Cineasta é assassinado em casa pelo próprio filho.
Fonte: cinemaemcena
O cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, o mais talentoso diretor do nosso cinema nas últimas décadas, foi encontrado morto em sua casa na Zona Sul do Rio de Janeiro, neste domingo. Ele e sua esposa, Maria das Dores Coutinho, de 62 anos, foram atacados pelo filho, Daniel Coutinho, de 41 anos, que teria sofrido um surto e feriu os pais com uma faca.
De acordo com informações da Polícia Civil, Daniel está internado sob custódia no Hospital Miguel Couto, já que teria tentado o suicídio após esfaquear os pais. Coutinho já estava sem vida quando a polícia chegou ao apartamento. Maria das Dores está internada em estado grave.
Nascido em São Paulo, em 1933, Coutinho é mais conhecido como documentarista, mas iniciou sua carreira cinematográfica na ficção dirigindo um segmento da coprodução ABC do Amor (1967), com Rodolfo Kuhn e Helvio Soto. Logo em seguida, dirigiu o longa O Homem que Comprou o Mundo (1968), que tem no elenco Marília Pêra, atriz com quem ele mais tarde trabalharia em uma de suas obras-primas, Jogo de Cena (2007). O filme é uma fantástica reflexão do diretor sobre os limites entre realidade e ficção, verossimilhança e encenação, temática presente também em seu filme seguinte, Moscou (2009).
Coutinho ainda atuou no Cinema Novo como gerente de produção em Cinco Vezes Favela(1962) e roteirista em A Falecida (1965), de Leon Hirszman. Dirigiu ainda Faustão (1970) antes de se dedicar plenamente ao documentário. Fez para o Globo Repórter, da Rede Globo, documentários como Seis Dias de Ouricuri (1976), Teodorico, o Imperador do Sertão (1978) eExu, uma Tragédia Sertaneja (1979). Era a transição que o levaria a dirigir os premiados documentários que consagraram seu estilo único de entrevistas, aparecendo em cena enquanto seus personagens falavam. Extraía o humor das conversas, mas principalmente conseguia fazer transbordar a emoção nas pessoas, na tela e na plateia. Foi assim em Boca de Lixo (1993), Santo Forte (1999), Babilônia 2000 (1999), Edifício Master(2002), Peões (2004), O Fim e o Princípio (2006) e As Canções (2011).
Mas antes mesmo de realizar todos esses filmes, Coutinho já tinha marcado seu nome na história de nosso cinema com Cabra Marcado Para Morrer (1985). Esse clássico nasceu da realização de outro projeto, um filme sobre o líder campesino João Pedro Teixeira, assassinado em 1962, na Paraíba. As filmagens começaram e foram interrompidas em 1964, em razão do Golpe Militar. Dezessete anos depois, Coutinho retomou os trabalhos entrevistando os companheiros de Teixeira e reencontrando a viúva dele, Elizabeth Teixeira, que interpretaria ela mesma no filme original e desde então vivia na clandestinidade. Em 2012, o filme foi restaurado e relançado nos cinemas.
No ano passado, Coutinho foi convidado a se tornar membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ele também foi homenageado pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com uma retrospectiva de sua obra. Foi também na Mostra, em 2010, que Coutinho exibiu um de seus últimos filmes, Um Dia Na Vida. Trata-se de um trabalho de montagem de trechos de programas televisivos transmitidos no Brasil durante um período de 24 horas. O filme teve uma exibição surpresa na Mostra e nunca foi lançado comercialmente, devido aos direitos autorais das imagens utilizadas.
As informações sobre o velório e sepultamento de Eduardo Coutinho não foram divulgadas até o momento.