O problema é que o roteiro traz momentos previsíveis do que
ocorreu com o palhaço após sua prisão. Maus tratos, tortura e as mais diversas
situações complicadas que seria “normal” um prisioneiro passar em Gotham City,
ou melhor, no presídio Arkham.
E sim, aqui reside outra problemática desse projeto que eu já
havia identificado desde o antecessor: não havia a menor necessidade desse
filme se chamar ‘Coringa’ e se passar no universo da DC. Funcionaria até melhor
se fosse a mesma história dramática, violenta e recheada de suspense de um
comediante fracassado e doente, que vai tomando ódio por uma sociedade que o
oprime cada vez mais, do que atrelar isso ao vilão clássico do Batman.
Assim, a sequência apela para a violência gráfica no afã de
chocar o público gratuitamente, como se dissesse: “olhem, é o mesmo Joker de
2019 que vocês amaram!”. Aqui, para justificar a transição para o gênero
musical, os momentos de insanidade se transmutam em números musicais insossos e
deslocados.
As canções me tiraram muito do clímax em momentos
imprescindíveis capazes de nos conectar com os protagonistas. Bem na “hora H”
entrava uma música cantada pelo nosso vilão (que querem à fina força transformar
em herói ou anti-herói), ou pelo seu interesse amoroso. Bem no ponto-chave do
diálogo, o script enfiava um número musical. “No god, please nooo!!”. E lá para
as tantas, no terceiro ato, o próprio Coringa fala pra Arlequina, quase como se
falasse pelo público: “não, não canta mais! Não quero mais cantar nem ouvir você
cantar!”. Constrangedor!
Joaquin Phoenix acerta de novo e entrega o que se espera dele
na pele, e sobretudo no osso, de Arthur Fleck. O ator oscarizado mantém seu
nível de atuação imersiva. Contudo, o seu personagem é vítima de um roteiro
perdido que parece não saber como avançar sua história de maneira minimamente
relevante.
Já a aparição de Harley Quinn, vivida por Lady Gaga, é promissora (lembro que nos trailers eu achei impactante), mas no resultado final carece de química com o seu “pudinzinho”. Afinal, treino é treino e jogo é jogo. Por sinal, fico me perguntando: será que a escolha da cantora pro cast foi determinante para a drástica mudança no gênero do filme, já que sendo um musical ela poderia agregar muito mais?! Acabou que nem fez tanta diferença assim.
Por seu turno, a direção de Todd Phillips até se esforça para,
tecnicamente e visualmente, entregar algo estilizado e grandioso. No entanto, o
tédio toma conta e o arrastado da narrativa somado às músicas interrompe o ritmo
do filme. É uma quebra de expectativa e de fluxo, do ponto de vista negativo,
que eu realmente não esperava.
A confusão é tamanha no tom que é notório quando se coloca em perspectiva a reflexão sobre a marginalização social e os efeitos da falta de empatia da sociedade na obra de 2019; enquanto que nesta continuação o propósito parece perdido entre tentar ser um romance disfuncional, um musical bizarro ou um suspense psicológico. O resultado é um filme que se perde em seu próprio delírio a três, colocando Todd Phillips como o principal responsável (afinal ele tinha carta branca) pela mudança brusca de um filme para o outro. Palhaçada! HaHaHa
*Avaliação: 1,5 Pipocas + 2,5 rapaduras = 4,0.