quarta-feira, 30 de julho de 2025

Dica Disney Plus - OPERAÇÃO VINGANÇA


Por Isa Barretto

'Operação Vingança' é um thriller de espionagem intenso e surpreendente que mergulha o espectador em uma trama movida por dor, vingança e desespero. Protagonizado por Rami Malek, o filme oferece uma abordagem pouco convencional ao colocar no centro da ação um homem que, diferente dos espiões tradicionais, não é treinado para matar, mas é perigosamente motivado pela perda.

Charles Heller é um criptógrafo da CIA — um profissional analítico, acostumado a decifrar códigos em segurança, longe da linha de frente. Mas quando uma tragédia pessoal abala profundamente sua vida, Heller vê seu mundo desmoronar. Diante da inércia e da frieza institucional, ele se vê consumido por frustração e indignação. Em um gesto desesperado, decide confrontar o próprio sistema em que trabalha, exigindo ser incluído em uma operação de alto risco — mesmo sem o devido treinamento, apenas com sua determinação e inteligência. A partir daí, um civil movido pela emoção passa a operar em um universo onde tudo exige sangue-frio e cálculo — um peixe fora d’água em um mar repleto de tubarões.

Rami Malek entrega uma atuação contida e poderosa. Ele interpreta Heller com a tensão interna de alguém que não nasceu para matar, mas se vê forçado a cruzar limites morais em nome de uma justiça pessoal. Sua performance é carregada de angústia e autenticidade, sem o glamour dos filmes de ação típicos — ele erra, hesita, sofre. E isso é o que torna tudo ainda mais crível e envolvente.

Rachel Brosnahan tem uma participação breve, mas significativa, como a esposa de Heller — sua presença é o fio emocional que impulsiona toda a trajetória do protagonista. Mesmo com pouco tempo em cena, Brosnahan entrega uma atuação sensível, que marca profundamente o desenvolvimento do personagem principal. Já Laurence Fishburne interpreta um veterano da CIA, responsável por  supervisionar a missão envolvendo Heller. Com sua habitual presença imponente, Fishburne representa o peso das decisões institucionais, funcionando como âncora de racionalidade em meio à impulsividade crescente do protagonista. Sua atuação carrega autoridade, mas também um senso de pragmatismo que tensiona a relação entre ética, dever e consequência.

Sob a direção de James Hawes, conhecido por seu trabalho em séries marcantes como Black Mirror e Doctor Who, o filme mergulha em uma atmosfera densa e inquietante. Com uma fotografia de tons frios e enquadramentos que reforçam a sensação de confinamento emocional, a narrativa visual transmite tensão mesmo nos momentos de silêncio. A trilha sonora discreta, quase imperceptível em alguns trechos, intensifica o clima de suspense, instabilidade e vigilância constante.

'Operação Vingança – The Amateur' vai além da ação. Ele questiona as estruturas de poder, critica a letargia institucional e nos coloca diante da pergunta: até onde alguém pode ir quando a justiça falha? Heller não é um herói tradicional. Ele é um homem quebrado po dentro, tentando fazer justiça com as próprias mãos, mesmo sem saber exatamente como. E é justamente essa imperfeição que torna o filme tão humano.

Com performances intensas, uma direção precisa e uma narrativa que entrelaça emoção e intriga com equilíbrio raro, o filme se destaca como um dos thrillers mais envolventes do ano e já está disponível na Disney Plus. É o tipo de obra que não termina com os créditos — ela deixa no ar aquela inquietação típica das boas histórias: em quem confiar quando todos têm algo a esconder?

quinta-feira, 17 de julho de 2025

PARALELOS: 'Click' e 'Questão de Tempo'


Por Isa Barretto

A relação que temos com o tempo é, ao mesmo tempo, fascinante e inquietante. Há dias em que gostaríamos de acelerá-lo, outros em que tudo o que queremos é que ele pare por um instante. Essa tentativa de controlar o tempo — ou pelo menos entendê-lo — é o fio condutor de dois filmes muito diferentes em estilo, mas profundamente conectados em essência: 'Click' (2006), estrelado por Adam Sandler, e 'Questão de Tempo' (About Time, 2013), com Domhnall Gleeson e Rachel McAdams.

Em 'Click', Michael Newman (Adam Sandler) recebe um controle remoto universal que, além de mudar os canais da TV, permite pausar, avançar e rebobinar momentos da sua própria vida. A princípio, parece resolver todos os seus problemas: ele pula discussões com a esposa, doenças, dias difíceis no trabalho e avança direto para o que considera mais importante. Mas, ao deixar que o controle tome decisões automáticas com base em suas escolhas anteriores, Michael começa a pular justamente os momentos que não se repetem — aniversários dos filhos, conversas com o pai, pequenas rotinas que formam a memória afetiva de uma vida. Ao tentar manipular o tempo, ele se distancia da própria existência.

