quinta-feira, 19 de abril de 2012

E A RAPADURA DE OURO DA SEMANA VAI PARA...


A encantadora utopia de Frank Capra.
Rafael Morais
19 de abril de 2012.


É algo cada vez mais raro um filme conseguir "sobreviver" durante tanto tempo. Em época de besteiróis enlatados, uma obra norte-americana como A Felicidade Não se Compra, nos remete à época de ouro do cinema estadunidense, tornando-a sempre bem-vinda e atemporal. 

Dono de um roteiro visionário escrito a três mãos (Albert Hackett, Frances Goodrich e o próprio Frank Capra), o longa trata de maneira singela, e ao mesmo tempo forte, temas e conceitos humanos bem delicados como compaixão, solidariedade, honestidade, lealdade, sem ser piegas ou chato. O fato de um filme de 1946 falar sobre a ganância humana e os valores da vida, e ver que tais temáticas se mantém até hoje, e o pior, numa escala ainda alarmante. 

A história narra a trajetória de George Bailey (James Stewart, de Janela Indiscreta e Um Corpo Que Cai), um jovem que sonha em crescer na vida, estudar fora, ser um grande homem e ajudar o mundo a ser melhor. Desde pequeno, sempre fez boas ações, assim como o seu pai, como quando impediu que o farmacêutico – e também seu chefe – que trocasse o remédio de uma criança por veneno acidentalmente, além de salvar a vida de seu irmão mais novo, em um acidente, vindo a perder a audição de um dos seus ouvidos. 

George nunca teve intenção de manter a firma de seu pai, um banco bem "diferente" (ano passado os bancos nacionais lucraram nada mais que  R$ 49,4 bilhões) dos padrões: era feito idealizado para ajudar as pessoas que necessitavam de dinheiro para melhorar sua vida, construir suas residências, mas sem cobrar os tradicionais e exorbitantes juros no pagamento, e quando ele era feito. O generoso homem sempre quis mais que isso, e a história do filme nos apresenta diversas cenas que demonstram esse lado benéfico de George.

Em certo momento de sua vida, George pensa em se suicidar saltando de uma ponte, em razão das maquinações de Henry Potter (Lionel Barrymore), o homem mais rico da região. É nesse momento que Clarence (Henry Travers), um anjo que espera há 220 anos para ganhar asas, é mandado a Terra, para tentar fazer George mudar de ideia, demonstrando sua importância através de "flashbacks" de como seria a vida sem a existência dele. 

E é nesse ponto que o filme aproveita para pôr as cartas na mesa e apresentar os seus temas: o que é melhor, ter amigos ou se aproveitar das pessoas faturando em cima de seus sonhos? Ser leal aos seus valores ou prostituí-los? Enfim, uma coisa é certa: é bem mais fácil ser uma pessoa ruim do que boa, devido as facilidades de trilhar os caminhos errados, cheios de tentação e desprovidos de responsabilidade. 

É impressionante a forma como o genial Capra consegue achar soluções inteligentes e orgânicas para os limitados efeitos especiais da época, quando, por exemplo, Deus conversa com alguns anjos para escalar qual será o escolhido para salvar a vida do pobre George. Inclusive, ao escolher Clarence, um anjo sem asas, o diretor e roteirista deixa claro que os conflitos são inerentes a todos naquele filme, sem exceções. E isso faz com que nos aproximemos ainda mais dos personagens. Fantástico!

Vale fazer referência a tocante sequência em que Mary Bailey (Donna Reed) arma uma surpresa para o seu amado, em plena lua-de-mel, cena essa, de uma sutileza e elegância sem igual. É de arrepiar!       
     
Em um mundo capitalista dos anos 40, pós-crise de 1929 e o início da reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, devíamos refletir em pleno século XXI sobre o que Capra queria nos dizer naquele tempo, sobre os verdadeiros valores da vida. Vale a pena conferir essa obra-prima.




"Lembre-se que ninguém é um fracasso se tem amigos".


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