima citado, e com a animação Wall-E da Pixar, ao passo que introduz um universo novo e uma visão bem peculiar.

Escrito pelo próprio diretor, em parceria com Karl Gajdusek (Reféns) e Michael Arndt (Toy Story 3), o filme se passa num futuro pós-apocalíptico, onde a humanidade abandonou a Terra para viver em Titã (uma das luas de Saturno) depois que os temidos “saqueadores” - cujo visual lembra muito O Predador - destruíram a Lua e com isso alteraram todo o ecossistema terrestre. Nesse cenário, Jack Harper (Cruise, competente e carismático como de costume) trabalha no planeta realizando manutenção e garantindo o funcionamento das máquinas que extraem os recursos naturais terrestres e os transformam em energia para ser utilizada na nova colônia humana. E nesse ponto, mais uma vez, os críticos de plantão tentam diminuir a produção por achar que o astro Tom Cruise carrega o filme nas costas. Ora, desde quando acertar na escolha de um elenco é algo negativo? A verdade é que o roteiro é bem escrito e inovador, ao seu modo. 

Voltando à trama, vimos um protagonista que começa a história com o seu uniforme de trabalho bem limpo, impecavelmente em tons pastel, e na medida em que ele vai descobrindo a verdade e imergindo na história, a mesma vestimenta vai se sujando até ficar em tons escuros, servindo como um simbolismo para acompanhar a evolução do personagem e a sujeira em que ele e sua parceira Vika (a bela ruiva, Andrea Riseborough) se meteram. 

Assim, como o trabalho de Jack consiste também em enfrentar os perigos desse planeta inóspito, ainda habitado pelos tais saqueadores – cujas feições e os reais motivos que os levaram a entrar em guerra contra os humanos permanecem um mistério –, Jack conta com a ajuda da sua parceira e técnica de comunicações Vika, diminutivo de Victoria, cuja base de operações é a casa acima das nuvens onde os dois vivem. Interessante perceber os detalhes primorosos dessa casa. Ponto para a direção de arte que constrói um protótipo de residência do futuro, onde a tecnologia da Apple estaria espalhada por todos os cômodos.  Não detalharei mais a trama para não entregar alguma reviravolta. Basta dizer apenas que o protagonista sonha constantemente com uma bela mulher (Olga Kurylenko, a bond girl de 007 Quantum of Solace e sósia de Catherine Zeta Jones), mesmo depois de sua memória ter sido apagada antes de embarcar na missão.

Para colocar em prática a imaginação dos criadores, os efeitos visuais são excelentes e ajudam, sobremaneira, à fluidez narrativa. Aliado a este ótimo visual, está a eficiente e dinâmica trilha sonora, que lembra muito a do Daft Punk em Tron: O Legado (primeiro longa do diretor) ao conferir notas monofônicas, do tipo videogames de 8 bits e celulares antigos, com batidas eletrônicas. E, claro, não poderia faltar a essa composição os tons graves, que viraram obrigatórios depois de A Origem. Os famosos BAUMMMMM (onomatopeia) de Zimmer são copiados à exaustão em qualquer ficção científica. Ainda falando em parte técnica, perceba que as cores do filmes mudam de acordo com a memória do protagonista, ou seja, quando Jack ainda não lembra ao certo o que aconteceu no seu passado, a fotografia predomina o preto e branco. Já quando o cara começa a recordar algo, a foto fica em sépia, tons amarelados, como se as imagens fossem avivando-se na mente de Jack.   

Por fim, é notório que o filme sofre problemas de ritmo em certos momentos – devido as diversas reviravoltas – ao ponto de não aproveitar bem os personagens coadjuvantes -mantendo o foco apenas no trio principal –, contudo, a direção de Kosinski mostra-se muito mais madura do que na sua estreia, basta perceber a busca pela sensibilidade nas cenas mais emocionantes ao inserir músicas de Led Zeppelin; ao carregar de simbolismo a cena em que Jack entrega uma rosa, regada todo dia em meio à poeira deixada pelas guerra nuclear, como um fio de esperança. Enfim, o diretor parece ter aprendido que sua estética deve servir à história, e não ao contrário. E o resultado dessa mudança é um trabalho igualmente belo, mas dessa vez com um conteúdo mais burilado em um roteiro que se utiliza de elementos referenciais e não comparativos. Afinal, nada se cria tudo se transforma.     


Comentários
2 Comentários

2 comments:

  1. Concordo com o autor do texto nada se cria tudo se transforma e se for com qualidade fica ainda melhor, ainda não assistir mas pelo texto parece se muito bom

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