terça-feira, 15 de julho de 2025

Bailarina - Do Universo de John Wick


Por Isa Barretto

De um bom filme de ação, esperamos mais do que tiros bem encaixados ou coreografias milimétricas. Esperamos tensão, urgência, personagens em conflito. Esperamos que a adrenalina venha com peso emocional. Que cada golpe carregue motivo. Que a fúria tenha história.

A boa ação, afinal, não é feita só de movimento — é feita de sentido.

Em 'Bailarina', de Len Wiseman, Ana de Armas entrega presença, domínio corporal e uma estética irrepreensível. Cada cena é pensada para impactar visualmente. A atmosfera é elegante, o ritmo é calculado. Mas ainda assim, algo fundamental não acontece: a conexão.

A trama acompanha Eve Macarro, uma jovem criada em uma escola secreta de assassinas após testemunhar o assassinato de seu pai. Anos depois, ela retorna para se vingar dos responsáveis, seguindo pistas que a levam ao submundo onde nada é o que parece. A premissa é simples e promissora — mas o desenvolvimento, limitado.

Os poucos diálogos que surgem não constroem pontes — pelo contrário, esvaziam ainda mais os vínculos. Em vez de aprofundar relações ou revelar camadas, parecem inseridos apenas para preencher o silêncio, sem deixar marcas nem criar conexão real.

Sem trocas entre os personagens, sem pausas que respirem emoção, a trajetória da protagonista se torna um deslocamento mecânico. A dor existe, mas não se compartilha. O vazio não é poético — é apenas vazio.

Mesmo com a presença de Keanu Reeves, o filme não ganha densidade. Ele aparece como figura de reforço, mas a trama não se beneficia desse encontro. Falta história entre eles, falta tensão real. A referência ao universo de ação ao qual o longa pertence está lá, mas não vibra.

É como se o filme soubesse de onde vem — mas não soubesse para onde está indo.

Algumas escolhas de roteiro também comprometem a imersão. Na sequência inicial, durante a invasão de sua casa, apenas dois atiradores armados na defesa. O pai, sem reforços, enfrenta-os sozinho. E quando finalmente ele esconde a filha, volta à luta, sem qualquer estratégia ou chance real de defesa.

O conflito deveria instaurar o trauma que move toda a narrativa... mas a encenação soa apressada. A ameaça parece improvisada, quase simbólica. Em vez de tensão, o que se sente é o peso de uma oportunidade dramática mal explorada.

Len Wiseman, conhecido por 'Anjos da Noite' e 'Duro de Matar 4.0', tem um estilo marcado por ação estilizada e ambientações sombrias. Em 'Bailarina', seu traço visual está presente, mas sem o suporte emocional que poderia transformar imagens em experiências.

O filme impressiona pelo visual, mas não sustenta o que promete.

O longa escolhe a superfície. E se contenta com a estética.

Mas cinema de ação de verdade é mais do que impacto visual: é carne, é nervo, é história em combustão.

E após quase duas horas de tudo isso, a pergunta que não quer calar: o que faz um filme de ação ser inesquecível? A cena perfeita ou o motivo por trás dela?