Spielberg inspirado é sinônimo de obra-prima.
Rafael Morais
07 de fevereiro de 2012.
Quando se consegue atingir um nível profissional cujo parâmetro de modelo é você mesmo, tenha a certeza que estará no topo. E é assim que Steven Spielberg se encontra, o cineasta é auto-referência em suas obras. O que seria, então, aquele topete de Tintim debaixo d'água, ao se aproximar de suas' presas", em um dado momento do filme, senão uma referência a Tubarão, um dos seus maiores clássicos? Vamos combinar, ele pode!
Em As Aventuras de Tintim, Spielberg relembra porque é um dos diretores mais queridinhos de Hollywood e um dos mais aclamados pela crítica, haja vista as recentes opiniões negativas relacionadas aos seus últimos filmes (Cavalo de Guerra, por exemplo). Nessa nova empreitada, o cineasta demonstra paixão e carinho para com o intrépido e destemido jornalista, saído da criação de Hergé. Vale lembrar, que o diretor passou a se interessar pelo personagem quando um jornal francês comparou, na década de 1980, seu Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida à série estrelada pelo repórter Tintim e seu fiel cachorro, Milu.
Aliás, muitas vezes, principalmente até a metade do filme, tive a sensação que o filme poderia se chamar "As Aventuras de Milu", pois o que seria do jovem jornalista se não fosse o seu cão? Chegou a ser um tanto exagerada a maneira como Tintim dependia do seu cachorro, pondo em xeque a importância das ações do jovem aventureiro no contexto do filme, demorando, até certo ponto, a se impôr como o protagonista.
Superado esse detalhe, Spielberg e o seu mais novo parceiro, Peter Jackson (ninguém menos), parecem ter seguido a seguinte fórmula: uma adição de fidelidade à literatura, temperada com uma aventura ininterrupta, bem-humorada e tensa (acredite). A homenagem ao desenho original é notória e logo na primeira sequência o jovem Tintim "computadorizado" (captado por movimentos e sincronizado através de "oxigênio" virtual) se depara com uma caricatura daquele seu outro "eu", dos desenhos da nossa infância, topete feito de tinta, com traços mais humanos e marcantes do que o atual. Surreal!
A trama faz uma fusão de duas HQ's de Tintim: O Caranguejo das Tenazes de Ouro e O Segredo do Licorne. Nela, depois do primeiro encontro de Tintim (Jamie Bell) e o Capitão Haddock (Andy Serkis), começa a caçada ao tesouro do pirata Rackham, o Terrível, uma perigosa jornada que reacenderá rivalidades ancestrais. O ponto de partida é excelente para apresentar os personagens principais e estabelecer o filme como uma história de origem, evitando os clichês do gênero.
Por outro lado, quem curte efeitos 3D daqueles de jogar objetos na plateia (de maneira despropositada) não compre o ingresso mais caro, veja em 2D mesmo. Mas se você for como eu, ou seja, aprecia a terceira dimensão analisando a profundidade, a organicidade de sua utilização, de acordo com a história, nesse caso, o 3D funciona perfeitamente bem. A profundidade é bem explorada tanto em cenas de beleza cotidiana (o convés empoeirado, a pracinha, a exploração geográfica do ambiente) como nas grandes sequências de ação (a exemplo da luta de "espadas" do clímax e os embates entre os navios).
Realmente, a inspiração e empolgação de Spielberg e Jackson por estarem imbuídos nesse projeto, são visíveis. E quando se faz com amor, tudo fica melhor. Repare, por exemplo, na abertura do filme, quão delicada, inteligente e cinematográfica ela o é. Inclusive, esse tipo de sequência de apresentação parece estar na moda, lembre da abertura de Missão Impossível 4, Os Homens que não amavam as mulheres, entre outros, que se utilizam dessa linguagem inicial para contar, mais ou menos, como será a história.
Mas o que faz realmente um filme ser diferente dos demais? Acredito que tudo está nos pequenos detalhes, e em Tintim, a passagem de uma cena para outra, a transição de um ambiente para outro é realizado de forma mágica por Spielberg. A câmera ao percorrer o interior de uma bolha, transmuta-se para o próximo cenário; uma simples poça d'água no chão da rua pode fazer menção a uma embarcação em alto-mar; inter-relacionar diversas locações de modo perspicaz e genial, dependendo do enredo, não é para qualquer um.
Adorei a postagem, é um filme incrível!!
ResponderExcluirPrimeiro porque relembra a infância e segundo
pelo uso com de alta tecnologia nas mudanças de cenários(uma excelente interligação de cenas).
Um filme perfeito!!!
Recomendo demais principalmente quem assistiu aos desenhos!!!