Já em 'Questão de Tempo', Tim (Domhnall Gleeson) descobre que os homens de sua família têm o dom de voltar no tempo, podendo revisitar e alterar momentos passados. Diferente de Michael, ele não busca atalhos para o sucesso, mas sim reviver momentos cotidianos com mais cuidado. Ao longo do filme, ele aprende que o verdadeiro poder não está em corrigir o passado, mas em aproveitar melhor o presente. E, ao contrário de Michael, que tenta acelerar o tempo para chegar a algum lugar, Tim opta por desacelerar para saborear onde está. Seu pai, interpretado por Bill Nighy, o conduz nesse entendimento com uma delicadeza que torna o filme ainda mais reflexivo.

Ambos os protagonistas têm em mãos um tipo de controle — um literal, outro mental — e ambos acreditam que dominar o tempo é uma maneira de viver melhor. No entanto, o que descobrem ao longo da jornada é que, ao tentar controlar o tempo, correm o risco de perder o que ele tem de mais precioso: a presença. 'Click' mostra a consequência de viver no piloto automático; 'Questão de Tempo' revela a beleza de viver com intenção.

No fundo, esses dois filmes nos lembram que o tempo não é algo a ser vencido, e sim compreendido. Que o valor da vida está nos instantes mais simples e nos encontros que não podem ser programados ou repetidos. Talvez a verdadeira sabedoria esteja justamente em viver por inteiro o agora — porque, no fim das contas, por mais que a gente tente, o tempo nunca está sob nosso controle.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Bailarina - Do Universo de John Wick


Por Isa Barretto

De um bom filme de ação, esperamos mais do que tiros bem encaixados ou coreografias milimétricas. Esperamos tensão, urgência, personagens em conflito. Esperamos que a adrenalina venha com peso emocional. Que cada golpe carregue motivo. Que a fúria tenha história.

A boa ação, afinal, não é feita só de movimento — é feita de sentido.

Em 'Bailarina', de Len Wiseman, Ana de Armas entrega presença, domínio corporal e uma estética irrepreensível. Cada cena é pensada para impactar visualmente. A atmosfera é elegante, o ritmo é calculado. Mas ainda assim, algo fundamental não acontece: a conexão.

A trama acompanha Eve Macarro, uma jovem criada em uma escola secreta de assassinas após testemunhar o assassinato de seu pai. Anos depois, ela retorna para se vingar dos responsáveis, seguindo pistas que a levam ao submundo onde nada é o que parece. A premissa é simples e promissora — mas o desenvolvimento, limitado.

Os poucos diálogos que surgem não constroem pontes — pelo contrário, esvaziam ainda mais os vínculos. Em vez de aprofundar relações ou revelar camadas, parecem inseridos apenas para preencher o silêncio, sem deixar marcas nem criar conexão real.

Sem trocas entre os personagens, sem pausas que respirem emoção, a trajetória da protagonista se torna um deslocamento mecânico. A dor existe, mas não se compartilha. O vazio não é poético — é apenas vazio.

Mesmo com a presença de Keanu Reeves, o filme não ganha densidade. Ele aparece como figura de reforço, mas a trama não se beneficia desse encontro. Falta história entre eles, falta tensão real. A referência ao universo de ação ao qual o longa pertence está lá, mas não vibra.

É como se o filme soubesse de onde vem — mas não soubesse para onde está indo.

Algumas escolhas de roteiro também comprometem a imersão. Na sequência inicial, durante a invasão de sua casa, apenas dois atiradores armados na defesa. O pai, sem reforços, enfrenta-os sozinho. E quando finalmente ele esconde a filha, volta à luta, sem qualquer estratégia ou chance real de defesa.

O conflito deveria instaurar o trauma que move toda a narrativa... mas a encenação soa apressada. A ameaça parece improvisada, quase simbólica. Em vez de tensão, o que se sente é o peso de uma oportunidade dramática mal explorada.

Len Wiseman, conhecido por 'Anjos da Noite' e 'Duro de Matar 4.0', tem um estilo marcado por ação estilizada e ambientações sombrias. Em 'Bailarina', seu traço visual está presente, mas sem o suporte emocional que poderia transformar imagens em experiências.

O filme impressiona pelo visual, mas não sustenta o que promete.

O longa escolhe a superfície. E se contenta com a estética.

Mas cinema de ação de verdade é mais do que impacto visual: é carne, é nervo, é história em combustão.

E após quase duas horas de tudo isso, a pergunta que não quer calar: o que faz um filme de ação ser inesquecível? A cena perfeita ou o motivo por trás dela?